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Escritor Salman Rushdie respira por aparelhos; Charlie Hebdo afirma que "nada justifica uma sentença de morte"

13/08/2022 08h44

O escritor britânico Salman Rushdie, autor de "Versos Satânicos" e alvo por mais de 30 anos de uma fatwa, uma sentença de morte islâmica do Irã, foi colocado em um respirador após ter sido esfaqueado no pescoço e no abdômen no estado de Nova York, nesta sexta-feira (12), durante um evento. O agressor está preso.

"As notícias não são boas", declarou o agente do escritor, Andrew Wylie, ao New York Times na noite de sexta-feira. "Salman provavelmente perderá um olho; os nervos de seu braço foram afetados e ele foi esfaqueado no fígado", detalhou Wylie, acrescentando que Rushdie, de 75 anos, foi colocado em um respirador artificial.

"Nada justifica uma fatwa, uma sentença de morte", reagiu indignado o jornal satírico Charlie Hebdo, alvo de um violento ataque islâmico em 2015. "Enquanto escrevemos estas linhas, não sabemos as motivações do autor do ataque com faca a Salman Rushdie. Ele se revoltou contra o aquecimento global, contra o declínio do poder aquisitivo ou contra a proibição de regar vasos de flores por causa da onda de calor?", escreve ironicamente Riss, editor-chefe do Charlie Hebdo e um dos poucos sobreviventes do ataque de 2015, em um post no site do jornal.

A ideia de que "a fatwa contra Salman Rushdie foi ainda mais revoltante porque o que ele havia escrito em seu livro, 'Versos Satânicos', não era desrespeitoso com o Islã", sublinha o editor-chefe do jornal que recebeu a "solidariedade" de Salman Rushdie depois do ataque terrorista que deixou 12 vítimas.

Mas a "fatwa" nunca foi suspensa e mesmo muitos dos tradutores de seu livro foram feridos ou até mesmo mortos em ataques, como o japonês Hitoshi Igarashi, vítima de diversas facadas em 1991. "Trinta anos se passaram", declarou ele uma vez em 2018. "Agora está tudo bem. Eu tinha 41 anos na época [da fatwa], tenho 71 agora. Vivemos em um mundo onde as questões de preocupação mudam muito rapidamente. Agora há muitas outras razões para ter medo, outras pessoas para matar...".

Nomeado cavaleiro em 2007 pela rainha da Inglaterra, para grande desgosto dos extremistas muçulmanos, Rushdie, um mestre do realismo mágico, um homem de imensa cultura que se diz apolítico, escreveu em inglês diversos romances, contos para jovens e ensaios.

Reações

"A luta dele é nossa, universal", declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, no Twitter, garantindo que estava "hoje, mais do que nunca, ao seu lado".

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse estar "chocado por Sir Salman Rushdie ter sido esfaqueado enquanto exercia um direito que nunca devemos deixar de defender", referindo-se à liberdade de expressão.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, revelou, por meio de seu porta-voz, que estava "horrorizado" com o ataque, acrescentando que "de forma alguma a violência foi uma resposta às palavras".

"Este ato de violência é terrível", disse o conselheiro de segurança do presidente dos Estados Unidos, Jake Sullivan.

Neste sábado (13), o principal diário ultraconservador iraniano, Kayhan, parabenizou o agressor. "Bravo a este homem corajoso e consciente do dever que atacou o traidor e cruel Salman Rushdie", escreveu o jornal. "Beijamos a mão daquele que rasgou o pescoço do inimigo de Deus com uma faca".

Agressor de 24 anos

Imediatamente após sofrer o ataque, no palco de um anfiteatro de um centro cultural em Chautauqua, no estado de Nova York, Salman Rushdie foi transportado de helicóptero para o hospital mais próximo, onde foi operado com urgência, informou aos repórteres o major da polícia, Eugene Staniszewski.

Pouco antes das 11h locais, o suspeito subiu ao palco do anfiteatro e atacou Salman Rushdie e seu entrevistador. Segundo anúncio feito pela polícia na noite de sexta-feira, o escritor foi esfaqueado no pescoço e no abdômen. O apresentador da conferência, Ralph Henry Reese, de 73 anos, ficou levemente ferido no rosto.

O agressor foi imediatamente preso e levado sob custódia. O agente Staniszewski revelou que o suspeito foi identificado como Hadi Matar, de 24 anos, sendo originário de Fairview, no Estado de Nova Jersey.

Rushdie estava se preparando para dar uma conferência literária na pequena cidade, localizada a 100 km de Buffalo, perto do Lago Erie, que separa os Estados Unidos do Canadá.

(Com informações da AFP)