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Patriotismo e propaganda marcam 25º aniversário do retorno de Hong Kong ao domínio chinês

30/06/2022 14h15

O presidente chinês Xi Jinping desembarcou nesta quinta-feira (30) em uma rara e bastante vigiada visita a Hong Kong, onde participa das comemorações do 25° aniversário do retorno da região para domínio de Pequim. A viagem acontece em um momento de tensão, após os protestos contra a influência chinesa no território.

Com informações de Stéphane Lagarde, em Pequim, e Florence de Changy, em Hong Kong

Acompanhado por sua esposa Peng Liyuan e pelo ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, Xi Jinping, que fez a viagem em um trem de grande velocidade, foi recebido na estação por estudantes com bandeiras e flores, dançarinos vestidos de leões e alguns jornalistas credenciados.

Os táxis, mas também a ruas de Hong Kong, foram decoradas com bandeiras chinesas, principalmente no caminho por onde passaram as autoridades políticas. Até as escolas foram solicitadas para este aniversário. Em alguns casos classes inteiras foram colocadas em quarentena em um hotel onde ensaiaram cantos patrióticos que seriam entoados diante das personalidades políticas que desembarcaram em Hong Kong para a celebração.

Os detalhes da viagem permaneceram em segredo e a visita provocou um grande esquema de segurança, para reprimir qualquer oposição pública ao regime comunista. Um policial foi colocado a cada dez metros nos arredores dos locais por onde o presidente chinês deveria passar.

Um forte dispositivo sanitário também foi implementado. As pessoas que se encontram com Xi durante a viagem, incluindo funcionários de alto escalão do Executivo, tiveram que limitar seus contatos sociais, fazer testes diários de PCR e entrar em um hotel de quarentena antes da visita.

Imprensa restrita

As autoridades também restringiram a cobertura da imprensa e impediram a presença de vários jornalistas nos eventos programados. A Associação de Jornalistas de Hong Kong expressou "profundo pesar" com os vetos e afirmou que as exigências de quarentena e testes de Covid-19 para os repórteres dificultavam a substituição dos profissionais.

Do lado chinês, a imprensa noticia as comemorações com muita pompa. A mídia mostra imagens de crianças cantando, orquestras e celebridades do cinema e da música mobilizadas para festejar a data.

A mídia oficial chinesa repercute as declarações de celebridades que comemoram o retorno da região à "pátria mãe". O ator Zheng Zhiwei, por exemplo, conta que chorou quando viu em seu passaporte, pela primeira vez, os ideogramas da palavra "China".

Aos 68 anos, Zhiwei é uma das raras personalidades públicas que apoiou a lei de segurança nacional imposta por Pequim. "Foi como um raio de luz nas horas mais sombrias", disse o ator, que foi recentemente nomeado diretor-adjunto do canal de televisão de Hong Kong TVB.

Outro nome conhecido do grande público, o cantor, ator e apresentador de televisão Wang Yibo, também contribuiu para os discursos pró-Pequim. Em uma canção intitulada "Stand Up", ele canta que "a China se ergueu, com os olhos voltados para as estrelas que decoram a bandeira nacional".  

Medo de protestos

Tradicionalmente, o aniversário da devolução, que aconteceu em 1º de julho de 1997, é marcado por manifestações pacíficas de dezenas de milhares de pessoas.

Mas as grandes aglomerações desapareceram de Hong Kong nos últimos anos devido à combinação das restrições sanitárias pela pandemia de coronavírus e à repressão orquestrada por autoridades locais e Pequim para reprimir qualquer oposição pública ao regime comunista.

Essa é a primeira viagem de Xi Jinping fora da China continental desde janeiro de 2020, quando começou a pandemia de Covid-19. E é também a primeira visita ao território desde a repressão violenta ao movimento pró-democracia.

"No período passado, Hong Kong passou por mais de um teste sério e superou mais de um risco e desafio. Depois das tempestades, Hong Kong renasceu das cinzas e emergiu com uma vitalidade robusta", declarou Xi ao desembarcar. "Os fatos demonstraram que o princípio 'um país, dois sistemas' está repleto de vitalidade", acrescentou o presidente chinês.

Xi Jinping retornou à China continental para passar a noite e deve voltar para Hong Kong na manhã desta sexta-feira, onde assiste à posse do ex-chefe de segurança John Lee, que supervisionou a repressão ao movimento pró-democracia em Hong Kong e assume como novo chefe do governo no lugar de Carrie Lam partir de 1° de julho. Mas o programa pode mudar, pois o tufão Chaba, que se aproxima da região, já fez as autoridades acionarem os primeiros alertas, que podem atrapalhar o aniversário.