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"Homens que fazem guerra às mulheres": revistas francesas descrevem a rotina de jovens sob jugo do Talibã

06/08/2022 09h13

As revistas francesas desta semana abordam a situação das mulheres no Afeganistão um ano após a volta do Talibã ao poder. Esse é o assunto de capa da L'Obs e da Le Point, para quem as meninas são as primeiras vítimas dos fundamentalistas islâmicos. Casamentos forçados, impedimentos à educação e à livre circulação são alguns dos entraves na rotina de jovens ouvidas pelas revistas.  

As revistas francesas desta semana abordam a situação das mulheres no Afeganistão um ano após a volta do Talibã ao poder. Esse é o assunto de capa da L'Obs e da Le Point, para quem as meninas são as primeiras vítimas dos fundamentalistas islâmicos. Casamentos forçados, impedimentos à educação e à livre circulação são alguns dos entraves na rotina de jovens ouvidas pelas revistas.  

É o caso da estudante de ciências políticas Fatima, moradora de Cabul, que sonhava em ser embaixadora e viajar o mundo, mas "teve seus sonhos roubados pelos talibãs", para quem as mulheres "só servem para ser enfermeiras ou parteiras". Hoje, ela não pode se afastar mais de 45 quilômetros de casa sem a companhia de um homem, conta a L'Obs. Não satisfeita, a jovem abriu uma escola clandestina para outras meninas que perderam o direito aos estudos secundários.  

De acordo com a reportagem, a permissão para que meninas aprendam ao menos o básico é uma forma de o Afeganistão mostrar algum pragmatismo frente à comunidade internacional, já que o núcleo duro do grupo fundamentalista gostaria de simplesmente impedir qualquer acesso das mulheres à vida pública.   

É quase isso que aconteceu com Marjane, ex-apresentadora de televisão e que agora anda coberta dos pés a cabeça, sem ter direito nem mesmo de frequentar restaurantes. Ela faz fila no posto de distribuição de comida da ONU e conta que estuda para ser parteira apenas para não perder o que lhe resta de dignidade. Além disso, "se for continuar no Afeganistão, me casar é a melhor solução", admite com resignação. 

A revista Le Point traz como título: "Os homens que fazem guerra às mulheres". De acordo com o texto, "em doze meses no poder, o Talibã reenviou as mulheres à Idade Media". A maioria das que trabalhavam em funções públicas foi obrigada a ficar em casa, "pois a presença física delas ao lado de seus colegas é incompatível com a charia, a lei islâmica".

Uma situação que Tahereh Hosseini, 30 anos, explica da seguinte maneira: "o problema dos talibãs não é o véu, mas as mulheres em si. Se eu aceito usar uma burca, amanhã será outra coisa", explica esta afegã com mestrado em economia e que antes não portava a vestimenta cobrindo integralmente o corpo.

"Em primeiro lugar, é difícil de respirar", reforça Sonia Niazi, outra apresentadora de televisão que hoje é obrigada a se cobrir de preto dos pés a cabeça e ainda usar uma máscara. "É um confisco flagrante da minha liberdade", completa.

O porta-voz dos talibãs explica que elas só podem mostrar os olhos. "Nós temos nossas próprias regras, que correspondem exatamente ao que diz o Corão", defende.

Segundo cálculos da ONU, o Afeganistão perde US$ 1 bilhão, ou 5% do PIB, por impedir ou dificultar o trabalho das mulheres.