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Gás russo: entra em vigor acordo europeu para reduzir consumo

09/08/2022 11h35

Entra em vigor nesta terça-feira (9) o acordo europeu para reduzir o consumo de gás russo, texto concluído e adotado no final de julho pelos 27 Estados-membros. Maior país dependente destas importações no bloco, Alemanha adota medidas severas.

Por Jean-Jacques Héry, correspondente da RFI em Bruxelas, e Pascal Thibault

O objetivo do acordo é conseguir, a longo prazo, gerar uma maior autonomia em relação ao gás russo que, até ano passado, correspondia a cerca de 40% das importações de gás do bloco. A Comissão Europeia pressionou por esta regulamentação devido aos recentes cortes no fornecimento de gás russo e temores de que Moscou possa suspender completamente o abastecimento neste inverno.

Apenas a Hungria se opôs a esta medida que considera "injustificável, inútil, inaplicável e prejudicial", mas a unanimidade não foi exigida e o governo húngaro não conseguiu impedir sua adoção.

O regulamento entra em vigor de forma voluntária, cabendo a cada Estado fazer "o possível" para reduzir seu consumo. O objetivo foi definido em uma redução de pelo menos 15% de consumo entre 1º de agosto de 2022 e 31 de março de 2023, tendo como referência o consumo médio deste mesmo período nos últimos cinco anos.

O chefe do regulador de rede da Alemanha saudou o plano de emergência de gás da União Europeia em comentários ao canal de televisão ZDF. "Se todos os países da Europa economizarem gás, isso pode estabilizar o preço (...), talvez até reduzi-lo, e ajudar a garantir que o fornecimento seja suficiente para nos permitir passar o outono e o inverno", declarou Klaus Müller, presidente da Bundesnetzagentur.

País mais dependente

A declaração de Müller não é gratuita, uma vez que a Alemanha é o país do bloco mais dependente do fornecimento russo, com metade das residências sendo aquecidas a gás. Não por acaso, os aquecedores elétricos móveis estão vendendo como água no país. Mas a mudança de "fonte energética" tem um custo e uma empresa na cidade de Colônia já prevê uma conta duas vezes mais cara no início de outubro.

Já a gestora imobiliária Vonovia, que possui 500 mil imóveis na Alemanha, anunciou que, neste inverno, o aquecimento será reduzido à noite. "Se reduzirmos as temperaturas para 17 graus, entre 23h e 6h, podemos economizar até 8% de energia. Entre as 6h e as 23h, os apartamentos serão aquecidos como antes", explica o porta-voz da empresa, Tristan Hinseler, que garante que o fornecimento de água quente não será afetado por essa decisão.

O CEO da Vonovia declarou na semana passada que a empresa trabalharia para encontrar soluções para inquilinos em dificuldades. Ele também pediu ao governo que introduza uma moratória para evitar rescisões de contratos.

"Eu entendo essa medida. Eu não preciso ter um apartamento superaquecido, especialmente à noite. Não entendo porque isso é discutido", reage Dietmar Maruska, um dos inquilinos da Vonovia. Já Johanna Reidt, uma cliente mais idosa, se vê mais apreensiva com a medida: "Quero ter temperaturas agradáveis ??no meu apartamento, e normalmente são mais de 22 graus. Se reduzirmos o aquecimento para 17 graus à noite, ficará muito frio".

Termostatos à parte, o fato é que o valor dos encargos dos inquilinos irá aumentar significativamente, sobretudo em relação ao aquecimento. Alguns proprietários já se prontificam a aumentarem os pagamentos mensais para evitar uma surpresa ainda maior no futuro próximo. Associações de defesa dos inquilinos também sugerem que se faça reservas e algumas medidas de apoio são esperadas para aqueles que tenham orçamentos mais modestos.

A princípio, voluntário

Se os Estados europeus não se mostrarem suficientemente determinados e a ameaça de escassez de gás se revelar iminente, o Conselho Europeu poderá desencadear um estado de alerta. Nesse contexto, não será mais uma questão de voluntariado, mas de real restrição, tornando a redução de 15% obrigatória.

No entanto, diversos Estados obtiveram derrogações: primeiro as ilhas - Irlanda, Malta e Chipre -, por não estarem ligadas a gasodutos continentais. Uma isenção parcial também foi concedida para os países bálticos, conectados à rede elétrica russa. Estes poderão usar gás armazenado em caso de corte de energia. Outra situação prevista é a importação de gás entre os Estados-membros.

(Com informações da AFP)