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Do pão fresquinho ao sinal do celular: saiba o que pode faltar neste inverno na UE

Turistas observam a Torre Eiffel da Ponte Alexandre III, em Paris, França; torre deve apagar luzes mais cedo para economizar energia - LUDOVIC MARIN/AFP
Turistas observam a Torre Eiffel da Ponte Alexandre III, em Paris, França; torre deve apagar luzes mais cedo para economizar energia Imagem: LUDOVIC MARIN/AFP

29/09/2022 14h54

Os altos preços do gás e da eletricidade representam um "risco iminente" de "perdas de produção" e "paralisações de milhares de empresas europeias", advertiu nesta quinta-feira (29) a BusinessEurope, uma organização que representa empregadores europeus. De padarias a operadoras de telefonia celular, todos estão alarmados com os reajustes das contas de gás e luz, e com medo de possíveis apagões, decorrentes da queda brusca de importações de gás da Rússia e da guerra na Ucrânia.

Em carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a associação patronal pediu um mecanismo mais flexível dos auxílios estatais às empresas em dificuldade, uma dissociação urgente dos preços da eletricidade e do gás, atualmente atrelados, e a mobilização de todos os recursos disponíveis para a produção de eletricidade. A crise energética é tema de uma reunião de ministros dos 27 países do bloco marcada para esta sexta-feira (30), em Bruxelas. 

"É urgente encontrar formas, em nível europeu, de mitigar o impacto dos preços da energia que estão paralisando as empresas europeias, é uma questão de sobrevivência", afirmou o lobby empresarial, que reúne organizações como o Medef na França e a BDA na Alemanha. 

O Executivo europeu e os 27 Estados-membros têm lutado até agora para encontrar soluções, dadas as diferentes combinações de energia e interesses dos diversos países. Cerca de "70% da produção europeia de fertilizantes foi interrompida ou desacelerada, enquanto 50% da capacidade total de produção de alumínio foi perdida", cita o comunicado da BusinessEurope.

Há um perigo real de que as empresas, e em particular as indústrias de alta intensidade energética, se mudem permanentemente para fora da Europa", adverte a entidade patronal. "Para evitar mais perdas de produção, o mecanismo de auxílios estatais da UE precisa ser ajustado para permitir, temporariamente, que os Estados-membros concedam a ajuda necessária às empresas afetadas", diz a carta enviada à presidência da Comissão Europeia.

"Cada megawatt-hora (de eletricidade) e cada bilhão de metros cúbicos (de gás) contarão neste inverno. Mais pode e deve ser feito para aumentar o fornecimento de energia na Europa. É extremamente importante intensificar ainda mais a ação externa com os fornecedores e implantar capacidade adicional de energias renováveis, nuclear, de baixo carbono e gás natural na Europa, o mais rápido possível", acrescenta a BusinessEurope.

"Com muitas empresas à beira do colapso, todas as opções devem ser consideradas para facilitar a produção de energia, incluindo mudanças legislativas temporárias ou moratórias", declarou a organização, já que os reatores nucleares foram fechados na Bélgica e na Alemanha.

Para reduzir o impacto do aumento dos preços da energia, o chanceler alemão, Olaf Scholz, apresentou nesta quinta-feira um plano de € 200 bilhões para proteger os alemães dos reajustes de preços das contas de gás e luz. A inflação na Alemanha chegou a 10,9% em setembro, no acumulado de 12 meses. 

Panificadoras começam a fechar

Na Bélgica, a crise que se abateu sobre as panificadoras é edificante. Neste setor, em que fornos, geladeiras e freezers são equipamentos essenciais, o aumento dos preços da energia veio somar-se ao aumento dos custos da matéria-prima (farinha, óleo e manteiga, entre outros). Os donos de padarias, um negócio ainda familiar e mantido por pequenos artesãos, estão fechando as portas, incapazes de pagar as contas de luz. 

Em um distrito de Gedinne, no sul do país, a padaria mantida pelo casal Bertrand e Pascale Dumont recebeu uma fatura da operadora de energia pedindo um pagamento adiantado mensal de cerca de € 11,8 mil contra € 1.860, que pagavam até o momento. 

De acordo com a federação francófona de panificadoras da Bélgica, "dez, 15 ou até 20 padarias" já fecharam desde que os preços da eletricidade triplicaram no país nas últimas semanas. O pão, um do alimento básico do cotidiano, pode faltar em alguns lugares.

A Bélgica se associou a 14 outros países europeus para exigir ações urgentes da União Europeia a fim de reduzir os impactos da crise energética.

Sem telefone celular?

Outra situação que até poucos dias atrás parecia inimaginável começa a preocupar os usuários de telefones celulares. Se houver cortes no fornecimento de energia e racionamento nos horários de pico, as redes de telefonia celular poderão ser afetadas de maneira aleatória, e os usuários ficarão sem sinal para as comunicações.

Autoridades do setor de telecomunicações temem que um inverno rigoroso na Europa venha a gerar tensão nas infraestruturas, forçando governos e empresas a tomar medidas de racionamento.

Os países da UE, como França, Suécia e Alemanha, estão trabalhando para garantir que as telecomunicações sejam preservadas, mesmo se os cortes de eletricidade acabarem esvaziando as baterias de reserva instaladas em milhares de antenas móveis espalhadas em seus territórios.

A Europa tem quase meio milhão de torres de telecomunicações e a maioria é equipada com geradores de reserva que duram cerca de meia hora.

França: cortes de duas horas

Na França, a situação é particularmente complicada pela paralisação temporária de mais da metade dos reatores nucleares existentes no país (32 de 56), devido a operações de manutenção ou problemas de corrosão. A RTE, administradora da rede de alta voltagem, acredita que o risco de apagões só ocorreria em situações excepcionais. A empresa aposta em campanhas de informação aos consumidores, que têm estimulado a redução do consumo de energia para evitar incidentes desagradáveis. Mas cortes pontuais de fornecimento não estão descartados.

Um plano elaborado pela Enedis, que opera a distribuição de eletricidade no território francês, prevê cortes de no máximo duas horas por dia no pior cenário, informaram fontes da empresa. 

De acordo com um plano divulgado no início de setembro pela primeira-ministra Elisabeth Borne, esses cortes, se necessários, só afetariam algumas áreas do país. Serviços essenciais, como hospitais, delegacias e administrações, serão poupados. 

(Com informações da AFP)