Chefe do exército de Bangladesh anuncia renúncia de premiê e formação de governo interino em breve

O chefe do exército de Bangladesh, general Waker-Uz-Zaman, anunciou nesta segunda-feira (5) a renúncia da primeira-ministra Sheikh Hasina, que fugiu da capital Daca de helicóptero na véspera, em direção a um "lugar seguro", segundo seu entorno. O chefe do exército anunciou na televisão a formação em breve de um "governo interino". 

"O país sofreu muito, a economia foi afetada, muitas pessoas foram mortas. É hora de acabar com a violência", declarou o general Waker-Uz-Zaman, anunciando a demissão da líder de 76 anos, Sheikh Hasina, em um discurso à nação transmitido pela televisão estatal de Bangladesh. "Se a situação melhorar, não haverá necessidade de recorrer ao estado de emergência", acrescentou, prometendo que os responsáveis pelos assassinatos cometidos durante as manifestações seriam levados à justiça.

Pelo menos 300 pessoas foram mortas desde o início das manifestações contra a premiê em julho, de acordo com um levantamento da AFP com base em dados da polícia, de autoridades e de fontes hospitalares.

No domingo, novos confrontos entre opositores de Hasina, forças de segurança e apoiadores do partido no poder deixaram pelo menos 94 mortos em todo o país. Foi o dia mais sangrento desde o início das manifestações antigovernamentais há um mês neste país muçulmano de 170 milhões de habitantes, onde estudantes protestam, em meio a um alto desemprego entre graduados, contra os privilégios dados aos próximos do poder para se tornarem funcionários públicos.

Filha mais velha de Sheikh Mujibur Rahman, o fundador de Bangladesh que conquistou a independência do Paquistão em 1971, Sheikh Hasina estava no poder desde 2009, após um primeiro mandato entre 1996 e 2001.

Imagens transmitidas pelo Channel 24, TV de Bangladesh, mostraram uma multidão de manifestantes correndo dentro do palácio de Hasina nesta segunda-feira. Segundo testemunhas, grandes multidões marcham pelas ruas de Daca e derrubaram barricadas. O jornal Business Standard estima que cerca de 400.000 manifestantes estejam nas ruas, um número que a AFP não conseguiu verificar.

Pouco antes de sua residência ser invadida, seu filho, Sajeeb Wazed, havia instado as forças de segurança a impedir qualquer tomada de poder. "Seu dever é garantir a segurança de nosso povo e de nosso país, bem como fazer cumprir a Constituição", escreveu ele no Facebook.

"Campo de batalha"

Daca se transformou "em um campo de batalha" e uma multidão de vários milhares de manifestantes incendiou carros e motos perto de um hospital, segundo uma fonte policial. Em resposta, o governo fechou escolas e universidades e mobilizou o exército.

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O país tem muitos formados desempregados, e os estudantes exigem a abolição de um sistema de discriminação positiva que reserva uma cota de empregos públicos para as famílias dos veteranos da independência. Parcialmente abolido em 2018, este sistema foi restaurado em junho pela justiça, inflamando os ânimos, antes de uma nova reviravolta da Suprema Corte no final de julho.

A crise social transformou-se em crise política a partir de 16 de julho, quando a repressão resultou nas primeiras mortes, e os manifestantes passaram a exigir a demissão de Hasina. "Não se trata apenas de cotas de empregos", disse à AFP Sakhawat, uma jovem manifestante encontrada em Daca. "Queremos que as futuras gerações possam viver livremente", afirmou.

O governo de Hasina foi acusado por grupos de direitos humanos de usar as instituições do Estado para consolidar seu poder e erradicar a dissidência, incluindo a execução extrajudicial de militantes da oposição.

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