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Pesquisador brasileiro integra pela 1ª vez curadoria do BlackStar Film festival nos EUA

07/07/2022 11h27

Este ano, pela primeira vez, o BlackStar Film Festival, nos Estados Unidos, vai ter na curadoria de um brasileiro. O pesquisador e crítico de cinema Heitor Augusto foi convidado para fazer parte do time do evento, que celebra a diáspora africana e comunidades não brancas pelo mundo. A 11ª edição do festival acontece na Filadélfia de 3 a 7 de agosto, em formato híbrido: presencial e com projeções em streaming.

Este ano, pela primeira vez, o BlackStar Film Festival, nos Estados Unidos, vai ter na curadoria de um brasileiro. O pesquisador e crítico de cinema Heitor Augusto foi convidado para fazer parte do time do evento, que celebra a diáspora africana e comunidades não brancas pelo mundo. A 11ª edição do festival acontece na Filadélfia de 3 a 7 de agosto, em formato híbrido: presencial e com projeções em streaming.

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Todo ano, o BlackStar Film Festival promove projeções de filmes, seminários e laboratórios para valorizar criações de artistas não brancos, muito além dos limites de gênero. No entanto, mesmo se obras de vários países sempre fizeram parte da seleção, o evento nunca incorporou um especialista do Brasil no desenho de sua programação.

"É claro que recebo com imensa alegria, mas certamente digo que demorou por conta do tamanho da nossa diáspora [no Brasil]", aponta o pesquisador e crítico Heitor Augusto. "Nós somos pelo menos 57% de pessoas autodeclaradas negras [no Brasil]. Temos uma história de produção cultural, cinematográfica, de reflexão, numa perspectiva muito interessante em relação a outras diásporas, tanto aqui no Sul global, como no Norte global", diz o especialista.

"Demorou, mas ao mesmo tempo essa chegada é muito bem-vinda porque permite que um festival como o BlackStar seja espelho de outras comunidades que não a norte-americana", avalia. Ao comentar o olhar brasileiro sobre o festival, o crítico destaca "a nossa experiência histórica em que a negritude, a perspectiva negra constrói o Brasil, ao mesmo tempo que todas as vezes que a cultura negra se torna parte da identidade brasileira, ela vira cultura brasileira, e não só cultura negra. Tem um paradigma de como navegar dentro da nossa identidade cultural, específica e racializada, e no Brasil como um todo", afirma.

Políticas públicas

"É uma experiência muito particular, diferente da norte-americana. O que eu levo [para o evento] a partir deste meu lugar no Brasil é a questão dessa experiência histórica e da capacidade de estar em contato com outras culturas e perspectivas", diz Augusto. "Como pesquisador, identifico que nos últimos 10 anos tivemos um aumento substancial [desse tipo de produção], em número, volume, e em como essas obras vêm sendo percebidas e como elas têm circulado. O potencial está aí, a entrega está aí, mas precisamos de muito mais. Precisamos de políticas públicas, de projetos centrados nas questões e nas representações negras e indígenas para que esse potencial cultural, político e econômico atinja toda a sua potência", analisa.

"No BlackStar, a presença negra brasileira está refletida em três filmes, o que já demonstra o tamanho e a importância da produção racializada em cinema no Brasil", diz. "São um longa e dois curtas-metragens. O primeiro é o 'Marte Um', que estreou na programação do [festival] Sundance, que não tem só a questão do protagonismo de uma família negra, mas é uma história muito emocionante de resiliência e habilidade de você se unir. Na seleção de curtas-metragens, selecionamos 'Manhã de Domingo', que estreou na Berlinale e ganhou o Urso de Prata. É uma história sobre revisitar as suas próprias raízes e encontrar a cura das dores do passado, individuais ou coletivas. O segundo curta brasileiro no BlackStar é o 'Meus Santos Saúdam Seus Santos', de Rodrigo Antônio, filme lindo de retomada de identidade e ancestralidade", conta.

Sobre a representatividade das artistas e profissionais não brancos nos festivais internacionais de cinema, Heitor Augusto diz que "houve avanços no sentido de responsabilização, debates e conversas que têm acontecido no reconhecimento da importância desses festivais como propagadores de como o cinema e a indústria do cinema operam".

"Mas ainda temos muito terreno para percorrer rumo à equidade. Saímos muito de trás e, por isso, temos a impressão de progresso. Mas, na verdade, o caminho é longo", avalia. "É imprescindível que as instituições tenham um comprometimento real, a tal da accountability como dizem os norte-americanos", conclui.