Conheça o pesquisador francês que conseguiu rejuvenescer células centenárias
Por que nós envelhecemos? O que acontece dentro das nossas células com o avanço da idade e como reverter esse processo? Em suas pesquisas, o biólogo francês Jean-Marc Lemaitre, diretor do Instituto de Medicina Regenerativa de Montpellier, no sul da França, já provou que é possível rejuvenescer células e, no futuro, ajudar as pessoas a envelhecer melhor.
Taíssa Stivanin, da RFI
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Em 2011, Jean-Marc Lemaitre conseguiu uma proeza: rejuvenescer células senescentes, ou seja, que deixaram de se replicar, de um homem de mais de cem anos. Elas voltaram a ser embrionárias e conservaram essas características após sofrerem novas divisões.
"Imagine quantas portas essa nova descoberta abre? Nossa hipótese, no início, era que, quando nós envelhecemos, nossas células também envelhecem. Quando isso acontece, ou elas sofrem danos quando devem se reconstituir, ou não são mais capazes de se reconstituir", explica.
Muito antes dessa descoberta, Jean-Marc Lemaitre estudou, no início de sua carreira, a chamada replicação do genoma, que nada mais é do que a transmissão do material genético. Ela é fundamental para entender o envelhecimento e suas consequências para o organismo.
O pesquisador partiu de uma hipótese surpreendente: será que era possível reverter esse processo? Existem dois tipos de células no corpo: as "envelhecidas", já defeituosas, mas que ainda conseguem se diferenciar, e as senescentes, que perderam essa capacidade e, basicamente, estão à beira da morte.
O genoma é organizado nas nossas células durante o desenvolvimento embrionário. Os genes têm "interruptores" que vão agir na maneira como eles serão acionados ao longo da nossa vida. Esses genes, em função de inúmeros fatores, incluindo ambientais, vão se "expressar" e influenciar, ou não, funções de nosso metabolismo.
Mas, com o tempo, esse mecanismo deixa de funcionar como deveria, por conta da alteração da fisiologia da célula causada pelo envelhecimento. Assim, com o avanço da idade, a célula não funciona mais da mesma maneira. Em suas pesquisas, a equipe de Jean-Marc Lemaitre buscou, então, reativar esses "interruptores", essenciais para o funcionamento celular.
Estágio embrionário
Para provar essa hipótese, o pesquisador francês partiu da descoberta do cientista japonês Shinya Yamanaka, feita em 2007. Ele provou que, ao inserir um "coquetel" de quatro genes no núcleo de uma célula de um adulto, era possível revertê-las em células-tronco. O estudo rendeu o prêmio Nobel de Medicina de 2012 ao pesquisador.
A equipe de Jean-Marc Lemaitre foi além e descobriu que as células senescentes, ou seja, que não conseguem mais se dividir, também podiam voltar a ser embrionárias, graças à inclusão de dois outros genes identificados pela equipe.
Em 2022, a equipe do cientista francês também conseguiu comprovar, em modelos animais, que era possível aumentar o tempo de vida.
"Se destruímos as células senescentes, ganhamos 30% de longevidade em boas condições de saúde, sem doenças ligadas ao envelhecimento. Se reprogramamos novamente as células dos camundongos, acontece a mesma coisa", explica.
"Trabalhamos com essas duas possibilidades e a ideia agora é tentar fazer uma combinação. Devemos tratar esses dois tipos de células ao mesmo tempo se queremos que o tecido rejuvenesça totalmente e frear o envelhecimento, porque o envelhecimento continua sendo irreversível", afirma.
Morrer em boa saúde
O objetivo é evitar doenças que acometem com frequência os mais velhos, como o diabetes, as patologias cardiovasculares e cânceres. "Não vamos criar seres eternos. Vamos apenas atrasar o envelhecimento o máximo possível, já que todas as vezes que interferimos nesse processo rejuvenescemos também nossos tecidos. Talvez, um dia, a gente possa morrer em boa saúde".
As próximas etapas agora envolvem os testes clínicos com humanos. Sua equipe vai testar a reprogramação celular nas células da pele. A expectativa é ter uma "prova de conceito" dentro de três anos para avaliar a eficácia do tratamento e organizar, em seguida, os testes com voluntários humanos.
"Há uma profunda injustiça em relação ao envelhecimento. Não envelhecemos todos na mesma velocidade. Encontrar soluções para que todos nós possamos chegar à terceira idade com uma boa saúde e aproveitar o tempo que sobra, é um desafio importante", conclui.