Rússia, Irã e China reagem a ataques de EUA e Reino Unido contra rebeldes houthis no Iêmen
Os Estados Unidos e o Reino Unido realizaram bombardeios aéreos durante a noite desta sexta-feira (12) contra os rebeldes houthis no Iêmen, que há semanas aumentam os ataques ao tráfego marítimo internacional no Mar Vermelho. Os rebeldes alegam "solidariedade" com os palestinos em Gaza.
A operação anglo-americana provocou reações de Moscou, Pequim e Teerã, aliada dos houthis.
O porta-voz da diplomacia russa denunciou uma "escalada" que tem "objetivos destrutivos". "Os ataques dos Estados Unidos no Iêmen são um novo exemplo da distorção, por parte dos anglo-saxões, das resoluções do Conselho de Segurança da ONU e de um total desrespeito pelo direito internacional, em uma escalada na região para alcançar os seus objetivos destrutivos", escreveu Maria Zakharova no Telegram.
Já a China disse estar "preocupada" com o aumento das tensões no Mar Vermelho. "Pedimos às partes envolvidas que mantenham a calma e moderação, a fim de evitar uma expansão do conflito", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning.
China pede segurança
Desde o início da guerra entre Israel e o grupo Hamas, em 7 de outubro, os houthis aumentaram os ataques com mísseis e drones contra o tráfego marítimo internacional no Mar Vermelho, "uma passagem importante para a logística internacional e o comércio de energia", sublinhou Mao Ning.
"Esperamos que todas as partes relevantes possam desempenhar um papel construtivo e responsável na proteção da segurança regional e da estabilidade do Mar Vermelho, em sintonia com os interesses da comunidade internacional", continuou a porta-voz.
Pequim pediu a "todas as partes" para "manterem a segurança das vias navegáveis ??internacionais e evitarem assediar navios civis, o que é prejudicial para a economia e o comércio globais", ressaltou a diplomacia chinesa.
O Irã, por sua vez, condenou os ataques aéreos americanos e britânicos que são uma "ação arbitrária" e uma "violação flagrante da soberania" do Iêmen.
Como foram os ataques ocidentais
Os ataques anglo-americanos tiveram como alvo locais militares em várias cidades controladas pelos houthis, indicou o canal de televisão deste grupo rebelde - membro do "eixo de resistência", um agrupamento de movimentos armados contrários a Israel e estabelecido pelo Irã, que também inclui o Hamas palestino e o Hezbollah libanês.
A capital iemenita, Sanaa, e as cidades de Hodeida - onde correspondentes da AFP disseram ter ouvido várias explosões -, Taiz e Saada foram os alvos.
O presidente norte-americano Joe Biden disse que a operação foi realizada "com sucesso" em "resposta direta aos ataques sem precedentes dos houthis a navios internacionais". Ele evocou uma ação "defensiva" para proteger a comunidade internacional e alertou que "não hesitaria" em "ordenar novas medidas", se necessário.
"Estes ataques direcionados são uma mensagem clara de que os Estados Unidos e os nossos parceiros não tolerarão ataques às nossas tropas e não permitirão que atores hostis ponham em risco a liberdade de navegação nas rotas comerciais mais importantes do mundo", acrescentou o presidente americano.
"Apesar dos repetidos avisos da comunidade internacional, os houthis continuaram a realizar ataques no Mar Vermelho (...) Por isso, tomamos medidas limitadas, necessárias e proporcionais em autodefesa", declarou o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak.
A diplomacia francesa alegou que os rebeldes "são responsáveis pela escalada regional". Em um comunicado, Paris "exigiu que os houthis acabem imediatamente" com os ataques e lembrou que "os Estados têm direito de reagir".
Os bombardeios anglo-americanos foram realizados com aviões de combate e mísseis Tomahawk, informou a imprensa dos Estados Unidos. Washington indicou que a operação contou com o apoio da Austrália, Canadá, Holanda e Bahrein.
Londres disse ter mobilizado quatro aviões de combate Typhoon FGR4 para atacar, com bombas guiadas a laser, os locais de Bani e Abbs, de onde os houthis "lançam" drones.
Impacto no transporte marítimo internacional
Os ataques houthis estão forçando muitos armadores a contornar a zona, o que aumenta os custos e os tempos de transporte entre a Europa e a Ásia. Os Estados Unidos já tinham mobilizado navios de guerra e criado uma coligação internacional em dezembro para proteger o tráfego marítimo nesta área, por onde passa 12% do comércio mundial.
Na terça-feira, 18 drones e três mísseis foram abatidos por três destróieres americanos, um navio britânico e por caças enviados pelo porta-aviões americano Dwight D. Eisenhower. O Conselho de Segurança da ONU exigiu um fim "imediato" dos ataques do grupo armado iemenita, mas mesmo assim, na quinta-feira, os houthis lançaram outro míssil contra um navio no Mar Vermelho.
Os rebeldes controlam grande parte do Iêmen e afirmam ter como alvo navios comerciais que suspeitam estarem ligados a Israel, alegando agir em solidariedade com os palestinos na Faixa de Gaza, palco de uma guerra devastadora entre Israel e o Hamas.
"O nosso país enfrenta um ataque massivo de navios, submarinos e aviões americanos e britânicos", respondeu o vice-ministro das Relações Exteriores houthi, Hussein Al-Ezzi, citado pelos meios de comunicação do movimento. "Os Estados Unidos e o Reino Unido devem se preparar para pagar um preço elevado e suportar as pesadas consequências desta agressão", ameaçou.
Com informações da AFP