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França tem sétima onda da Covid-19 com mutação de variante da ômicron

subvariante BA.2, ômicron, covid-19, coronavírus - iStock
subvariante BA.2, ômicron, covid-19, coronavírus Imagem: iStock

24/06/2022 15h47Atualizada em 24/06/2022 15h59

O verão começou na França com forte calor e a sétima onda da Covid-19. A marca simbólica de 100 mil casos positivos detectados em um único dia foi novamente atingida. No intervalo de sete dias, 58 mil pessoas foram contaminadas diariamente, o dobro do registrado no início do mês. As infecções estão em alta em todas as regiões do país e faixas etárias. O rápido aumento de casos é provocado por subvariantes da ômicron.

A sétima onda da Covid-19 é causada por duas cepas semelhantes BA.4 e BA.5, derivadas da linhagem BA.2 da ômicron, que provocou os surtos epidêmicos de janeiro e abril na França. Os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que a BA.5 está se tornando predominante, presente em 64% dos resultados positivos. As filas para testes estão de volta nos laboratórios e nas tendas instaladas nas ruas.

A França ainda está longe da média diária de 140 mil casos registrados em março ou dos 350 mil do final de janeiro, em pleno inverno. No entanto, essas subvariantes carregam mutações que preocupam os médicos. Uma delas, a 452R, que estava presente na delta - mas não na ômicron BA.2 - facilita a transmissão do vírus. A outra mutação, denominada 486V, pouco conhecida, parece escapar aos anticorpos adquiridos pela vacinação ou por uma infecção recente de Covid-19, segundo Samuel Alizon, diretor de estudos no Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) e Mircea Sofonea, professor de epidemiologia na Universidade de Montpellier (sul).

De acordo com os pesquisadores, além de resistir aos anticorpos, o impacto da BA-4 e da BA-5 no sistema respiratório é um pouco maior do que as infecções do início do ano. Um estudo da Universidade de Tóquio mostrou que essas subvariantes favorecem a infecção das células pulmonares mais do que tecidos das vias respiratórias superiores, provocando no organismo sintomas semelhantes aos da delta e da alfa. Cansaço, tosse, febre e dor de cabeça são os sintomas mais frequentes e, em algumas pessoas, têm aparecido distúrbios digestivos.

Existe um histórico de observação dessas duas subvariantes, porque elas atingiram Portugal em maio e tinham surgido na África do Sul desde dezembro do ano passado. Porém, na França, no Reino Unido e na Itália os casos têm aumentado rapidamente. E falta aos médicos entender com precisão até que ponto essa mutação 486V consegue contornar o sistema imunitário e provocar formas graves da doença.

Hospitalizações em alta

O número de hospitalizações aumentou nos últimos dez dias, principalmente entre idosos com mais de 80 anos. A média de internações diárias por Covid-19 estava em 400 casos na primeira semana de junho e passou para 635 pacientes em 22 de junho.

Atualmente, 14.500 pessoas estão hospitalizadas com Covid-19 em todo o país. A maioria recebe tratamento para aliviar sintomas relativamente benignos, sem precisar de cuidados intensivos. Globalmente, as internações em UTI continuam recuando na França, mas a calmaria pode ser temporária. O receio dos médicos é que esse quadro se agrave, se o surto epidêmico não entrar em uma trajetória de queda, como aconteceu em Portugal.

Em entrevistas a programas de rádio e TV, especialistas têm aconselhado os franceses a usar novamente máscaras em locais fechados, principalmente no transporte público. Diante do aumento rápido de casos, os médicos estão irritados com a falta de reação do governo. A ministra da Saúde, Brigitte Bourguignon, disse que por enquanto não era necessário restabelecer medidas de restrição drásticas. O uso de máscaras, por exemplo, só continua obrigatório em hospitais, farmácias e casas de repouso.

Junho, julho e agosto são meses de festivais e shows em todo o país. Nesta sexta-feira (24), a cantora brasileira Marisa Monte se apresenta na sala Pleyel, uma das mais prestigiosas de Paris, mas oficialmente todas as restrições estão suspensas. Os turistas voltaram em massa à capital e pouca gente parece se dar conta da existência da sétima onda da Covid-19.

Quarta dose insuficiente

A quarta dose da vacina contra a Covid-19 só é oferecida para pessoas com imunodeficiência, de qualquer idade, ou com mais 60 anos. Por enquanto, apenas 26,5% dos franceses da faixa etária de 60 a 79 anos tomaram a quarta dose do imunizante e 30,1% dos idosos acima de 80 anos.

Por isso, os especialistas temem ser pegos por um aumento repentino de internações nos hospitais, num momento em que a rede pública de saúde atravessa uma grave crise por falta de enfermeiros e plantonistas.

Entrada livre para turistas

Desde 14 de março, a França deixou de exigir passaporte vacinal. O certificado só é pedido no acesso a hospitais e casas de repouso.

Não há restrição para pessoas não vacinadas viajarem na França. Na Europa, quem não foi imunizado pode entrar na maioria dos países, exceto em Portugal e na Finlândia, que continuam a exigir um teste PCR negativo de menos de 72 horas de validade.