Grupo católico é dissolvido pelo governo francês: 'Antissemita e conspiracionista'
O movimento católico fundamentalista Civitas foi dissolvido pelo Conselho de Ministros da França na quarta-feira, ao fim de um processo iniciado em agosto. O grupo é acusado de ter ideologia próxima da extrema direita, flertando com teorias da conspiração e antissemitismo.
Conspiração apontava 'satanistas'
Fundado em 1999, o "Institut Civitas" era uma organização tradicionalista, próxima à Fraternidade Sacerdotal de São Pio 10º (fundada pelo bispo francês Marcel Lefebvre).
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O movimento saiu dos bastidores em 2011 com ações espetaculares contra vários eventos culturais, incluindo a peça "Golgotha Picnic", de Rodrigo Garcia, que foi considerada "cristianofóbica". Milhares de pessoas saíram às ruas.
O Civitas liderou as primeiras manifestações contra o casamento gay em 2012 e voltou ao centro das atenções durante a pandemia de covid-19, mobilizando-se contra o passe sanitário e as vacinas.
Na época, Escada denunciou "um disfarce cujo objetivo real é colocar em prática todas as engrenagens de uma tirania globalista".
Mas foi o antissemitismo que marcou seu último feito, levando ao lançamento do processo de dissolução, durante as universidades de verão Civitas, dedicadas ao "satanismo da nova ordem mundial".
Na época, o polêmico ensaísta Pierre Hillard sugeriu voltar à "situação anterior a 1789", quando um judeu "não podia se tornar francês". Alain Escada tentou justificar essa "piada" na Radio Courtoisie na terça-feira, transmitida, de acordo com ele, "fora de contexto" pelos oponentes do partido de esquerda França Insubmissa, lamentando uma "explosão da mídia".
Em setembro, a filial belga da organização esteve na linha de frente do protesto contra um curso de educação sexual nas escolas. Os tribunais belgas abriram uma investigação de "incêndio criminoso" após incêndios em quatro escolas visadas pelos oponentes do curso.
Dissolução
"Os valores defendidos por esse movimento não têm lugar em nossa República", declarou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, no X (antigo Twitter), publicando o decreto, depois de iniciar a dissolução no início de agosto.
O movimento, que tem uma forte presença nas redes sociais, foi acusado de convocar uma "guerra contra a República", incluindo o uso da "força", disse o porta-voz do governo Olivier Véran.
"O Civitas considera os direitos humanos como ferramentas para destruir a civilização cristã e organizou comícios em homenagem a personalidades emblemáticas da Colaboração (com os nazistas, durante a Ocupação da França por Hitler); o Civitas promove uma hierarquia entre os cidadãos franceses com teses claramente antissemitas e islamofóbicas", listou o porta-voz do governo durante seu relatório sobre o Conselho de Ministros. Ele também criticou sua visão das pessoas LGBT+ como "uma comunidade nociva".
Declarações "surpreendentes"
Essas foram "declarações surpreendentes" para o presidente do Civitas, Alain Escada, que garantiu que "o Civitas nunca foi autor de qualquer tipo de violência".
Uma ação legal será tomada "rapidamente", disse ele, seja "em um processo sumário, com base nos méritos". "Este é um teste para o Conselho de Estado da França: ele fará seu trabalho dentro da lei ou da política?", perguntou ele, ressaltando que o Civitas "é um partido político" desde 2016.
O começo do processo iniciado por Gérald Darmanin em agosto ocorreu logo após o anúncio da dissolução do coletivo ambientalista Les Soulèvements de la Terre (desde então suspenso pelo Conselho de Estado francês).
Desde então, o Civitas tem contestado veementemente seu fechamento, difamando em um vídeo em setembro o "rolo compressor da repressão esquerdista" e uma nova ilustração do "Terror francês [referência à época da Revolução Francesa].
No entanto, o anúncio da dissolução foi bem recebido nesta quarta-feira por várias associações (SOS Homophobie, Licra, Progressistes LGBT+, etc.).
(Com AFP)