O que está em jogo no aguardado debate entre Donald Trump e Kamala Harris
No que promete ser um dos confrontos mais intensos e inesperados da política americana, Donald Trump e Kamala Harris vão finalmente se enfrentar em debate nesta terça-feira, a partir das 22h (horário de Brasília).. Com o cenário montado no National Constitution Center, na Filadélfia, a expectativa é alta, não só pelo histórico dos dois candidatos, mas também pelas circunstâncias inusitadas que colocaram Harris na disputa. E se depender do eleitorado, o entusiasmo não poderia ser maior.
A menos de dois meses para as eleições, Harris conseguiu algo que parecia impossível: reverter a vantagem confortável de Trump nas pesquisas após a saída de Joe Biden da corrida presidencial. O atual chefe da Casa Branca, que viu sua campanha desmoronar depois de uma performance desastrosa no debate anterior, passou o bastão para sua vice, mudando completamente o rumo da disputa. Em menos de dois meses, ela foi capaz de transformar um cenário sombrio em uma eleição acirrada.
Mas o que está em jogo no próximo debate? E será que Harris, com sua trajetória de promotora, vai conseguir confrontar o ex-presidente no palco?
A primeira grande polêmica envolve a ausência de microfones abertos. Harris, cuja habilidade de argumentação afiou nos tribunais, claramente favorece debates com interações mais diretas, e sua campanha já expressou insatisfação com o formato escolhido. Em uma carta enviada à ABC, o time de Harris deixou claro que o formato sem microfones abertos colocaria a vice-presidente em desvantagem, evitando que Trump seja confrontado diretamente.
Por outro lado, o time de Trump se mostrou confiante, aceitando as regras impostas pela ABC sem grandes questionamentos. Seria essa a tática de Trump para se esquivar das investidas mais contundentes de Harris? Ele, afinal, tem um histórico de usar interrupções e ataques diretos como estratégia, e a ausência de microfones abertos pode limitar esse estilo combativo.
Embora Harris tenha conseguido recuperar pontos nas pesquisas, muitos de seus aliados ainda a consideram a "zebra" neste debate. E com razão. Afinal, Trump tem mais experiência em debates gerais - essa será sua sétima vez em um palco presidencial. Sua equipe, no entanto, parece ter adotado uma abordagem mais tranquila em relação à preparação. O ex-presidente decidiu não utilizar um "sparring" para simular o estilo de Harris, preferindo o seu infame "policy time," em que ele discute políticas de forma informal com assessores.
Já o lado de Harris não deixou nada ao acaso. Sua equipe de preparadores inclui veteranos do Partido Democrata, como Rohini Kosoglu e Karen Dunn. Além disso, ela teve a vantagem de contar com conselhos de peso, como os do próprio Biden e de Hillary Clinton, os únicos dois democratas a enfrentarem Trump diretamente. A pergunta que fica no ar é: será que toda essa preparação vai fazer frente ao estilo imprevisível de Trump?
Temas em discussão e desafios
Uma das maiores cartas de Trump é sua capacidade de capitalizar em temas econômicos e de imigração, áreas nas quais ele, historicamente, teve vantagem sobre Biden. O desafio de Harris será distanciar-se das falhas da administração Biden e convencer o eleitorado de que ela representa uma alternativa melhor. A boa notícia para a vice-presidente é que suas medidas centristas, como sua promessa de combater os gigantes dos supermercados, têm encontrado ressonância entre eleitores preocupados com a alta dos preços.
Mas, ao mesmo tempo, Trump não se cansa de tentar associar Harris às políticas impopulares de Biden, como a retirada caótica das tropas americanas do Afeganistão. Sua tática será tentar fazer com que Harris "carregue" os erros da administração anterior, mesmo que Biden fosse o presidente na época.
No entanto, Harris não vai deixar essa narrativa se solidificar facilmente. Ela já atacou Trump por transformar o que deveria ser um tributo aos soldados americanos mortos no Afeganistão em um "espetáculo político," depois que o ex-presidente gravou vídeos de campanha em um cemitério militar. Essa troca de farpas será provavelmente intensificada no debate.
Outro ponto sensível será a forma como Trump abordará Harris no palco. Seus assessores já demonstraram preocupação de que o estilo agressivo de Trump pode soar mal quando confrontado com uma mulher. Em 2020, Harris mostrou que sabe se defender em situações como essa. Quem não se lembra de seu famoso "Senhor Vice-Presidente, eu estou falando" durante o debate com Mike Pence?
Trump, no entanto, parece alheio a essa preocupação. Ele já começou a tecer comentários racistas e sexistas sobre Harris, o que pode acabar alienando ainda mais eleitoras - uma demografia com a qual Trump já tem dificuldades. Com 58% de avaliação negativa em uma pesquisa recente da ABC/Ipsos, a questão é se Trump está jogando para sua base ou tentando realmente conquistar eleitores indecisos.
Seja qual for o resultado, o debate entre Trump e Harris será um dos mais comentados da história recente dos Estados Unidos. De um lado, um ex-presidente que tenta, a todo custo, manter sua narrativa de "outsider" enquanto ataca sem filtros. Do outro, uma vice-presidente com um histórico de enfrentamentos afiados, pronta para mostrar que pode não só desafiar Trump, mas também se estabelecer como uma figura independente dentro do Partido Democrata.
O palco está montado, as estratégias estão em ação. Agora resta ver quem vai conseguir dominar o centro do palco e, com ele, o coração dos eleitores americanos.
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