Na França, sindicatos mobilizam greve do setor público em todo o país por aumentos salariais
Os sindicatos dos funcionários públicos de toda a França apelaram, nesta terça-feira (19), à mobilização dos 5,7 milhões de funcionários públicos franceses para obter aumentos salariais, que até agora foram descartados pelo governo num contexto de orçamento limitado.
Os funcionários públicos começaram a se mobilizar ainda pela manhã principalmente em Arras (capital do departamento de Pas-de-Calais, ao norte), em Le Mans (cerca de 200 km de Paris) e Marselha (no sul da França). Na parte da tarde, funcionários também se reuniram nas ruas da capital francesa.
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As manifestações acontecem a quatro meses dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, durante os quais os sindicatos já prometeram apresentar avisos de greve.
Em uma rara unidade intersindical na convocação para ação dirigida aos 5,7 milhões de trabalhadores do setor público, as organizações representativas esperam porcentagens menores de grevistas do que durante as manifestações contra a reforma previdenciária ao longo de 2023 (15% a 30% dos grevistas, dependendo do setor).
"Estamos reivindicando aumentos salariais gerais e (...) acima de tudo, negociações reais" com o executivo, resumiu na rádio RTL, na segunda-feira (18), a secretária geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), Marylise Léon, que é uma das líderes da manifestação em Paris ao lado de representantes de outros sindicatos franceses como a Confederação Geral do Trabalho (CGT) e a Força Operária (FO). Em Paris, a manifestação transcorreu no início da tarde no Jardim de Luxemburgo.
Nesta terça-feira, em entrevista àRFI, a secretária-geral do serviço público da CFDT, Mylène Jacquot, explicou que a intenção é obter maior reconhecimento pelo trabalho e compromisso profissional dos servidores públicos.
"Hoje estamos pedindo ao governo que abra as negociações que os sindicatos estão esperando desde o ano passado, sem mais atrasos. Precisamos discutir salários, medidas gerais para todos, funcionários públicos e trabalhadores terceirizados. E também precisamos negociar sobre os transportadores e todos os elementos que compõem um sistema de remuneração funcional", detalhou.
Apesar de o governo justificar restrições orçamentárias, a secretária-geral argumenta que o governo não pode "fazer economias no orçamento quando se trata do gerenciamento de 5 milhões a 5,5 milhões de trabalhadores", pois, segundo ela, "precisamos de um governo, autoridades locais, representantes eleitos e estabelecimentos hospitalares que tenham os meios para negociar com os funcionários, considerando-os como trabalhadores que estão dando sua contribuição para o interesse geral hoje", defende Jacquot.
Profissionais mal remunerados
Os oito sindicatos representativos (CGT, FO, CFDT, Unsa, FSU, Solidaires, CFE-CGC, FA-FP) estão todos preocupados com o fato de que, mesmo que as negociações salariais anuais fossem realizadas, elas não resultariam em aumentos salariais até 2025, tornando 2024 um "ano em branco".
Por sua vez, com base em números contestados por todos os sindicatos, o governo afirma que o poder de compra dos funcionários públicos aumentou todos os anos desde 2015 e que aumentou mais rápido do que a inflação nos últimos anos.
"Ainda estamos em um período de inflação bastante alta. Os funcionários públicos são afetados, seu poder de compra é afetado. Portanto, essa é a primeira expectativa. 10% dos funcionários públicos ganham menos de € 1.500 por mês (cerca de R$ 8.200)", apontou Jacquot, em referência ao salário mínimo nacional da França que gira em torno deste valor.
Os sindicatos estão reivindicando novos aumentos gerais, após os aumentos de 3,5% e 1,5% concedidos em 2022 e 2023. Mas em um momento em que o governo está prometendo uma economia orçamentária de € 10 bilhões até 2024 e o dobro até 2025, o ministro do funcionalismo público, Stanislas Guerini, se recusa a conceder os aumentos.
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Educação e saúde
No sistema de educação nacional, um dos principais empregadores de trabalhadores do setor público, 6,77% dos professores estavam em greve na terça-feira na educação primária (escolas de ensino infantil e fundamental) e 10,65% na educação secundária (escolas secundárias inferiores e superiores), de acordo com dados do Ministério. No total, 8,80% dos professores estão em greve.
A greve foi particularmente forte nas escolas de ensino fundamental (14,86%), onde os professores estão contestando a introdução do "choque de conhecimento" e, mais especificamente, a introdução de "grupos" em francês e matemática nos dois primeiros anos do ensino fundamental.
A taxa de greve era de 2,85% no serviço público local e 2,2% no serviço público hospitalar, informou o Ministério.
Na quinta-feira (14), a última reunião sobre salários foi interrompida, com sete sindicatos se retirando para denunciar a escolha "altamente tendenciosa" dos números apresentados pelo governo.
Stanislas Gaudon, presidente da Federação de serviços públicos CFE-CGC, retrucou: "Eles dizem que precisamos tornar nossos empregos atraentes, mas não nos dão nenhuma indicação de quão atraentes eles são".
(Com AFP)