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França busca alternativas para crise energética ao se reaproximar da Venezuela, dizem analistas

10/11/2022 12h06

Incentivar a reativação do diálogo entre governo e oposição, apoiar o protagonismo da França entre os países da União Europeia e buscar alternativas à crise de energia na Europa após a invasão da Ucrânia. De acordo com analistas consultados pela RFI Brasil,estes seriam os motivos da reaproximação entre o presidente venezuelano Nicolás Maduro e o francês, Emmanuel Macron, na última segunda-feira (07) nos bastidores da COP27, que acontece no balneário egípcio de Sharm El-Sheik.

Elianah Jorge, correspondente da RFI em Caracas

Uma das principais metas do governo francês é encontrar alternativas para a crise energética desencadeada pela invasão da Rússia à Ucrânia, explica o analista político Angel Medina explica que a Europa tem que buscar alternativas de fornecimento de energia. "A Venezuela continua sendo um país petrolífero e há um problema energético grave, especialmente na Europa. Essa mudança (na postura de Macron) é uma janela de oportunidades".

"As portas da Venezuela estão abertas ao povo francês. Excelente aperto de mão com o Presidente da França, Emmanuel Macron, durante a COP27, que é, sem dúvida, um ponto de encontro entre os governos e outros países do mundo", disse Maduro nas redes sociais. 

A possível exportação de petróleo venezuelano à Europa, esbarra, entrentanto, em outras questões. "A Europa e os Estados Unidos precisam de energia, mas também precisam que a Venezuela respeite minimamente a democracia e os direitos humanos, com garantias políticas e sociais individuais para a população e eleições livres. Há um cabo de guerra e tudo isso passa por uma regularização da democracia na Venezuela".

Rodrigo Cabezas, economista e ex-ministro de finanças de Hugo Chávez, também reitera a necessidade da Venezuela voltar a ser um país democrático. "Atualmente toda a Europa, e a França em particular, está vivendo as consequências da invasão russa à Ucrânia e tem o interesse geopolítico de melhorar a situação de crise energética que enfrentam", diz. "Mas gostaríamos de que esta análise da política global internacional da União Europeia leve em consideração o fato de que há um povo na América do Sul, o povo venezuelano. Seu principal desejo é que a comunidade internacional o acompanhe na luta por reestabelecer a democracia no país."

O último Índice de Estado de Direito, divulgado em outubro deste ano pela organização World Justice Project (WJP), posiciona a Venezuela, pelo oitavo ano consecutivo, no último lugar dos 140 países avaliados - entre eles estão Camboja, Afeganistão, República Democrática do Congo e do Haiti.

Recuperação econômica e democrática

Apesar da Venezuela estar saindo de um caos econômico após sete anos de contração do Produto Interno Bruto, a recuperação do setor petroleiro, que já foi o sustento da economia local, caminha a passos lentos. Maduro parece ter pressa: de acordo com um comunicado de imprensa da Presidência venezuelana, o venezuelano disse a Macron que irá expor, durante seu discurso no plenário da COP27, "a necessidade de acelerar os passos para cumprir os acordos assinados no passado".

A França, a Colômbia e mais de cinquenta países rejeitaram o segundo mandato de Maduro, alegando fraude eleitoral contra o opositor Juan Guiadó. Além do não-reconhecimento pela comunidade internacional ao governo bolivariano, as sanções impostas colocaram o país em uma espécie de limbo econômico. Enquanto uns se afastaram, Rússia, Irã, China e Turquia continuaram como aliados - alguns deles até aumentaram a colaboração em termos econômicos e armamentistas com a Venezuela.