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"O Brasil é uma Arábia Saudita das renováveis", diz especialista sobre potencial energético do país

15/11/2022 13h25

O mundo enfrenta uma crise energética que levou vários países a adotarem medidas de emergência, com políticas de redução de consumo e busca de novos parceiros estratégicos. Nesta terça-feira (15), quando o assunto é tema de discussões na COP27, em Sharm el-Sheikh, e na reunião de cúpula do G20, em Bali, a redação brasileira da RFI aborda em reportagens especiais a questão das energias renováveis e o papel do Brasil nesse contexto.

Ventos estáveis e intensos. Sol durante o ano inteiro. Enquanto outros países precisam gerenciar a escassez de recursos naturais limpos, o desafio do Brasil é aproveitar a sua abundância de matéria-prima para produção de energia renovável.

"O Brasil é sem dúvida uma Arábia Saudita das renováveis", compara Camila Ramos, consultora e diretora da CELA (Clean Energy Latin America). Isso explica, em parte, o sucesso dos projetos de energia eólica e solar no país nos últimos anos, analisa a consultora. "Não só para produzir energias renováveis, seja eólica e solar, suficiente para abastecer toda a demanda do setor elétrico brasileiro se a gente quisesse, e de qualidade. E a gente também tem o potencial para exportar essa energia", acrescenta a especialista, ouvida pela RFI Brasil.

Quando falamos em produção de energia a partir do vento, o Brasil conta com 827 parques eólicos e uma potência instalada de 22,5 GW, o que representa 12,1% da matriz elétrica brasileira. É o suficiente para abastecer 36,2 milhões de residências por mês, de acordo com dados da ABEEólica, a Associação Brasileira de Energia Eólica.

Mas o potencial é ainda maior, estimado em 700 GW só em terra, sem falar nas novas oportunidades que estão surgindo na exploração offshore, em alto mar, ainda iniciante.

Já quando falamos de energia solar, condições climáticas favoráveis permitiram que o Brasil ultrapassasse a marca histórica 21,1 gigawatts (GW) de potência instalada de fonte solar fotovoltaica, somando as usinas de grande porte e os sistemas de geração própria de energia elétrica em telhados, fachadas e pequenos terrenos. Isso equivale a 10,5 % da matriz elétrica do país, de acordo com dados da Absolar, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica.

Os cinco estados com maior geração desse tipo de energia, em 2021, foram: Rio Grande do Norte (21,23 TWh), Bahia (21,15 TWh), Piauí (9,10 TWh), Ceará (7,91 TWh) e Rio Grande do Sul (5,63 TWh).

Enquanto o mundo luta contra as mudanças climáticas, a produção de energia a partir de painéis solares evitou emissões na atmosfera equivalentes a mais de 28,7 milhões de toneladas de CO2 (gás carbônico), ou a emissão anual de 28 milhões de carros de passeio. Para base de comparação, a cidade de São Paulo tem uma frota de cerca de 19 milhões de automóveis desse tipo.

Novos empregos

Desde 2012, a fonte solar já trouxe ao Brasil cerca de R$ 103 bilhões em novos investimentos, mais de R$ 27,2 bilhões em arrecadação aos cofres públicos, gerando mais de 600 mil empregos.  

Carlos Rittl, especialista em política internacional da Rain Forest Foundation da Noruega, analisa como esses dois setores se tornaram atrativos ao longo do tempo. "O que aconteceu foi que a energia solar se expandiu naturalmente porque os preços foram caindo, os equipamentos foram se tornando mais eficientes e acabou se tornando economicamente viável para muita gente, para empresas, para famílias, mesmo sem a gente ter as melhores políticas", destaca. 

As condições climáticas do Brasil são um grande atrativo para investimentos no setor. "Eu resido na Alemanha, um dos países com a maior capacidade instalada de energia solar. O melhor lugar de incidência de sol na Alemanha é pelo menos 30% pior do que o pior lugar no Brasil, onde o Brasil tem menos incidência de energia solar, que são áreas de Santa Catarina, onde você tem muita cobertura de nuvens. Então o Brasil pode expandir muito mais", compara Rittl.

Ele lembra que nos momentos de crise econômica recente, a energia eólica foi um setor que gerou empregos e retorno para o investimento. "Quando tivemos recessão econômica em 2015, 2016 e 2017, a energia eólica continuou se expandindo, os investidores continuaram aumentando a geração de energia dessa fonte e foi um setor que gerou muitos empregos no momento em que a nossa economia estava se encolhendo", observa.

Maior geradora independente de eletricidade do mundo, com 104 GW de capacidade instalada, a francesa Engie tem como meta sair das operações de carvão até 2027 e descarbonizar totalmente as atividades até 2045. E o Brasil faz parte dos planos companhia, presente no país desde 1996, e onde o faturamento chegou a RS 13,5 bilhões, no ano passado.

A Engie do Brasil explora 5 conjuntos eólicos, 4 usinas solares, além de 12 hidrelétricas e 3 usinas de biomassa, sendo líder no setor de energia renovável no Brasil, com 10 GW de capacidade instalada de fontes renováveis, em 77 plantas operadas pela companhia.

"Com relação à energia solar, esse é um boom que está acontecendo no Brasil, porque como não há barreira tecnológica, não precisa ser uma grande empresa e com expertise, um grupo de engenheiros experiente pode fazer, contanto que tenha capital. Houve uma proliferação muito grande de novos projetos no país todo", explica Gil Maranhão, diretor de Comunicação e Sustentabilidade da companhia. O executivo cita outra vantagem dos projetos solares. "Uma vez que são projetos que podem ocupar um espaço mais reduzido, eles podem estar próximos dos centros de carga, dos centros de consumo, e têm custos reduzidos de transmissão", completa.