Em meio a derretimento recorde de geleiras, Suíça cria polêmica ao 'escavar' nova pista de esqui
Na Suíça, surge uma polêmica sobre a Copa do Mundo de Esqui, que acontecerá na localidade de Zermatt. As disputas acontecerão nos dias 11 e 12 de novembro de 2023. O problema é que a nova pista passa bem no meio de uma geleira que teve de ser literalmente escavada por pás mecânicas. As imagens, reveladas pela imprensa, revoltaram as organizações ambientais e reabriram o debate sobre a sustentabilidade do esqui alpino.
Jérémie Lanche, correspondente da RFI em Genebra
A pista Gran Becca é uma descida de 4 km com uma vista de tirar o fôlego nos Alpes. Esta começa em Zermatt, na Suíça, a uma altitude de 3,8 mil metros. A chegada ocorre 900 metros abaixo, em Cervinia, na Itália. Também envolve a travessia da geleira Théodule, que teve de ser escavada para garantir a segurança dos esquiadores.
"Um absurdo", diz Aaron Heinzmann, da ONG Mountain Wilderness: "Eu também adoro esquiar, mas agora há realmente uma emergência, uma crise climática. Isso realmente mostra uma falta de respeito pela geleira", ele argumenta.
Trabalho excedeu a zona autorizada
A escavação da geleira acelerará seu derretimento? Os cientistas não têm opinião formada sobre isso. O que é certo é que os habitantes de Zermatt estão bem posicionados para ver os efeitos do aquecimento global. Como Elisabeth, que disse à reportagem da RFI que "minha filha foi esquiar há uma semana e até chorou. Não há mais neve. Não está certo que eles tenham escavado a geleira. Espero que esteja em ordem".
Mas, aparentemente, as coisas não estão em ordem. As autoridades suíças ordenaram a interrupção do trabalho, que teria ultrapassado a zona autorizada. No entanto, isso não colocou em dúvida a realização das provas do Mundial de esqui.
Para as ONGs ambientais, o caso terá pelo menos lançado luz sobre uma prática considerada anacrônica, mas relativamente desconhecida até agora, e que também afeta outras geleiras na Suíça e na Europa.
Em dois anos, geleiras suíças perderam 10% de sua massa
O ano de 2023 é um annus horribilis para o clima. A prova mais recente é o derretimento das geleiras suíças. No espaço de dois anos, os gigantes dos Alpes perderam quase 10% de sua massa, tanto quanto entre 1960 e 1990. O derretimento está se acelerando e está surpreendendo até mesmo os melhores especialistas da área.
É preciso ver as fotos de Matthias Hüss para realmente entender a escala do fenômeno. Em uma das fotos, tirada em 2022, o glaciologista está de pé na geleira Aletsch, segurando uma vara de 6,3 metros de altura. Esse também é o tamanho do que a maior geleira dos Alpes perdeu em um ano.
A mesma coisa aconteceu no verão passado, mas dessa vez a vara de medida tinha apenas 4,7 metros. Essa perda de massa continua sendo excepcional, explica o pesquisador: "Nunca pensamos que essa perda pudesse acontecer nos Alpes. Aconteceu e agora a história está se repetindo".
Today, the traverse of Great #Aletsch #Glacier for @glamos_ch was on. Down the biggest conveyor belt of Switzerland... What a gift to be allowed to work in such an environment!
? Matthias Huss (@matthias_huss) September 21, 2022
We measured mass balance in the extreme year of 2022 all along the largest glacier of the Alps. pic.twitter.com/9oTBF3efEY
Uma combinação de dois fatores
As causas desse derretimento recorde são bem conhecidas: invernos com pouca neve e verões escaldantes. No que diz respeito ao inverno, não há garantia de que os próximos anos serão igualmente secos. Por outro lado, já sabemos que os próximos verões não serão melhores: "Não podemos salvar as geleiras como estão agora. Grande parte da perda de geleiras já começou. Não podemos mais evitá-la", continua ele.
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