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Rival de Trump, Liz Cheney deve perder primárias republicanas no Wyoming

16/08/2022 10h39

Os eleitores republicanos do Estado americano do Wyoming escolhem nesta terça-feira (16) seu candidato para concorrer a uma vaga na Câmara de Representantes. O assento é ocupado atualmente por Liz Cheney, vice-presidente da comissão parlamentar que investiga o ataque contra o Capitólio, em janeiro de 2021. Candidata à reeleição, ela tem poucas chances de vencer a votação e enfrenta uma candidata apoiada pelo ex-presidente Donald Trump. 

Com informações de Guillaume Naudin, correspondente da RFI no Wyoming

Essa eleição primária republicana resume a polarização vivida nos Estados Unidos e simboliza as divisões que o partido enfrenta. De um lado, está a conservadora Liz Cheney, 56 anos, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney. De outro, a quase desconhecida Harriet Hageman, que atrai todas as atenções por ser apoiada por Trump.

Embora tenha um sobrenome de peso, Liz Cheney ganhou fama ao votar a favor do impeachment do bilionário após o fatídico 6 de janeiro de 2021, quando milhares de partidários do ex-presidente invadiram o Capitólio em protesto à eleição de Joe Biden. A oposição ao líder republicano foi vista como um ato de coragem por alguns, mas como traição por apoiadores de Trump. Apenas 10 dos 211 deputados conservadores da Câmara de Representantes se posicionaram contra o magnata. 

Embora seu posicionamento seja condizente com o da direita tradicional americana, Liz Cheney, pró-armas e anti-aborto, paga caro pelo engajamento antiTrump. O ex-presidente lidera uma intensa campanha de descredibilização contra ela. Pária do partido do Republicano, a deputada também é frequentemente alvo de ameaças de morte e vive sob escolta policial. 

Apoio a Harriet Hageman

O apoio de Trump à Harriet Hageman, uma advogada de 59 anos, parece convencer os eleitores republicanos do Wyoming a descartar Liz Cheney. Neste Estado agrário do centro do país, mais de 70% dos habitantes apoiaram o bilionário na última eleição presidencial. 

Muitos eleitores questionam o verdadeiro engajamento de Cheney pelo Estado, criticando o fato de ela passar muito tempo em Washington em sua função de vice-presidente da comissão parlamentar que investiga do ataque contra o Capitólio. De fato, durante a campanha das primárias, a conservadora pouco viajou ao Wyoming por questões de segurança. O próprio Trump a classificou diversas vezes como "desleal". 

Por isso Liz Cheney foi forçada a realizar uma espécie de campanha clandestina, sem comícios eleitorais ou eventos públicos. Não por acaso, pesquisas a colocam 20 ou 30 pontos atrás de sua adversária. 

A pressão não parece convencer Liz Cheney a recuar. Trabalhando há mais de um ano para desmantelar a teoria de Trump de que a eleição presidencial de 2020 foi roubada, a deputada não se deixa intimidar. "Não poderemos ser livres se abandonarmos a verdade", declarou recentemente, prometendo fazer tudo o que puder para garantir que o bilionário jamais retorne à Casa Branca.

Wyoming, um Estado conservador

Com cerca de 500 mil habitantes, o Wyoming é célebre por ser povoado por conservadores, que vivem em sua maioria do petróleo ou da agricultura. Não é à toa que é chamado de "um Estado de cowboys". 

Tradicionalmente republicano, intensas campanhas eleitorais como a atual são raras. Em entrevista à RFI, Susan Stubson, integrante da legenda no condado de Natrona, centro do país, explica que, devido à guerra aberta de Trump contra Liz Cheney, as primárias chamaram atenção da população. 

"Estamos observando um número inabitual de inscrições no Partido Republicano. São provavelmente democratas que mudam de legenda e se declaram republicanos para apoiar Cheney", avalia. 

Até mesmo um ex-governador do Wyoming, o democrata Mike Sullivan, afirmou publicamente que estava se tornando republicano para votar em Liz Cheney. No entanto, o apoio não parece ser unânime. Ao que tudo indica, Harriet Hageman deve vencer as primárias desta terça-feira.