Comunidade internacional aumenta pressão por cessar-fogo em Gaza e evitar ataques contra Israel

Em Israel há uma grande incerteza sobre os ataques prometidos por Irã e Hezbollah, após as mortes de líderes do Hamas e do grupo xiita libanês. São dias de espera que combinam tensão e ansiedade. A população até tenta manter a rotina a partir de uma promessa das autoridades militares: do momento em que houver sinais de que a ofensiva vai mesmo acontecer, os cidadãos serão avisados a tempo de poder se preparar. É o que prometeu o porta-voz do exército Daniel Hagari. 

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

Segundo a Rádio do Exército, as autoridades israelenses enviaram mensagens aos Estados Unidos e aliados europeus informando que qualquer ataque direto por parte do Irã será respondido com um contra-ataque ao território iraniano. 

As mensagens deixam claro também que essa premissa é válida mesmo se não houver feridos em Israel por uma ação da República Islâmica. No início de agosto, segundo apuração da RFI, a posição israelense era de esperar o ataque de forma a avaliar a resposta.

"Vai depender do que o Irã fizer. Imagina se eles dispararem contra uma fábrica que tem um estoque de amônia, por exemplo", disse uma fonte. 

A posição mudou e agora Israel exerce pressão máxima para impedir que o Irã execute qualquer forma de ataque, mesmo contra instalações militares. 

Na noite de segunda (12) para terça-feira (13), havia o temor de que a ação era iminente. Segundo apuração da RFI, foram horas intensas em que "todos falaram com todos" de forma a evitar um ataque do Irã e do Hezbollah. Essa pressão parece ter funcionado, pelo menos temporariamente.

Mas agora ela é aplicada sobre Israel. Isso porque a comunidade internacional, inclusive os Estados Unidos, querem que o governo de Benjamin Netanyahu se comprometa a obter um acordo nesta quinta-feira (15). 

Apesar da pressão internacional, Irã afirma que tem direito de dar resposta armada contra Israel

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Pressão para negociar

Os esforços diplomáticos seguem intensos. Uma declaração conjunta divulgada por Estados Unidos, Catar e Egito fala sobre a urgência de alcançar um cessar-fogo que seja capaz de "trazer alívio imediato ao povo sofrido de Gaza e aos reféns (israelenses) e suas famílias".

O texto também menciona que "restam apenas detalhes para a implementação do acordo", o que coloca pressão sobre Israel e Hamas. A nota conjunta sugere que um entendimento é possível e poderia estar próximo.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirma que não fez mudanças significativas sobre as linhas gerais da proposta, mas que o Hamas teria respondido com 29 alterações. Já o Hamas defende que não vê necessidade de novas negociações e que é favorável ao acordo apresentado pelo presidente dos Estados Unidos Joe Biden no final de maio. 

Diante da possibilidade de uma nova rodada de negociações, o Hamas procurou se distanciar. O canal de TV Al-Mayadeen, do Líbano - que tem posições pró-Hezbollah -, relatou que fontes do grupo palestino teriam dito que "não acreditam que a declaração conjunta (de EUA, Egito e Catar) representa uma base sólida para que se alcance um cessar-fogo".

O Egito tem buscado convencer as lideranças do grupo a participar desta nova rodada justamente para refutar as alegações israelenses de que estaria boicotando os esforços para alcançar um cessar-fogo, de acordo com uma fonte egípcia citada pelo jornal libanês Al-Akhbar.

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O Cairo também estaria pressionando por uma interrupção temporária nos combates durante alguns dias de forma a criar uma oportunidade para "recuperar o fôlego" e trabalhar para prolongar o cessar-fogo.

Alvos do Hezbollah

O Hezbollah é considerado por Israel um elemento mais imprevisível. Justamente por não ser um Estado, como o Irã. 

Segundo apuração da RFI, autoridades de Israel trabalham com a possibilidade de que o Hezbollah busque atacar diretamente militares e políticos israelenses envolvidos no processo da decisão de assassinar Fuad Shukr, o comandante militar do Hezbollah morto num ataque aéreo em Beirute em 30 de julho.  

O enviado especial dos Estados Unidos, Amos Hochstein, deve chegar ao Líbano nesta quarta-feira (14). No país, ele vai se reunir com o primeiro-ministro libanês Najib Mikati, com o presidente do Parlamento Nabih Berri, e com o ministro das Relações Exteriores Abdallah Bou Habib. 

O objetivo de Hochstein é encontrar um caminho para acalmar a situação e evitar o início de uma guerra ampla na região. 

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No entanto, Hassan Izz al-Din, membro de uma facção fiel ao Hezbollah no parlamento libanês, afirmou que haverá uma resposta: "Ela é inevitável. A conversa de que foi decidido adiá-la para depois da rodada de negociações na quinta-feira é absurda e inútil. Não estamos apostando em nenhuma negociação com Netanyahu, que anteriormente rejeitou cinco propostas de cessar-fogo, algumas das quais apresentadas pelos americanos".

Ali Damoush, vice-líder do Conselho Executivo do Hezbollah, disse que a reação ao assassinato de Fuad Shukr e Ismail Haniyeh irá acontecer. Segundo ele, apenas com ameaças o "Hezbollah conseguiu colocar os sionistas em estado de exaustão, medo e pânico. O que o Hezbollah está fazendo nestes dias é um golpe psicológico contra Israel".

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