Caça de baleias na Islândia é social e economicamente injustificável, dizem ONGs após liberação
Após suspensão de dois meses, a Islândia volta a autorizar a caça às baleias. Militantes ecologistas denunciam a influência do proprietário da única empresa de pesca à baleia no país, e que apenas 2% da população do país consome a carne do animal.
A caça à baleia na Islândia foi suspensa no final de junho. Mas nesta quinta-feira (31), a ministra da Agricultura e da Pesca islandesa anunciou a retomada da atividade "sob condições estritas".
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"A ministra da Agricultura ignora as conclusões científicas claras que ela mesma solicitou", denunciou em um comunicado a ONG Humane Society International. No final de junho, relatórios de autoridades veterinárias islandesas insistiram sobre o caráter cruel da peca aos cetáceos.
Os arpões utilizados não matam o animal imediatamente e a agonia pode durar até cinco horas, como relata a presidente da ONG Sea Shepherd France, Lamya Essemlali, em entrevista à RFI.
"Os relatórios realizados mostraram também que havia muitas fêmeas gestantes, com baleias que puderam demorar até cinco horas para morrer. Isso seria proibido em qualquer abatedouro. É realmente muito sofrimento para animais que são sensíveis", explica. Ela também destaca que as baleias visadas são espécies ameaçadas.
As ONGs, também denunciam uma indústria "opaca" e que "ninguém sabe realmente como os animais são mortos", já que a pesca acontece no mar.
Magnata da baleia
"Tudo isso é um resultado da enorme influência de Kristjan Loftsson, proprietário da única empresa de caça à baleia da Islândia e que tem grande influência sobre o governo islandês", diz Lamya Essemlali.
Loftsson é conhecido como o magnata da carne de baleia e proprietário da empresa Hvalur ("baleia", em islandês).
A volta da caça comercial no Japão, principal mercado da carne islandesa, a pandemia de Covid-19 e a entrada em vigor de uma zona costeira onde a pesca é proibida na Islândia, levaram Loftsson e a Hvalur a suspender a caça por três anos.
De acordo com Lamya Essemlali, Loftsson pretende usar sua influência para conseguir a concessão de uma permissão de caça de três anos.
Para justificar a liberação da pesca, o governo islandês argumenta que está viabilizando "uma base para mudar os métodos de caça para evitar irregularidades". Além disso, os caçadores serão obrigados a filmar a caça e a levar veterinários nos barcos.
"Nenhuma mudança corresponde à necessidade de proteção da baleia", respondem as ONGs.
Cenário econômico injustificável
A Hvalur é a única empresa ativa de pesca destes cetáceos na Islândia porque a demanda caiu vertiginosamente e continua diminuindo: apenas 2% dos islandeses comem carne de baleia.
"Não existe hoje mais nenhum sentido econômico, ainda menos, obviamente, ecológico na caça às baleias", diz Lamya Essemlali. "O que mantém uma aparência de mercado na Islândia são os turistas que nos restaurantes islandeses têm vontade de provar uma carne local. Mas os islandeses há muito tempo viraram as costas para este produto. Então estamos diante de uma coisa que não tem nenhum sentido", diz.
A Noruega e o Japão são os outros dois países que ainda realizam a caça, mas com quotas que eles mesmo se atribuíram.
"São caças que se mantêm somente por um punhado de irredutíveis, que mantêm essa prática de outra época. Apenas 2% dos japoneses consomem carne de baleia. Não existe justificativa social, econômica e é eticamente e ecologicamente indefensável, em 2023, continuar a matar animais de espécies protegidas em condições abomináveis", reitera.
(Com AFP)