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Campanha eleitoral começa no Brasil com possível encontro de presidenciáveis em posse no TSE

16/08/2022 06h23

Faltando 47 dias para o primeiro turno das eleições, começa oficialmente nesta terça-feira (16) a campanha eleitoral no Brasil. Presidenciáveis devem marcar presença em posse Alexandre Moraes no TSE, e um dos maiores desafios do tribunal continua sendo combater fake news.

Por Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

O cenário de polarização já está instaurado há muito tempo, os debates em torno das eleições também, dando ao início oficial da campanha eleitoral o gostinho de novidade no contexto político brasileiro. Com isso, os candidatos podem enfim pedir votos, lançar suas propostas e divulgar seus números de inscrição.

Na disputa presidencial, Jair Bolsonaro decidiu dar o pontapé inicial visando à reeleição em Juiz de Fora, Minas Gerais, no mesmo lugar onde há quase quatro anos ele levou uma facada, em um episódio que, para muitos analistas, foi importante para sua vitória.

Já Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta voltar ao poder, participa de um evento em uma montadora de automóveis em São Paulo, nesta terça-feira.

Os dois favoritos nas pesquisas de intenção de votos, além de outros candidatos ao Palácio do Planalto, como Ciro Gomes e Simone Tebet, devem se encontrar esta noite na cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes, que assume a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Lula com 52%

Pesquisa feita pelo Ipec, antigo Ibope, e divulgada nesta segunda-feira (15) pela TV Globo mostra Lula com 44% das intenções de voto, Bolsonaro com 32% e Ciro Gomes com 6%, em um cenário incerto quanto ao segundo turno, em que o petista venceria o atual presidente por 53% a 33%. Ao considerar apenas os votos válidos, Lula aparece com 52% das intenções de voto.

O geógrafo político francês Hervé Théry afirmou à RFI que, paradoxalmente, essa eleição será decidida pelos indecisos, pelos não apaixonados nem por Lula nem por Bolsonaro, em um contexto em que ambos têm consideráveis índices de rejeição

"Eu acho que essa eleição será, para os eleitores, uma escolha entre dois tipos de rejeição. Ninguém duvida que Bolsonaro foi eleito mais por rejeição ao PT do que por mérito próprio. E agora a rejeição a ele parece que está muito maior do que a do próprio PT", avalia o especialista francês.

"A meu ver uma guinada forte é pouco provável. Podem ser flutuações para baixo e para cima para decidir se vai ter segundo turno ou não. Duvido muito que possa haver uma guinada que comprometa todo o resultado, mas de todo jeito é preciso ser cauteloso e ficar atento a situações como a invasão do Capitólio", apontou Théry, em uma referência à reação de Donald Trump quando perdeu a eleição para Joe Biden nos Estados Unidos.

Campanha sem showmícios

A sondagem revela ainda que 46% dos eleitores não votariam em Bolsonaro, quando 33% não apertariam o 13 de Lula nas urnas. Ao todo 2 mil pessoas foram ouvidas entre 12 e 14 de agosto em 130 municípios, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos e nível de confiança de 95%. O registro da pesquisa no TSE é BR-03980/2022.

Enquanto a largada oficial para a campanha já foi dada, a propaganda no rádio e na TV só começa em dez dias. Continuam proibidos os showmícios, quando artistas são contratados para embalar eventos de candidatos, assim como outdoors e distribuição de brindes. Mas é possível pedir votos na rua, entregar santinhos, folhetos, realizar comícios e fazer campanha em blogs, sites e aplicativos de mensagens.

E é aqui que está um dos maiores desafios das autoridades eleitorais: combater as fake news. No ano passado, o TSE chegou a cassar o mandato de um deputado bolsonarista que alardeou fraude nas urnas no dia da votação. A ideia é mostrar que haverá mais rigor nesse quesito.

A cientista política Graziela Testa, da FGV, reconhece avanços, mas disse à RFI que a amplitude da internet e das redes sociais dificulta muito a fiscalização: "De fato não há uma capilaridade suficiente par acessar toda notícia ou todo tipo de informação que é propagada durante o período eleitoral. E a gente precisa lembrar que a grande quantidade de recurso disponível por causa do aumento do fundo eleitoral piora esse cenário, porque você tem mais dinheiro circulando para produção de informação em geral, inclusive informação falsa".

"Certamente 2022 já tem muito mais regras e muito mais regulamentações para que o processo seja mais idôneo, sobretudo se comparamos a 2018. Mas ainda não dá para dizer que é algo plenamente regulamentado. Há muita dificuldade em ter capilaridade e punir", enfatiza Testa.