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Ucrânia: Anistia Internacional lamenta indignação causada por relatório, mas mantém suas conclusões

Prédio destruído em Kiev após ataque de mísseis russos - Divulgação/Serviço de Emergência da Ucrânia
Prédio destruído em Kiev após ataque de mísseis russos Imagem: Divulgação/Serviço de Emergência da Ucrânia

08/08/2022 10h12

Neste domingo (7), a Anistia Internacional disse lamentar profundamente a indignação com seu relatório sobre a Ucrânia, mas manteve suas alegações com base em quatro meses de investigações que acusam as forças armadas ucranianas de colocar civis em perigo. O presidente Volodymyr Zelensky, por sua vez, acusa a ONG de buscar "anistia para o Estado terrorista russo". A RFI ouviu a porta-voz da ONG sobre o polêmico documento.

O relatório provocou a demissão da responsável pela Anistia Internacional (AI) na Ucrânia, Oksana Pokalchuk, ucraniana, que censura o documento por ter veiculado involuntariamente propaganda russa. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, se mostrou indignado com as acusações da ONG, acusando-a de não buscar a verdade, mas de criar um falso equilíbrio entre criminoso e vítima.

Em sua renúncia, Pokalchuk afirmou que "se você não vive em um país invadido por ocupantes que o desmembram, provavelmente não entende o que significa condenar um exército de defensores". "Discordo dos valores dos diretores da Anistia Internacional, e por isso decidi deixar a organização", acrescentou.

Por sua vez, na sexta-feira (5), a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, confirmou integralmente as conclusões do relatório, publicado no dia 4.

A Anistia lembrou neste domingo que a sua prioridade "neste conflito e em qualquer outro é garantir a proteção dos civis". "Era nosso único objetivo quando publicamos este último relatório investigativo", afirmou Callamard. "Embora mantenhamos amplamente nossas conclusões, lamentamos a dor causada", continuou.

"As leis de guerra existem em parte para proteger os civis e é por isso que a Anistia Internacional insta os governos a respeitá-las", acrescentou. A ONG destacou que nada do que foi documentado "justifica os abusos cometidos pelos russos".

'Coletamos evidências'

O documento foi baseado em evidências coletadas no final de extensas investigações respeitando e seguindo os mesmos padrões rigorosos e diligentes aos quais todo o trabalho da organização está submetido, disse a porta-voz da AI, Yolanda Vega, à RFI.

"Nossas equipes de investigação, como vêm fazendo desde o início da invasão russa, estão trabalhando de forma muito sólida, ou seja, de acordo com os princípios básicos de todo o trabalho da Anistia, que são: independência, imparcialidade e os fatos. E neste caso não foi de outra forma, coletamos evidências que mostram que o que está escrito no relatório é verdade. As equipes de investigação que estiveram aqui na Ucrânia, nestas regiões, viram em pelo menos cinco localidades tropas ucranianas usarem hospitais e centros como bases", diz.

"Nossas equipes verificaram que ainda havia atividade presencial, e isso é proibido. O uso de hospitais ou centros médicos pelas Forças Armadas em um conflito é proibido pelo direito internacional. Eles também visitaram 29 escolas e dessas 29 escolas, em 22 também confirmaram a presença de atividade militar das forças ucranianas", disse ela à RFI.

Rússia já havia sido acusada

Em junho deste ano, a Anistia Internacional acusou a Rússia de crimes de guerra na Ucrânia, dizendo que centenas de vítimas morreram em incessantes ataques em Kharkiv, muitos deles realizados com bombas de fragmentação.

Intitulado "Todo mundo pode morrer a qualquer momento", o relatório mostrava como as forças russas mataram e causaram imensos danos ao bombardear bairros residenciais em Kharkiv desde o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Sobre o atual relatório, Zelensky reagiu furiosamente, dizendo que a ONG colocou a vítima e o agressor em pé de igualdade.

(Com reportagem de Orlando Torricelli e AFP)