Três anos após chegada de talibãs ao poder no Afeganistão, país está isolado e em crise humanitária
Há três anos, os talibãs tomaram o poder no Afeganistão, após uma ofensiva relâmpago para reconquistar o país. O governo, apoiado pelos países ocidentais, caiu rapidamente e, desde então, nenhum país reconheceu oficialmente o regime talibã. O primeiro-ministro afegão, Mohammad Hassan Akhund, prometeu "continuar a aplicar a lei islâmica" numa mensagem transmitida nesta quarta-feira (14).
Os talibãs celebraram o terceiro aniversário da reconquista do Afeganistão com um longo desfile militar na antiga base americana de Bagram, na presença de representantes políticos e oficiais de altas patentes.
Helicópteros sobrevoaram o desfile de dezenas de veículos militares soviéticos ou capturados pelos talibãs às forças americanas e ao Exército afegão durante a sua vitória relâmpago, há três anos.
Centenas de convidados, incluindo alguns diplomatas chineses ou iranianos, estavam presentes. Os talibãs também desfilaram em motos usadas em atentados.
Milhares de afegãos foram convidados para a capital, onde foram implementadas importantes medidas de segurança para evitar novos ataques como o do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que assumiu a responsabilidade do atentado à bomba no domingo (12), que deixou pelo menos um morto e cerca de dez feridos num bairro predominantemente xiita.
As avenidas, cruzamentos e parques de Cabul foram decoradas com milhares de bandeiras brancas e pretas do talibã. Demonstrações de boxe e luta livre aconteceram no grande estádio Ghazi, na capital do Afeganistão.
Mulheres apagadas da sociedade afegã
No entanto, nenhuma mulher pôde participar nas festividades e as jornalistas foram proibidas de cobrir as cerimônias de aniversário.
Para os afegãos que não conseguiram sair do país, o cotidiano é "extremamente difícil e sombrio, com poucas perspectivas para mulheres e meninas", afirma Hamida Aman, presidente da ONG Begum Organization for Women (BOW) em entrevista à RFI.
"Antes tínhamos pelo menos a esperança de que a escola, com muito trabalho e determinação, pudesse dar acesso a alguma coisa, a uma posição, à autonomia financeira. Tudo isso foi reduzido a nada. Atualmente, as mulheres estão cada vez mais isoladas, não podem mais trabalhar. Uma menina, aos 12 anos, termina sua escolaridade, depois da escola primária. É isso. Não há mais esperança de ir para o ensino superior", lamenta.
O direito ao trabalho também foi drasticamente reduzido. As mulheres não podem mais colaborar com organizações não governamentais locais ou estrangeiras. O acesso a empregos privados também foi restringido e até mesmo os salões de beleza foram fechados.
O acesso ao local de trabalho e as viagens se tornaram cada vez mais difíceis com a exigência de que as mulheres sejam acompanhadas por um familiar do sexo masculino. Esta aplicação ultra-rigorosa da lei islâmica, que não tolera contestações, levou a ONU a dizer que o país aplica o "apartheid de gênero" contra as mulheres.
Um país isolado e uma situação econômica catastrófica
Após três anos de administração talibã, a situação econômica é catastrófica no Afeganistão. A taxa de desemprego é alta, e as famílias lutam para sobreviver.
"O limiar da pobreza caiu em três anos", continua Hamida Aman. "As famílias e a classe média empobreceram e devem encontrar pequenas soluções, fazer negócios, tentando preparar e vender, por exemplo, alimentos ou exercer uma pequena atividade agrícola, ou pecuária", explica.
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Quero receberO PIB sofreu uma contração violenta de 26% em 2021 e 2022, segundo o Banco Mundial para o qual "o crescimento será zero nos próximos três anos e o rendimento per capita ficará abaixo do crescimento demográfico". As ajudas ao desenvolvimento e humanitária também entraram em colapso. Um terço dos 45 milhões de afegãos sobrevive apenas com pão e chá.
O governo talibã não é reconhecido por nenhuma nação. No entanto, registou ganhos diplomáticos com determinados países, entre eles o Paquistão, o Azerbaijão, o Cazaquistão, o Uzbequistão, o Turcomenistão, a China e a Rússia.
"Os países que cooperam com os talibãs devem lembrá-los dos seus abusos contra mulheres e meninas", afirmou a ONG Human Rights Watch num comunicado publicado para marcar a data da chegada dos talibãs ao poder. "Os doadores devem prestar ajuda àqueles que mais precisam e trabalhar para uma solução duradoura para a crise humanitária no Afeganistão", destacou.
O país também abriu um diálogo com o ocidente ao participar, em junho de 2024, pela primeira vez, nas discussões de Doha, sobre o apoio econômico e a luta contra as drogas da comunidade internacional.
Após negociações complicadas, Cabul obteve de cerca de vinte países e da ONU o compromisso que nenhum representante da sociedade civil afegã, especialmente mulheres, seria convidado a participar dos debates.
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