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Irã: o que esperar de Masoud Pezeshkian, novo presidente eleito com promessa de diálogo com Ocidente

06/07/2024 11h49

O reformista Masoud Pezeshkian foi anunciado neste sábado (6) o vencedor do segundo turno das eleições presidenciais no Irã, contra o ultraconservador Said Jalili. A vitória do novo chefe de Estado, que defende a melhoria das relações com o Ocidente, suscitou reações positivas de parte da comunidade internacional.

Pezeshkian obteve mais de 16 milhões de votos, cerca de 54%, enquanto seu adversário Jalili somou mais de 13 milhões, em torno de 44% dos mais de 30 milhões de votos apurados, informou o porta-voz da autoridade eleitoral, Mohsen Eslami, acrescentando que a participação eleitoral foi de 49,8%. Imagens divulgadas pela imprensa local mostraram apoiadores do reformista comemorando nas ruas da capital Teerã e de Tabriz, no noroeste, antes mesmo do anúncio oficial dos resultados.

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O pleito, antecipado após a morte do presidente ultraconservador Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero em 19 de maio, ocorreu em meio a um contexto de descontentamento da população com a situação da economia, muito afetada pelas sanções ocidentais.

Médico de origem azeri, Pezeshkian foi o único reformista autorizado a concorrer às eleições, dominada por candidatos conservadores ou ultraconservadores. O novo presidente contou com o apoio de vários ex-chefes de Estado iranianos, como o reformista Mohammad Jatami e o moderado Hasan Rohani.

Promessas de campanha

Pezeshkian afirma sua lealdade à República Islâmica, mas defende uma aproximação entre o Irã e os países ocidentais, com os Estados Unidos à frente, para acabar com as sanções que afetam a economia. Ele preconiza "relações construtivas" com Washington e com os países europeus para "tirar o Irã" do isolamento.  

O novo chefe de Estado também prometeu relançar o acordo nuclear concluído em 2015 entre Teerã e as potências mundiais, inclusive os Estados Unidos. O texto impunha restrições na atividade nuclear iraniana em troca da retirada de sanções importas contra seu país. Mas o acordo foi bloqueado após a retirada unilateral em 2018 dos Estados Unidos, sob o comando de Donald Trump.

Em termos de política interna, ele prometeu acabar com as restrições ao acesso à internet, além de conter a ação das patrulhas da "polícia da moralidade", que fiscaliza o uso do véu islâmico pelas mulheres nas ruas do país. Pezeshkian também defende uma maior representação feminina e das minorias étnicas e religiosas no governo e na sociedade iraniana.

Sob o plano econômico, o novo presidente prometeu ainda reduzir a inflação, que está atualmente na cada dos 40%. No entanto, o novo chefe de Estado reconhece a dependência externa. Durante a campanha, ele afirmou que o Irã precisa de US$ 200 bilhões de investimentos estrangeiros e sabe que, para isso, o diálogo com o Ocidente será indispensável.

"O caminho que temos à frente é difícil. Só será fácil com a sua cooperação, empatia e confiança. Estendo a minha mão a vocês", declarou Pezeshkian, de 69 anos, na rede social X, após o anúncia de sua vitória.

Presidente com poderes limitados

Apesar das promessas de campanha, o cargo de presidente no Irã tem poderes limitados. Sua função principal é aplicar, à frente de um governo, as diretivas políticas estabelecidas pelo guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, que dirige de fato o país há 25 anos.

Porém, apesar dessas limitações, graças ao cargo de presidente, o segundo mais importante da República Islâmica, Pezeshkian pode exercer uma certa influência na política interna e externa do país. É ele quem determina, por exemplo, a política financeira e nomeia tanto o ministro da Economia como o presidente do Banco Central.

Entretanto, o novo presidente tem pouca margem de manobra sobre a ação da polícia iraniana e nenhum poder sobre o Exército ou os Guardiões da Revolução, braço armado ideológico do Irã, pois todas as forças militares do país respondem diretamente às ordens do líder supremo.

Reações internacionais

As primeiras reações à eleição de Pezeshkian vieram do mundo árabe. O rei Salman da Arábia Saudita disse que espera "desenvolver as relações entre os dois países irmãos", que se reconciliaram em 2023 após anos de ruptura.

Na Síria, o presidente Bashar al-Assad expressou o desejo de seu país de "fortalecer as relações estratégicas" com seu aliado iraniano. Representantes do Catar, Kuwait, Paquistão e Iraque também parabenizaram o novo presidente.

O líder russo Vladimir Putin também reagiu ao resultado e enviou uma mensagem com "sinceras felicitações" ao novo chefe de Estado e disse esperar o "fortalecimento da cooperação bilateral". Moscou e Teerã já estão negociando acordos bilaterais importantes, segundo o Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

Do lado de Pequim, o presidente chinês Xi Jinping disse, segundo a agência de notícias estatal Xinhua, atribuir "grande importância ao desenvolvimento das relações entre a China e o Irã". O chefe de Estado lembrou a "longa história de intercâmbios amigáveis" e afirmou estar "disposto a trabalhar com o presidente iraniano para conduzir a parceria estratégica abrangente em direção a um avanço mais profundo".

Na América Latina, a Venezuela, aliada do Irã, também parabenizou, por meio de uma mensagem de seu ministro das Relações Exteriores, Yvan Gil, o resultado do pleito iraniano e saudou o "compromisso demonstrado com a democracia" durante os dois turnos da votação presidencial. "A Venezuela expressa sua convicção de que a decisão tomada pelo povo iraniano contribuirá para a prosperidade dessa nação, bem como para sua consolidação como uma potência emergente no nascente mundo multipolar", afirma a declaração de Gil.

Até o início da tarde deste sábado, nenhuma reação oficial dos Estados Unidos havia sido divulgada.

(Com agências)

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