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Com Anitta, Festival de Jazz de Montreux vira baile funk

05/07/2022 09h27

De Honório Gurgel para Montreux. Do subúrbio do Rio para um dos maiores palcos da música, a cantora Anitta representou o Brasil este ano no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. O célebre festival, que já acolheu Elis Regina, João Gilberto, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia, entre outros nomes da música brasileira, desta vez ferveu com Anitta.

Valéria Maniero, de Montreux, na Suíça, para a RFI

A brasileira, que cantou mais de 20 sucessos em quatro línguas, colocou a plateia para rebolar, levando o funk para um dos eventos mais tradicionais do verão europeu. Neste ano, quando acontece a 56ª edição, estão previstos 500 shows e atividades em 13 palcos, alguns deles gratuitos. Não foi o caso do show da "Poderosa": brasileiros e portugueses, que formaram a maior parte do público da cantora ontem, pagaram CHF 92 pelo ingresso, algo em torno de R$ 500.

Tinha muito "de Brasil iá iá" na apresentação da cantora. No telão, referências ao país nas imagens de favela e do calçadão da praia. E também na plateia, que gritou o nome dela antes do show começar; "Anitta, cadê você, eu vim aqui só pra te ver" e "mais um" no fim, mas a cantora não voltou. Com um modelito preto, de óculos escuros, que ela tirava e colocava de acordo com a música, Anitta balançou o corpo e as bandeiras do Brasil, da Suíça e de Portugal em cima do palco. Na plateia, gente fazendo o "quadradinho", rebolando até o chão e gritando: "linda", "gostosa".

Numa rede social, Anitta agradeceu a todos pelo show e destacou a presença da artista Shania Twain, que "dançou horrores", segundo a brasileira, e ainda foi no camarim fazer foto. A cantora disse também que o show foi "mara" e que estava muito feliz.

"Ela conseguiu tirar o funk do Brasil e trazer para esse país"

As amigas Ana Carla da Silva e Maíra Arruda Nascimento, que trabalham na Suíça como esteticista e babá, respectivamente, contaram à RFI o que a cantora significa para elas. As duas foram de trem para a cidade do festival e, no meio da viagem, ainda davam um retoque no visual: unhas postiças vermelhas eram coladas em cima das delas, sem esmalte.

"Anita representa as mulheres brasileiras, na música, na dança, no rebolado. E eu estava querendo muito dançar", disse Ana Carla.  

Já Maíra "ficou louca atrás do ingresso, mas graças a Deus conseguiu comprar". É que eles esgotaram e ela quase ficou sem assistir ao show. "Eu tô aqui, tô muito feliz, porque a Anitta, pra mim, é representatividade. Ela também conseguiu tirar o funk do Brasil e trazer para esse país", afirmou.  

A suíça Julia Mercanton, que mora em Montreux, foi ao show com a amiga brasileira Gabriela Gomes de Lima e era só elogios à cantora. À RFI, ela disse em francês que Anitta "é uma grande artista". "Eu gosto muito da música dela e da sua dança", acrescentou.

Brasileira sente orgulho da cantora

Renata Lobo Barbey, de 37 anos, que é de Goiânia e está há quase 20 na Suíça, foi de trem para Montreux com a família. Ela levou dois filhos, de 6 e 12 anos, e o marido suíço para verem o show da Anitta. Por ter uma doença rara e ser cadeirante, Renata ficou num lugar reservado a pessoas com mobilidade reduzida. Cantou o tempo todo e fez fotos e vídeos com o celular.

Para ela, "ver uma brasileira no Montreux Jazz, uma pessoa que saiu da favela, que lutou tanto, dá muito orgulho". "Todo mundo estava muito animado, parecia, realmente, um baile funk. Todo mundo dançando, cantando as músicas, uma energia assim inigualável. Eu amei", disse Renata.  

"Todo mundo dançou, até os suíços dançaram, incrível. A energia do show foi uma coisa assim de outro mundo. A gente não viu passar. Na hora em que ela cantou a última música, eu falei: O quê? Já? Quero mais!", acrescentou.

Como acompanha Anitta "há uns dez anos", Renata esperava que a cantora fosse interagir mais com o público, mas isso não tirou o brilho do espetáculo, segundo a brasileira.

"Imaginava que ela fosse falar: tudo bem, gente, é um prazer estar aqui. Ela só falou: obrigada, Brasil; obrigada, Portugal; obrigada, Itália; obrigada Suíça. Não é que deixou a desejar, não sei se era pela questão do tempo do show, que estava bem cronometrado, mas ficou assim com gostinho de quero mais. Porque a gente esperou tanto, e a gente só teve obrigada", disse ela, rindo.  

O que Anitta representa

À RFI, Renata explicou o que a cantora significa para ela:

"Para mim, ela sempre chamou atenção porque não tinha medo do julgamento, do que as pessoas iriam pensar dela. Usou o corpo, o que ela tinha, para ter visibilidade e chegar aonde chegou. Uma mulher visionária, muito inteligente e à frente do seu tempo. Hoje mesmo, ela cantou em quatro línguas: italiano, espanhol, português e inglês, e isso a gente vê raramente. Então, para mim, é um orgulho ver uma mulher brasileira que saiu da favela e chegar aonde ela chegou, que quebrou vários tabus e continua quebrando. Quem julgou 10 anos atrás hoje está sendo obrigado a aplaudir", comentou.

Segundo Renata, "aquela menina funkeira está cantando aqui na Suíça, no Montreux Jazz Festival, um dos melhores". "E a gente está tão desiludido com o Brasil, com a política, com a economia, os rumos que o Brasil está tomando nesses últimos anos, que ela está dando alegria", destacou. Renata tem a impressão de que Anitta está unindo de novo o povo com sua música. "Parece coisa assim aleatória, mas a alegria do povo brasileiro junto, ali, para mim foi assim, é isso que eu quero para o meu país: alegria de novo", disse. "Hoje em dia, a gente só tem a Anitta para nos alegrar, infelizmente, e ela nos uniu hoje, aqui em Montreux", concluiu.