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Especialista diz que morte de Navalny 'em caminhada' é mentira da Rússia

Alexei Navalny durante transmissão de vídeo com advogados de sua prisão, em junho de 2023 Imagem: NATALIA KOLESNIKOVA/AFP

16/02/2024 12h34Atualizada em 16/02/2024 12h57

Para Galia Ackerman, historiadora especializada na Rússia pós-soviética e cofundadora do The Russia Desk, uma plataforma para decodificação de notícias russas, o regime de Vladimir Putin tenta encobrir causas da morte de seu principal opositor.

Para Galia Ackerman, historiadora especializada na Rússia pós-soviética e cofundadora do The Russia Desk, uma plataforma para decodificação de notícias russas, o regime de Vladimir Putin tenta encobrir causas da morte de seu principal opositor.

"A primeira mentira é que ele morreu durante uma caminhada. Ele estava na solitária há dois dias e, quando se está na solitária, não se pode sair para caminhar" argumenta a especialista, entrevistada em Paris pela RFI.

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"Então, chegou uma equipe do equivalente ao Samu (Serviço de atendimento móvel de urgência). Mas acima do Círculo Polar Ártico, não há ambulância chegando em 10 minutos ou 5 minutos como em Paris, o que significa que eles provavelmente tentaram ressuscitá-lo, mas não conseguiram", analisa.

"Então é tudo uma mentira. Acho que, se ele não foi morto, certamente morreu simplesmente devido às péssimas condições de detenção, fome e doenças, porque ele sempre ficou detido em condições muito difíceis. Muito severas", lembra a historiadora e pesquisadora.

Três tipos de colônias penais

Ackerman contou à RFI que existem três tipos de colônias penais, que na época soviética eram chamadas de campos: "regime geral, regime rigoroso e regime severo", precisa.

"Ele estava em uma colônia de regime rigoroso e, dentro desse regime rigoroso, ainda havia gradações, e ele se encontrava no regime rigoroso do regime rigoroso e, na verdade, quase nunca saía da cela", descreve a especialista.

Recusa de ajuda médica

"Isso significa dormir no frio, muitas vezes no chão, muitas vezes sem cobertor. E você é muito mal alimentado. Ele recusava ajuda médica. Portanto, mais uma vez, se ele não foi assassinado, é porque morreu de exaustão. Ele tinha apenas 47 anos", ressalta Ackerman.

"E ainda mais porque sua saúde estava frágil desde o envenenamento que sofreu em agosto de 2020. Quando foi a última vez que vimos Alexei Navalny?", pergunta Galia Akerman. "Não sei se o vimos mesmo, depois que ele foi transportado para aquela colônia prisional além do Círculo Polar Ártico. E também gostaria de lembrar que alguns de seus advogados foram presos. Ele foi envenenado em um momento em que ele estava fazendo campanha para as eleições locais e municipais. Ou seja, para fazer com que as pessoas votassem em qualquer candidato, exceto Putin. E ele era muito popular na Rússia", analisa.

Campanha na cadeia

"Ele tinha uma estrutura bastante elaborada em várias regiões, tinha seu fundo anticorrupção", ressalta. "No momento de sua prisão, ele ainda estava pedindo voto para qualquer candidato, exceto Putin. Em particular, ele pedia o voto para (Boris) Nadejdin, o candidato rejeitado. Estamos a um mês da eleição presidencial na Rússia, e Alexei Navalny, mesmo na prisão, mesmo em uma cela, mesmo enfraquecido, ainda representava uma ameaça a esse regime", avalia a historiadora.

Nunca citar o nome do "inimigo"

Para ela, sua morte é "uma boa notícia para Vladimir Putin". "Vocês sabem que ele nunca cita o nome de seus oponentes, de seus inimigos, ele sempre diz, aquele advogado, aquele jornalista. Foi assim que ele comentou sobre o assassinato do jornalista Napolitkowske, que foi um dos primeiros a serem assassinados sob o regime de Vladimir Putin, em 2006", lembra.

"Ele tentará minimizar o fato. Mas, em si, a morte de Navalny é uma coisa muito boa para ele, porque ninguém mais vai pedir um voto contra Vladimir Putin", diz a especialista.

Sobre as possíveis consequências da morte de Alexei Navalny na Rússia, Ackerman afirma que ele era muito conhecido em casa. "Houve manifestações mais ou menos grandes na Rússia. Foi na época de sua prisão, quando ele voltou da Alemanha. Acho que isso vai abalar muitos russos, mas não podemos nos esquecer de que hoje o medo tomou conta dos cidadãos", diz.

Russos que fugiram da guerra

"Qualquer possibilidade de protesto está fechada. E há 100.000, alguns dizem até 200.000 russos que emigraram para não participar dessa guerra, simplesmente como um protesto contra as condições de vida na Rússia", lembra.

"Será um momento muito turbulento para toda a comunidade russa no exterior, e certamente para muitos russos. Isso causará agitação e manifestações públicas? Acho que serão muito limitadas, pois se trata de uma ditadura feroz", conclui Galia Ackerman.

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