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Sem favoritos à Palma de Ouro, Festival de Cannes chega ao fim em clima de suspense

28/05/2022 09h13

O suspense vai durar até o último momento no Festival de Cannes. Despois da exibição dos 21 longas-metragens na competição, nenhum filme se impõe como favorito à Palma de Ouro que será anunciada na noite deste sábado (28) pelo júri presidido pelo ator francês Vincent Lindon.

A falta de unanimidade sobre o melhor filme em Cannes é confirmada pela tabela realizada pela revista especializada "Le Film Français", com a opinião de 15 críticos que cobrem o festival. O longa que aparece com mais indicações ao cobiçado prêmio é "Armaggedon Time", mas a obra autobiográfica do americano James Gray, produzida pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, teve apenas cinco votos, quase empatado com os outros mais citados: "A Mulher de Tchaikovsky", do cineasta russo dissidente Kirill Serebrennikov; "EO", do veterano cineasta polonês Jerzy Skolimowski, "Pacification", do catalão Albert Serra, e "Close" do jovem diretor belga Lukas Dhont.

A RFI também fez uma pequena enquete com produtores e jornalistas brasileiros presentes no festival e confirma a falta de favoritos. A produtora Sara Silveira se emocionou com "EO", em que Skolimowski se inspirou em um filme francês de 1966 para contar a vida e a morte de um asno. "O mundo está tão complicado, acamado, que conversar com os animais pode nos dar uma esperança", indica Sara Silveira.

O cineasta, jornalista e crítico Eduardo Valente prefere o longa de James Gray. "O filme tem uma preocupação muito clara de ir para os anos 1980 para ajudar a falar de hoje. (...) Me parece investigar de maneira profunda como a gente chegou onde a gente está hoje, principalmente nos Estados Unidos, no caso dele, mas no mundo", justifica.

O jovem jornalista Guilherme Jacobs, que realizou o sonho de participar do Festival de Cannes pela primeira vez, aposta no iraniano "Leila's Brothers" (Leila e seus irmãos), de Saeed Roustaee. "Vai ser uma grande iniciativa para o Leila's Brothers para a Palma de Ouro. Tem alguns outros que até considero como merecedores, como o sueco 'Triângulo da Tristeza', de Ruben Östlund, ou 'Decision to Leave', do coreano Park Chan-wook, mas o iraniano é fantástico. Fala de assuntos contemporâneos com um olhar perspicaz, muito afiado. Analisa as causas que dificultam sair da pobreza. Se fosse chutar, chutaria nele", aposta Guilherme Jacobs.

Falta de consenso

Para Eduardo Valente, que vem a Cannes há 20 anos, a faltaum consenso sobre os filmes explica essa disputa acirrada. "A gente teve alguns filmes que dividiram muito opiniões, pessoas que gostaram muito e pessoas que detestaram. Isso é mais difícil para o júri premiar. Os filmes premiados geralmente vão um pouco no meio do caminho para evitar essas paixões extremadas. Não teve filmes consensuais e os que foram consensuais foram com um pouco menos de entusiasmo", acredita Eduardo Valente que também trabalha para o Festival de Berlim e o Festival Olhar de Cinema de Curitiba.

Ele acha que essa foi uma seleção de filmes importantes, mas a safra Cannes 2022 não foi das melhores. "Teve uns bons filmes entre os 21 selecionados. Houve um esforço consciente de trazer uma quantidade grande de estreantes. Era uma reclamação constante que a competição de Cannes girava em torno dos mesmos nomes de diretores muito consagrados. Este ano tem isso também, mas está mais equânime", explica. Um pouco menos da metade dos diretores da seleção concorrem pela primeira vez à Palma de Ouro. Esse equilíbrio da uma "sensação de novidade".

Em relação aos conteúdos tratados, Eduardo Valente sentiu falta nas telas de Cannes de filmes que abordassem a pandemia. "Tenho a sensação que o Festival tomou a decisão consciente de ignorar a Covid, de vender uma ideia de que o retorno do cinema à normalidade é possível ignorando tudo o que aconteceu nos últimos dois anos. Eu não acho que a gente lida com os traumas os ignorando."

Seleção variada

Já Guilherme Jacobs, que escreve para o site Chippu, considera a seleção deste 75° Festival de Cannes variada, com filmes para todos os gostos, e uma das melhores dos últimos tempos. "Eu talvez esteja sendo suspeito para falar porque é a primeira vez que estou aqui, mas estou achando uma das melhores seleções dos anos recentes -talvez por conta dos dois anos de pandemia e, agora, o Festival de Cannes retomado do tamanho que ele gosta de ser", afirma.

Guilherme Jacobs ressalta a participação tanto de "diretores veteranos e novatos, mulheres e homens de todo o mudo, que trouxeram filmes muitos bons". Ele inclui nessa leva os filmes fora da competição, "Top Gun: Maverick" e "Elvis" que contribuíram para agradar "todo tipo de cinéfilo".

Além da Palma de Ouro, Cannes distribui mais oito prêmios e com certeza haverá surpresas, como no ano passado com a premiação do surpreendente "Titane", da francesa de Julia Ducournau.