Topo

Brasil sobe 18 posições no ranking da liberdade de imprensa da RSF

03/05/2023 07h36

O Brasil subiu 18 posições no ranking mundial da liberdade de imprensa estabelecido pela ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF). Em sua 21ª edição, o levantamento divulgado nesta quarta-feira (3), em Paris, traz mudanças significativas, algumas radicais, relacionadas a um contexto de instabilidade política, social e tecnológica, de acordo com o documento. O estudo avaliou as condições de exercício do jornalismo em 180 países.

O levantamento anual da RSF é publicado no 30° Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado neste 3 de maio. Na edição de 2023, a RSF destaca o impacto da desinformação, que ameaça o trabalho de jornalistas em todo o mundo. A organização alerta para a propaganda política, as manipulações econômicas e as fake news geradas pela inteligência artificial (IA).

O Brasil se encontra atualmente na 92ª posição na classificação geral. Segundo o secretário-geral da entidade, Christophe Deloire, a melhora do país se deve à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após quatro anos de violências contra jornalistas durante o governo de Jair Bolsonaro. Em 2021, o líder brasileiro de extrema direita foi mencionado como um predador da liberdade de imprensa pela RSF.

Peru registra queda mais importante

Assim como no ano passado, a Noruega ocupa o topo da lista, enquanto a Coreia do Norte aparece em último lugar. A queda mais importante é a do Peru (110°), que recuou 33 posições. Outros países que perderam posições são Senegal (104º, queda de 31 posições), Haiti (99º, queda de 29) e Tunísia (121º, queda de 27).

Na classificação por região do mundo, "o norte da África/Oriente Médio continua sendo a área mais perigosa para os jornalistas", e a Europa é aquela "onde as condições para o exercício do jornalismo são mais fáceis". A França subiu do 26º para o 24º lugar. Esse "pequeno ganho" pode ser explicado "em particular porque a situação está se deteriorando em outros lugares", de acordo com Deloire. A Alemanha (21º), por exemplo, caiu cinco posições devido a um "número recorde de atos de violência e detenções de jornalistas", segundo a RSF.

O estudo destaca uma situação "muito grave" em 31 países, "difícil" em 42, "problemática" em 55, e "boa" ou "razoavelmente boa" em 52 países. Globalmente, as condições para o exercício do jornalismo são ruins em 7 de cada 10 países analisados e satisfatórias em apenas 3 de cada 10 nações pesquisadas.

Indústria da desinformação

Em dois terços dos 180 países avaliados, os especialistas que ajudaram a elaborar o ranking "relatam o envolvimento de atores políticos" em "campanhas maciças de desinformação ou propaganda", segundo a entidade. Esse é o caso da Rússia, Índia, China e Mali.

O relatório "ressalta os efeitos impressionantes da indústria da simulação no ecossistema digital". "É a indústria que permite que a desinformação seja produzida, distribuída ou amplificada", indicou Deloire. "Líderes de plataformas digitais não se importam em distribuir propaganda ou informações falsas", salientou o secretário-geral da RSF, citando como "exemplo típico" o caso de Elon Musk, proprietário do Twitter.

Outro fenômeno que afronta a liberdade de imprensa são os conteúdos falsos criados pela inteligência artificial (IA). "Midjourney, uma IA que gera imagens de altíssima definição, alimenta as redes sociais com falsificações cada vez mais plausíveis", diz a RSF. Recentemente, as fotos falsas da prisão de Donald Trump, que se espalharam de forma viral, mostraram a extensão desse fenômeno.

A organização francesa também aponta o crescimento de conteúdos manipulados em grande escala por empresas especializadas, em nome de governos ou empresas. Em fevereiro, uma ampla investigação do coletivo de jornalistas investigativos Forbidden Stories revelou as atividades de uma empresa israelense chamada "Team Jorge", especializada em desinformação.

Todas essas "capacidades de manipulação sem precedentes são usadas para minar aqueles que representam o jornalismo de qualidade, ao mesmo tempo em que enfraquecem o próprio jornalismo", adverte a RSF. As informações confiáveis estão sendo abafadas por um dilúvio de desinformação", observa Deloire, que acredita que "estamos cada vez menos conscientes das diferenças entre o real e o artificial, o verdadeiro e o falso". "Um dos maiores desafios é restabelecer os princípios democráticos nesse gigantesco mercado de atenção e conteúdo", afirmou. 

No Brasil, a votação do PL das Fake News, que busca dar mais transparência às atividades no setor das plataformas e redes sociais, foi adiada por pressões políticas e das 'big techs'.

Com informações da AFP