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Ganhos da visita de parlamentares americanos a Taiwan são inexpressivos e riscos exagerados

15/08/2022 07h54

Duas semanas após a visita da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, à Taiwan, cinco parlamentares americanos realizam desde esse domingo (14) a mesma viagem, com intuito de prestar apoio à presidente taiwanesa Tsai Ing-wen.

Por Thiago de Aragão, analista político

A visita de Pelosi acirrou os ânimos entre China e EUA, elevando a temperatura entre os dois países para a mais alta dos últimos anos. Após a visita de Pelosi, o governo chinês tomou algumas ações de enorme importância, tais como treinamentos militares com mísseis contra a ilha, utilizando munições reais à 9 km de Taiwan, boicote a cem exportadores taiwaneses de diversas áreas (alimentos, tecnologia, etc...) que mantêm comércio bilateral ativo com províncias do sul da China, além de ataques cibernéticos.

Em relação aos EUA, a China cancelou o diálogo entre comandantes dos dois países no Mar do Sul da China, cancelou também o Diálogo de Coordenação de Defesa China - EUA, além do Acordo Consultivo Militar Marítimo (MMCA), da Cooperação de Repatriamento de Imigrantes Ilegais, da Cooperação EUA-China de Assistência Legal em Assuntos Criminais, do Acordo de Cooperação contra Crimes Transnacionais, do Acordo de Cooperação Contra Narcóticos e também do Diálogo Bilateral sobre Mudança Climática.

Alguns analistas mais exagerados esperavam que uma invasão chinesa em Taiwan seria iminente, mas mesmo sem nehuma invasão, os danos às relações bilaterais foram muito profundos. Esses diálogos serviam como uma válvula de escape para as tensões diplomáticas, e ajudavam os países a encontrar pontos de convergência (que sempre auxiliam no processo de amenizar as divergências).

China vai invadir Taiwan?

No meio a tudo isso, os parlamentares americanos, liderados pelo senador democrata Ed Markey, realizam uma viagem à Taiwan. Se por um lado essa viagem aumenta a ira de Pequim, intensifica o fluxo de treinamentos militares aéreos e navais e retira qualquer possibilidade de retomada de diálogos efetivos entre EUA e China, por outro, pouco agrega ao que Pelosi havia feito duas semanas antes. O cálculo estratégico dessa viagem foi mínimo, com ganhos inexpressivos e riscos exagerados.

A China não invadirá Taiwan. Pelo menos não enquanto sua economia ainda estiver no saldo positivo. O processo de invasão poderá ocorrer quando a economia estiver falhando como elo de união entre partido e sociedade. Quando isso ocorrer, o nacionalismo será a tentativa de Pequim de salvar a relação entre Partido e sociedade. Mesmo assim, uma viagem como a realizada pelos parlamentares americanos prejudica imensamente o pouco que resta de diálogo entre os dois países. As relações não giram apenas em torno de Taiwan, mas de inúmeros outros temas, inclusive de segurança nacional (para ambos países). Mesmo rivais e inimigos mantém linhas importantes de diálogos, que servem para demonstrar certos posicionamentos que muitas vezes são mal-interpretados.