Ana Marcela fica em quarto na maratona aquática no rio Sena: "briguei até o fim por medalha"

As nadadoras brasileiras Ana Marcela Cunha e Viviane Jungblut disputaram a prova da maratona aquática de 10 km, na manhã desta quinta-feira (8), no rio Sena, em Paris. Campeã em Tóquio 2020, Ana Marcela tentava defender o título, na disputa que reuniu 24 atletas, terminando a prova na quarta colocação. Ambas apontaram a corrente fluvial como um desafio a mais e não se sentiram prejudicadas pela qualidade da água do rio francês, que vinha gerando polêmica. Jungblut terminou em 11° lugar.

Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris

As nadadoras mergulharam simultaneamente na água, às 7h30min em Paris, ainda madrugada no Brasil, numa manhã ensolarada com temperatura de 16 graus. A largada foi dada a partir de uma plataforma fixa em frente à Ponte Alexandre III, no centro da capital. A posição de cada atleta na plataforma foi definida por sorteio. 

A soteropolitana Marcela, de 32 anos, largou na vigésima posição, se recuperando logo para a sexta, ainda na primeira volta. Com 2,5 km de percurso, ela avançou à terceira, diante da torcida brasileira que a aplaudia nas arquibancadas dispostas nas margens do Sena. Com 40 minutos de prova, Ana Marcela caía para a sétima colocação, se mantendo, depois, entre as quatro primeiras nadadoras ao passar a quarta volta do percurso, com 1h30 de natação.  

A australiana Moesha Johson manteve-se quase o tempo todo na liderança, rivalizando com a holandesa Sharon van Rouwendaal, atual campeã mundial, seguidas pela italiana Ginevra Taddeucci. Elas conseguiram se desgarrar das demais nadadoras, deixando as brasileiras para trás.

Enquanto a outra representante do Brasil, Vivian Jungblut, mantinha-se entre a nona e a décima posição ao longo de praticamente todo o percurso.

Na penúltima volta, Ana Marcela estava em quarto, mas distante do primeiro pelotão. Ela concluiu a prova com tempo de 2h 04 min e 15 segundos, exatos 41 segundos atrás da primeira colocada.

"Eu não fui tão constante, mas eu dei tudo na água, fiz o meu melhor e estou muito tranquila", avaliou a atleta após a prova. "Eu queria medalha, briguei até o fim por isso, eu sabia que eu estava em quarto lugar e cheguei a pensar que se alguém fosse desclassificada na frente, eu tinha que me manter e não deixar ninguém passar", relatou. "Agora é olhar para frente, eu não sei se terei outra oportunidade de estar em uma Olimpíada, mas agora é vida que segue", completou.

O ouro ficou com a holandesa Sharon van Rouwendaal, que concluiu o percurso em 2h 03 minutos e 15 segundos. A prata foi para a australiana Moesha Johson, com tempo de 2h 03min e 39 segundos. A italiana Ginevra Teddeucci ficou com o bronze, finalizando o percurso em 2h03min e 42 segundos.

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Superando dificuldades

Ana Marcela teve um ciclo olímpico de altos e baixos, com cirurgia no ombro, troca de técnico e até de país, tendo ido treinar na Itália. Mas seu currículo, que soma 17 medalhas mundiais, sendo sete de ouro, além de ter sido eleita a melhor do mundo oito vezes, a colocava entre as favoritas. A alemã Leonie Beck, ouro no Mundial de 2023, e que também tinha chances de subir ao pódio, ficou em nono lugar.

"No esporte de alto rendimento a gente sempre quer mais, nunca está satisfeito, mas eu tenho que estar muito feliz com a minha carreira, pois eu dei tudo na vida por isso", disse Ana Marcela, emocionada. "Quando a gente não sobe ao pódio, dói muito, mas na minha cabeça eu sei que tenho que entender, pois há somente três lugares no pódio e estou feliz com o meu ciclo e com todas as mudanças", avaliou a nadadora, contando que há um ano tinha pensado em parar de nadar. "Então, estar aqui hoje e ser quarto lugar é sensacional", conclui.

Durante o percurso, elas seguiram uma rota delimitada por boias. Esta prova foi introduzida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) nos Jogos de Pequim 2008. O tempo da prova é cronometrado por meio de chips presos nos pulsos das atletas. 

Viviane Jungblut, de 28 aos, disputou sua segunda Olimpíada, mas nadou os 10km da maratona aquática pela primeira vez, já que em Tóquio 2020 ela não havia conseguido classificação e optou por disputar os 800m e 1500m da natação. Após a estreia em águas abertas, em Paris, ela avaliou a prova como bastante "desgastante". "Foi uma prova bem dura, a gente teve a correnteza contra, que faz parte da nossa modalidade", observa. "Foi bem desgastante, mas eu dei os meus 100%, certamente não era o que eu esperava", admite.

Qualidade da água 

A maratona aquática é uma modalidade de natação que acontece em águas abertas como mares, rios ou lagos. Em Paris, o local da final da maratona aquática feminina, o rio Sena, gerou polêmicas nas últimas semanas por conta do nível de poluição. A disputa da natação do triatlo chegou a ser ameaçada, mas acabou sendo liberada. 

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Uma atleta da Bélgica foi internada com infecção bacteriana após a competição e a delegação do país disse que a poluição do rio teria causado a enfermidade, retirando-se do torneio.  

Na terça-feira (6), o treino de reconhecimento dos atletas para a maratona foi cancelado devido à má qualidade da água do famoso rio que corta a capital francesa, que passou por um processo de despoluição durante a fase de preparação para o evento, em prol do legado olímpico.

Em comunicado, a World Aquatics explicou que os resultados dos dados analisados em laboratório não atendiam aos padrões aceitáveis. Depois que os testes atingiram os limites adequados, segundo a organização, os atletas puderam treinar no local, na quarta-feira (7). Porém, os nadadores brasileiros não participaram.

"Foi muito tranquilo, a gente tem que acreditar na organização, eu não acho que eles iriam brincar com a saúde dos atletas", afirma Ana Marcela. "Foram cem anos sem ninguém nadar no Sena, mas está tudo comprovado, os testes que foram feitos antes apontaram quando podia ou não podia nadar", completa. Porém, ela admite que a insegurança sobre a realização da prova aumenta a ansiedade dos participantes. "O triatlo foi adiando um dia e isso causa uma certa instabilidade nos atletas, mas ao mesmo tempo o trabalho que fazemos com a psicóloga ajuda, pois você tem que estar sempre pronta", explica a nadadora que "não sentiu nenhum cheiro diferente" na água.

Viviane disse que na hora da prova nem pensou sobre a qualidade da água do rio Sena. "A gente só pensa em nadar e fazer força e depois veremos se terá alguma consequência", disse em entrevista aos jornalistas. "Em relação à qualidade da água não houve problema, apenas a correnteza", repetiu.

Antes do início dos Jogos Olímpicos de Paris, a prefeita Anne Hidalgo chegou a nadar no rio para provar que ele estava apto para receber as provas aquáticas. "A condição era a mesma para todo mundo e isso faz parte, não percebemos nada diferente na água", conclui. "Daqui há quatro anos eu volto, cada vez mais perto da medalha", finalizou Jungblut.

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O Brasil volta ao rio Sena nesta sexta-feira (9) com Guilherme Costa, que vai disputar a maratona aquática masculina.

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