Topo

Brasil apresenta em Lisboa aplicativo de mutirões para reciclagem e limpeza dos rios e mares

28/06/2022 16h04

O ministério brasileiro do Meio Ambiente apresentou na Conferência dos Oceanos, que acontece em Lisboa até dia 1° de julho, o aplicativo de "Combate ao lixo no mar". O dispositivo propõe soluções simples e práticas que ajudam no processo de reciclagem de materiais sólidos e na criação de mutirões para limpeza das praias, mangues e florestas.

Adriana Niemeyer, correspondente da RFI em Lisboa

O aplicativo é a ferramenta digital de um programa que leva o mesmo nome, criado há três anos e que, desde então, já contou com a participação de mais de 30 mil voluntários em centenas de mutirões. O projeto apresentado em Lisboa durante o evento paralelo Amazon Blue ajuda a organizar e a divulgar ações e mutirões nos estados, para combate ao lixo nos rios e mares.

Durante a apresentação, o secretário de qualidade ambiental do ministério do Meio Ambiente, André França, disse que o projeto "parte de uma ideia simples, mas que tem apresentado enormes resultados". "Estive durante quatro horas escutando os vários oradores dos diversos países participantes aqui da conferência. Todos falaram sobre os problemas, mas nenhum apresentou uma solução prática para mitigar a poluição nos oceanos e a diminuição de plásticos", resumiu. "No Brasil, uma em cada quatro pessoas vive em zona ribeirinha. Sensibilizar esses habitantes e ajudá-los a reciclar materiais sólidos é essencial para a sobrevivência dos rios e mares, além da conscientização dos mais jovens", completou.

De acordo com o secretário, o ministério está trabalhando a partir do exemplo da reciclagem das latinhas de alumínio "que no Brasil são recicladas a 90%, já que também existe o fator de gerar uma renda extra aos catadores".

"Queremos que todos materiais a serem reciclados tenham um valor econômico porque, além de incentivar a recolher, contribui para uma renda extra a milhares de brasileiros", disse.

"O que percebi nesta reunião é que existe um grande esforço global, e incluir os menos favorecidos é fundamental", avaliou Marcos Bastos, professor de ocenografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "Toda iniciativa que tenha como objetivo final quem está na ponta como o 'catador' é extremamente pertinente", avaliou. Mas, segundo ele, "as medidas que estão sendo tomadas no Brasil em relação à limpeza do oceano também dependem das medidas tomadas por outros países".

Bitucas e filtros de cigarros em primeiro lugar

O secretário também salientou a importância de cadastrar todo o material recolhido nos mutirões para ser colocado num banco de dados e posteriormente estudado. "Este cruzamento de dados em cada região é muito importante para compreendermos qual deles é predominante e como devemos agir para sensibilizar a população sobre os problemas que esses materiais irão causar no ambiente próximo a eles", disse o representante do governo. "Surpreendentemente, nas últimas tabelas e gráficos publicados pelo ministério, as 'bitucas' e filtros de cigarros aparecem em primeiro lugar, seguidos das embalagens plásticas", aponta.

O projeto de limpeza dos mares brasileiros está sendo apoiado pela Alemanha, através da agência de cooperação GIZ, que tem doado cerca de € 8 milhões para o projeto Terra Mar até o ano de 2024, de acordo com a sua coordenadora Carola Kuklinski.

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, repetiu o mesmo discurso sobre o trabalho que vem sendo feito na área da reciclagem, durante o Forum Jurídico que aconteceu na Universidade de Direito de Lisboa na manhã desta terça-feira. Na sua intervenção, de pouco mais de três minutos na Conferência, ele anunciou também o plano de fechamento dos "lixões a céu aberto no Brasil, que vai desenvolver ainda mais a indústria da reciclagem, que é hoje um dos maiores desafios no setor".