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Jonathas de Andrade expõe em Paris obras sobre resistência de comunidades no Brasil

06/07/2022 09h58

O Nordeste é a matéria-prima básica do artista plástico brasileiro Jonathas de Andrade, que nasceu em Maceió, mas vive em Recife. Em Paris, ele mostra o seu trabalho na Galleria Continua, no bairro do Marais, com o título de "Jogos. Atos. Gestos."

Jonathas de Andrade, 40 anos, que tem várias exposições internacionais e bienais no currículo, é o representante brasileiro este ano na Bienal de Veneza, exibindo "Com o coração saindo pela boca", uma instalação inspirada em expressões populares relacionadas com o corpo, como "pé na bunda" e "mãos abanando".

Mas o trabalho de Jonathas não é apenas pictórico. A obra do artista é repleta de reflexões, principalmente sobre a situação sócio-política atual no Brasil.

Para a exposição em Paris, ele trouxe sete de seus trabalhos, todos envolvendo comunidades. A maioria foi realizado no Nordeste, com exceção de um projeto com mulheres indígenas, batizado de MULHERES KAYAPÓ ? Fome de Resistência ? Mulheres Kayapó Menkragnoti (da série Infindável Mapa da Fome). Ele convidou 30 mulheres artistas a desenharem seus grafismos sobre mapas históricos que demarcam a terra kayapó. Elas também erguem 30 mãos para fotos, num ato de resistência.

"O que estamos vivendo no Brasil é extremamente grave, de atrocidades e muita fragilidade das etnias indígenas. Toda a proteção da terra vem sendo flexibilizada, reconsiderada e uma série de tragédias têm acontecido", diz, referindo-se aos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.

"Esse projeto tem total relação com o momento que o Brasil passa hoje, de direitos trabalhistas e ambientais afrouxados, suspensos, para facilitar a exploração da natureza, das terras, dos recursos do Brasil", acrescenta.

Outro trabalho de Andrade na galeria parisiense é "Eu, Mestiço", baseado em estudo da Universidade Columbia, em Nova York, dos anos 1950, sobre racismo no Brasil. As fotos com pessoas de hoje, impressas em papelão, são acompanhadas por palavras extirpadas do documento, que continuam sendo revistas e que mostram o mal-estar ainda vigente no Brasil.

Jonathas também traz "Teatro das Mulheres de Tejucupapo", acompanhando mulheres que há trinta anos apresentam, a céu aberto, uma peça sobre a resistência e vitória feminina sobre tropas holandesas no século 17. A série completa, com 94 fotografias, está na Galleria Continua-Les Moulins, a uma hora a leste de Paris.

Já "Manual para 2 em 1" é um livro que ensina como fazer uma cama de casal a partir de duas de solteiro. Em "Exercício construtivo para uma guerrilha sem terra", as fotos de moradias improvisadas em ocupações simbolizam a resistência na luta por moradias em terras improdutivas.

O que se vê na exposição em Paris é apenas uma amostra do volumoso corpo de trabalho de Jonathas, já exposto em museus e galerias ao redor do mundo. A irreverência segue de mãos dadas com o questionamento e a crítica social. Mas sem deixar a poesia de lado.