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Em vista à África, Blinken diz que interesse americano no continente independe da Rússia

09/08/2022 12h45

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, em viagem ao sul da África para redesenhar a estratégia dos EUA no continente, deu uma entrevista à RFI de Pretória, na África do Sul. No bate-papo, ele evoca a guerra na Ucrânia, a influência americana na África, mas também as tensões em curso entre Ruanda e a República Democrática do Congo. Blinken viajou, nesta terça-feira (9), para a República Democrática do Congo, antes de chegar a Ruanda.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, em viagem ao sul da África para redesenhar a estratégia dos EUA no continente, deu uma entrevista à RFI de Pretória, na África do Sul. No bate-papo, ele evoca a guerra na Ucrânia, a influência americana na África, mas também as tensões em curso entre Ruanda e a República Democrática do Congo. Blinken viajou, nesta terça-feira (9), para a República Democrática do Congo, antes de chegar a Ruanda.

Por Romain Chanson

Com esta viagem pelos três países africanos, Washington intensifica a diplomacia para contra-atacar o peso de Moscou na região, poucas semanas depois de uma viagem ao continente do ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que passou pela República Democrática do Congo, Egito, Etiópia e Uganda.

Questionado sobre se os Estados Unidos temeriam uma perda de influência no continente africano, Blinken reagiu: "Eu não estou aqui porque há uma competição com alguém. Não se trata de um engajamento americano na África por causa de outro país, mas, pelo contrário, porque o futuro do mundo será definido de forma muito importante na África".

"O que estamos fazendo aqui é estabelecer parcerias, tentar trabalhar em conjunto nos desafios que têm um impacto real na vida das pessoas, seja o desafio da Covid, as mudanças climáticas ou o impacto das novas tecnologias. Portanto, para nós, não se trata de impor uma escolha, mas de oferecer a escolha para os países da África. E temos uma agenda muito positiva para esse futuro. Tive a oportunidade, aqui, na África do Sul, de elaborar um pouco da nossa estratégia para a África e falarei sobre isso em outras viagens no futuro", afirmou o secretário de Estado americano à RFI.

"A agressão imperialista de Putin tem consequências no mundo inteiro"

Blinken se reuniu na segunda-feira (8) com a chefe da diplomacia sul-africana, Naledi Pandor. A África do Sul mantém uma posição neutra desde o início da guerra na Ucrânia e se negou a aderir às críticas dos países ocidentais contra a Rússia.

"O que está acontecendo na Ucrânia não é apenas uma agressão contra o povo ucraniano, é também uma agressão contra os princípios que estão na base do direito internacional, que estão na base das Nações Unidas, que são muito importantes para a África do Sul, mas também para toda a África. A ideia de que um país não tem o direito de mudar as fronteiras de outro pela força, a ideia de que um país não tem o direito de tomar o território de outro país é algo que ressoa na África, dada a sua história."

"Esta agressão imperialista de Vladimir Putin na Ucrânia é algo que tem ligação com a história de muitos países da África. E para além disso, há consequências na África e em todo o mundo, sobretudo a nível alimentar, onde existe uma crise que já existia em todo o mundo, por causa das mudanças climática, da Covid-19, e agora do conflito", completa Blinken.

Ele ressalta a ajuda dada pelo governo americano à África, citando a "ajuda humanitária muito substancial desde a agressão russa, de US$ 6 mil milhões, ou quase, desde fevereiro, mas sobretudo investimento no futuro da agricultura na África, para que haja autossuficiência na produção, para que, se houver outra crise no futuro, a África possa lidar mais facilmente".

Conflito entre RDC e Ruanda

Em relação ao conflio entre a República Democrática do Congo e Ruanda, Blinken disse que iria se reunir om as lideranças dos dois países, "para tentar ajudar aqueles que querem acabar com o conflito e a violência". "E sobretudo, apoiar as iniciativas e esforços africanos, incluindo o esforço do atual presidente do Quênia, Kenyatta, num processo em Nairobi, para tentar precisamente encontrar um futuro pacífico" para ambos.

"Para nós, trata-se de saber ser útil para que essa violência, não só não continue, mas não se acentue, o que é muito lamentável", completa. 

Blinken diz que os EUA são a favor de "uma solução diplomática para evitar que a violência continue". "Porque é uma crise recorrente, e acho que temos que encontrar uma solução que seja realmente sustentável."

Dois pesos, duas medidas?

Quando perguntado sobre a suposta falta de coerência dos Estados Unidos, capazes tanto de condenar, de pedir sanções em certos conflitos, como de, em outros conflitos, permanecer em silencio, o secretário de Estado americano não quis entrar em exemplos concretos. 

"Eu acho que você tem que ver cada desafio em seus próprios detalhes. Procuramos utilizar, para cada desafio, as ferramentas que consideramos mais adequadas, mais eficazes. Nem sempre é a mesma coisa em um caso ou outro, mas, de fato, devemos tentar permanecer fiéis aos nossos princípios e permanecer fiéis ao objetivo que temos. É tentar encontrar paz onde há conflito, evitar conflito onde há paz.