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Consolidação da extrema direita em Portugal será herança desta eleição, diz cientista político

Apoiadores do partido da extrema direta Chega durante comício em Lisboa Imagem: Patricia de Melo Moreira - 8.mar.24/AFP

Enviada especial da RFI a Lisboa

09/03/2024 11h54Atualizada em 09/03/2024 22h13

"Um aspecto muito interessante do partido 'Chega', de extrema direita em Portugal, é um sentimento de identidade com Bolsonaro", explica o cientista político e professor da Universidade Lisboa, António Costa Pinto, em entrevista à RFI. "Portugal segue a política brasileira há muitos anos com grande intensidade e André Ventura [líder do 'Chega'] criou esta ligação ideológica com Bolsonaro tentando associar Lula à corrupção e a Sócrates, ex-primeiro-ministro socialista [de Portugal]", explica.

"Um aspecto muito interessante do partido 'Chega', de extrema direita em Portugal, é um sentimento de identidade com Bolsonaro", explica o cientista político e professor da Universidade Lisboa, António Costa Pinto, em entrevista à RFI.

"Portugal segue a política brasileira há muitos anos com grande intensidade e André Ventura [líder do 'Chega'] criou esta ligação ideológica com Jair Bolsonaro tentando associar Lula à corrupção e a Sócrates, ex-primeiro-ministro socialista [de Portugal]", afirma.

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Segundo António Costa Pinto, o partido de Ventura "veio para ficar".

"A democracia portuguesa teve nos seus primeiros 20 anos um desafio fundamentalmente à esquerda, porque tinha um Partido Comunista forte, seguido de um partido da nova esquerda, ou da esquerda radical, relativamente forte, o Bloco de Esquerda, e esse era o grande desafio para o principal partido de centro-esquerda, o Partido Socialista. Hoje, o desafio mudou e está à direita", diz o pesquisador da Universidade de Lisboa, especializado em fascismo.

Para ele, o partido português "Chega", criado em 2019, "vai efetivamente ser um desafio à direita".

Portugal vai finalmente entrar no campo das democracias europeias, onde a direita radical populista é um desafio.

O professor compara a nova realidade política portuguesa ao que o partido espanhol Vox representa para o Partido Popular na Espanha, ou o que a sigla de Geert Wilders na Holanda significa para a centro-direita holandesa. Como nestes países, em Portugal a direita radical populista também parece ter chegado para ficar.

O cientista político observa que a Aliança Democrática (AD), coligação liderada pelo Partido Social Democrata (PSD) com o IL (Iniciativa Liberal), pequeno partido conservador que tinha desaparecido do Parlamento, está conseguindo reagir e recuperar alguns voto de direita que tinham migrado para o Chega.

Mas, de qualquer modo, é previsível que o Chega fique com entre 15% e 16% nestas eleições legislativas, portanto ele vai se tornar o terceiro partido do sistema partidário democrático português.

Ironia com o passado português?

Esta consolidação acontece, ironicamente, no momento em que o país celebra os 50 anos da Revolução dos Cravos, marco simbólico de Portugal na luta contra regimes autoritários. "Partidos como o Chega tentam recuperar o passado autoritário e reivindicar-se dele; no caso do Chega, um pouco menos porque o salazarismo, mesmo para os setores que votam à direita, está associado a um atraso econômico e social", diz.

Esse passado autoritário não mobiliza muito, mas é de fato uma ironia. E a ironia é a seguinte: estes partidos têm muito mais a ver com o presente do que o passado. Tem muito mais a ver com as crises das democracias liberais do que com os passados fascistas de direita radical ou ditaduras militares.

Crise de confiança no governo socialista

Ele nota que, além de o pleito deste domingo acontecer em uma 'conjuntura populista' presente no resto do mundo, aspectos como a realização de eleições antecipadas e as sucessivas crises de governabilidade do governo socialista nos últimos meses levam "uma bela parte do eleitorado" a optar pela direita ou em outros partidos.

"Eles têm a percepção de que o governo socialista, sobretudo nos últimos meses, não cuidou do Serviço Nacional de Saúde, não cuidou da governabilidade. É muito interessante observar como, muitas vezes, as eleições são dominadas mais pela percepção do que propriamente por aquilo a que nós poderíamos chamar de voto econômico", salienta António Costa Pinto.

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