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Irã: no terceiro dia de greve, presidente Raisi visita a Universidade de Teerã

07/12/2022 13h46

Terminou nesta quarta-feira (7) no Irã uma greve que durou três dias. O presidente Ebraïm Raissi foi à Universidade de Teerã, um dos focos dos protestos que já duram quase três meses no país. O regime iraniano se vê confrontado por uma revolta sem precedentes, que resultou em grandes manifestações fortemente reprimidas.

Esta quarta-feira é Dia do Estudante no Irã, uma data que sempre foi de protestos no país. Em um discurso na Universidade de Teerã, o presidente ultraconservador falou para um público de jovens visivelmente escolhidos pelo regime.

Raissi alegou que as restrições na internet e nas redes sociais, incluindo o uso de aplicativos como Instagram e WhatsApp, se deviam "aos inimigos" que usavam a rede para "causar problemas". Porém, "se a calma for restaurada, a situação será diferente", afirmou. Ele elogiou a atitude de "estudantes perspicazes que não permitiam que houvesse uma atmosfera turbulenta na universidade" e acusou "os inimigos de tentarem tornar as universidades inseguras", pedindo aos alunos que "façam todos os esforços para dar esperança às pessoas".

Algumas organizações juvenis, no entanto, pediram para transformar o Dia do Estudante, que comemora a morte, em 1953, de três estudantes pelas forças de segurança do Xá do Irã, em um "Dia do Terror pelo Estado".

Vídeos publicados nas redes sociais mostram manifestações ocorridas nas universidades de Teerã e em Mashhad, reunindo até trezentas pessoas. "Tremam, tremam, estamos todos juntos", clamaram estudantes da Universidade de Tecnologia de Amirkabir, em Teerã, em um vídeo publicado pela mídia online 1500tasvir.

Pelo menos em duas universidades houve contraprotestos e funcionários da segurança tiveram de intervir para dispersar a multidão.

Ao mesmo tempo, sites de oposição publicaram vídeos relatando a adesão à greve, especialmente em cidades do interior. Não foi possível verificar a veracidade das imagens.

Comerciantes recebem ameaças

Enquanto isso, a mídia oficial publica vídeos para dizer que as lojas estão abertas. Foi assim na segunda-feira, em Teerã, onde muitos comerciantes ignoraram o chamado à greve, incluindo os que trabalham no Bazar de Teerã. As lojas fechadas estão recebendo multas ou outras medidas punitivas.

Além disso, mensagens de alerta foram enviadas a muitas pessoas que participaram de manifestações e estão ativas nas redes sociais.

O Irã é palco de protestos desde a morte, em 16 de setembro, da jovem curda-iraniana Mahsa Amini, presa três dias antes pela polícia de costumes. Ela foi acusada de não ter respeitado o código de vestimenta que exige que as mulheres usem o véu integral em público.

As autoridades iranianas têm lutado para conter as manifestações, que descrevem como "motins" fomentados no exterior e, em particular, pelo inimigo jurado do Irã, os Estados Unidos, bem como por seus aliados, como o Reino Unido e Israel."Os americanos buscam a destruição e querem um Irã em ruínas, em vez de um Irã forte", repetiu o presidente Raissi, nesta quarta-feira. "Eles querem que o Irã se torne outra Síria ou outro Afeganistão, mas calcularam mal", acrescentou.

A repressão ao movimento já matou pelo menos 448 pessoas, segundo um balanço de 29 de novembro. Onze pessoas também foram condenadas à morte em julgamentos relacionados aos protestos.

(Com informações do correspondente da RFI em Teerã, Siavosh Ghazi, e da AFP)