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Começa julgamento de jornalista americano preso na Rússia acusado de espionagem

26/06/2024 10h10

A primeira audiência do julgamento do jornalista norte-americano Evan Gershkovich, detido na Rússia durante 15 meses sob acusações de espionagem, aconteceu a portas fechadas, nesta quarta-feira (26), em um tribunal de Ecaterimburgo, a leste dos montes Urais. O correspondente do Wall Street Journal nega as acusações, enquanto o processo corre em segredo, sem qualquer fundamentação da parte de Moscou.

Gershkovich, de 32 anos, foi preso pelos serviços de segurança russos (FSB), em março de 2023, enquanto fazia uma reportagem em Ecaterimburgo, tornando-se o primeiro jornalista ocidental, desde os tempos da antiga União Soviética, a ser acusado de espionagem na Rússia. 

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O repórter compareceu à audiência dentro de um box de vidro, no tribunal regional de Sverdlovsk. Ele tinha a cabeça raspada e vestia uma camisa xadrez escura. Evan Gershkovich sorriu para os jornalistas, enviando-lhes um "olá" quase inaudível, segundo uma equipe da AFP no local. 

A imprensa teve um acesso por breves momentos ao tribunal, antes do início do julgamento. Após esta primeira aparição, a porta-voz do tribunal, Irina Toshcheva, esclareceu que a próxima audiência será realizada no dia 13 de agosto e que a imprensa não poderá filmar novamente o jornalista, antes do anúncio do veredito, em data ainda indeterminada. 

Procurado pela AFP, o serviço de imprensa do Serviço Penitenciário Federal (FSIN) recusou-se a indicar onde Gershkovich - até agora em prisão preventiva em Moscou - ficará detido até a nova audiência. Somente o advogado do jornalista e seus parentes "podem fornecer essas informações", disse o FSIN. A mesma fonte não soube informar porque Gershkovich estava com a cabeça raspada, se era o corte de cabelo padrão dos prisioneiros ou uma decisão pessoal. 

Sem provas

A embaixada americana em Moscou informou em um comunicado que os seus representantes puderam assistir a uma pequena parte da audiência. "Durante este tempo, as autoridades russas não apresentaram quaisquer provas que corroborassem com as acusações", denunciou a embaixada, reafirmando que o jornalista foi detido "ilegalmente" e é usado como "moeda de troca" pela Rússia para atingir objetivos políticos. 

Os investigadores acusam Gershkovich, que também trabalhou para a AFP em Moscou de 2020 ao final de 2021, de ter recolhido informações sensíveis para a CIA (Agência Central de Inteligência americana) sobre um dos principais fabricantes de armas da Rússia, a empresa Uralvagonzavod. O Kremlin nunca tornou pública qualquer prova que confirmasse estas afirmações. 

A Uralvagonzavod produz tanques T-90 utilizados na Ucrânia e os da nova geração Armata, além de vagões de carga. 

Gershkovich, o Wall Street Journal e os familiares do americano rejeitam veementemente estas acusações. Para o diário, o repórter, que pode pegar até 20 anos de prisão, foi preso por "simplesmente fazer seu trabalho".  

Troca de prisioneiros

Washington acredita que Moscou inventou o caso para trocar o jornalista por russos detidos no Ocidente. No início de 2024, a família de Gershkovich disse que contava com a promessa do presidente americano, Joe Biden, de obter a libertação do jornalista. 

Hoje, o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, se recusou mais uma vez a comentar uma possível troca de prisioneiros. 

Na semana passada, Sergei Ryabkov, um alto funcionário diplomático russo, disse que Moscou havia feito uma proposta a Washington para uma troca, sem revelar o conteúdo desta oferta. 

O presidente russo, Vladimir Putin, já reconheceu que as negociações estavam em curso e deu a entender que exigia a libertação de Vadim Krasikov, condenado à prisão perpétua na Alemanha por ter assassinado, em Berlim, em 2019, em nome de Moscou, um antigo comandante separatista checheno. 

A Rússia mantém outros americanos detidos, incluindo o jornalista russo-americano Alsu Kurmasheva, preso em 2023 por violar a lei dos "agentes estrangeiros", e o ex-fuzileiro naval Paul Whelan, que cumpre pena de 16 anos de prisão por espionagem, acusação que ele contesta. 

Filho de imigrantes judeus da ex-URSS, Evan Gershkovich cresceu em Nova Jersey e trabalhava na Rússia desde 2017 para diversos meios de comunicação.

Em 2023, em carta enviada ao seu jornal, ele disse "não perder a esperança". 

(Com AFP)

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