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"Difícil imaginar vitória de Lula em primeiro turno", diz analista

28/09/2022 06h36

Uma boa margem de diferença é necessária para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer já no dia 2 de outubro. De acordo com analistas, apesar do movimento pelo "voto útil", o petista dificilmente conseguirá vitória sem apoio de Ciro Gomes.

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

A campanha à presidência chega à reta final com pesquisas incertas quanto ao segundo turno e uma polarização acirrada que levanta questões sobre o pós-urna. No comitê petista, a ansiedade é para saber se a corrente organizada de artistas e políticos conseguirá votos suficientes para uma vitória já no primeiro turno.

No QG Bolsonarista, o objetivo é quebrar a alta rejeição do presidente - acima de 50% - e tentar assegurar votos para uma segunda etapa.

Uma pesquisa do Ipec feita em alguns estados e divulgada nessa terça-feira (27) mostra que a situação de Lula melhorou nos principais colégios eleitorais do país. Em Minas Gerais, há hoje uma diferença de 18 pontos percentuais entre o petista, que lidera, e Jair Bolsonaro (PL), que está em segundo. Em São Paulo essa distância é de 11 pontos a favor do petista, enquanto no Rio de Janeiro, Lula que estava atrás agora passou à frente do adversário.

Os números animaram os petistas, mas Leonardo Queiroz Leite, doutor em administração pública e governo pela FGV-SP, disse à RFI que o retorno de Lula ao poder num turno único depende de uma margem maior de votos.

"Apesar dessa mobilização nas redes sociais, com artistas e tudo mais, não acredito numa vitória de Lula no primeiro turno. Para isso a vantagem apontada nas pesquisas precisaria ser maior. Acho que talvez fosse possível algo assim se Ciro Gomes desistisse agora. Mas ele tem se mostrado resistente a abrir mão da disputa, inclusive nem sinalizou se apoiará o PT no segundo turno", afirmou o analista.

Bolsonaro, nos últimos dias, fez campanha num dos redutos eleitorais do PT, o Nordeste, enquanto o ex-presidente Lula se reuniu com grandes empresários a fim de abrir um canal de diálogo com o andar de cima do PIB nacional.

Voto útil

Um dos argumentos de apoiadores de Lula em defesa do voto útil é que a vitória em primeiro turno poderia enfraquecer o discurso de Bolsonaro contra o sistema eleitoral numa eventual derrota, já que saem dessa primeira etapa também os nomes para o Legislativo. Se rejeitar o resultado, o presidente terá que comprar briga com todos os eleitos.

O PT tem celebrado o apoio recebido especialmente dos que vêm de correntes não tão à esquerda. Um exemplo é o economista André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real. O partido também fez festa com o voto do ex-ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão do PT no Supremo Tribunal Federal.

"Bolsonaro não está à altura do cargo de presidente. Nas grandes democracias, ele é considerado um ser humano abjeto, desprezível, uma pessoa a ser evitada. Esse isolamento internacional traz prejuízos ao país. É preciso votar em Lula já no primeiro turno para encerrar essa eleição neste domingo", disse Barbosa em vídeo gravado para a campanha petista.

O apelo pelo voto útil mira principalmente eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). "Mesmo a gente adorando o Ciro e respeitando o que ele planeja e promete, eu acho que agora tem que ser Lula", defendeu Caetano Veloso.

Já o presidente Jair Bolsonaro mantém a narrativa de que ele está à frente e espera a vitória no dia 2 de outubro. "Eu acredito no Brasil, acredito em vocês, e nós vamos vencer no primeiro turno", gritou a apoiadores em Petrolina (PE).

Mais tarde, numa live nas redes sociais, Bolsonaro teve de encarar um assunto delicado e atacou o ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, que autorizou a quebra de sigilo bancário de um funcionário do planalto devido a "movimentações atípicas". Bolsonaro disse que o ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid pagava algumas despesas da primeira-dama, como manicure e plano de saúde de um parente.

"Alexandre, você mexer comigo é uma coisa. Você mexer com a minha esposa, você ultrapassou todos os limites, Alexandre de Moraes. Todos os limites. Você está pensando o quê da vida? Que você pode tudo e tudo bem? Você um dia vai dar uma canetada e me prender? É isso que passa pela sua cabeça?", disse Bolsonaro.

Reação se Bolsonaro perder

Ataques a juízes e declarações se colocando na dianteira das pesquisas de intenção de voto aumentam mais uma vez a preocupação sobre como Bolsonaro e seus apoiadores vão reagir em caso de derrota. Muitos veem nessa narrativa a pavimentação do que ele pode vir a fazer.

"Essa é a questão mais forte hoje e que pode ter mais consequências. Como o presidente vai reagir se perder? Porque Bolsonaro tem dado sinais contraditórios sobre isso. Os tribunais estão atentos e até outros países, com os Estados Unidos, que afirmaram que estão prontos a serem os primeiros a reconhecer o resultado das urnas no Brasil, seja qual ele for", disse o cientista Leonardo Queiroz Leite.

"A depender dessa reação de Bolsonaro, pode haver uma divisão maior no país e um acirramento maior dos ânimos. Se o presidente for derrotado, Lula assume e terá uma tarefa hercúlea de pacificação. Ele já tem dado mostras de buscar isso, abraçando nomes que não são ligados ao PT", disse o analista.