Tribunal analisa caso de 'discípulo' de francês acusado de drogar a mulher para filmar estupros
Tribunal francês analisou nesta quarta-feira (11) o caso de um suspeito identificado como "discípulo" de Dominique Pelicot, o homem acusado de ter drogado sua mulher durante anos para que ela fosse, inconsciente, estuprada por dezenas de desconhecidos.
Jean-Pierre M., 63 anos, foi identificado como "Rasmus" nos vídeos descobertos pela polícia durante a operação de busca e apreensão na residência de Dominique e Gisèle Pelicot, em Mazan. Ele é o único dos 50 réus julgados no Tribunal de Avignon, no sul da França, que não está sendo acusado de estuprar Gisèle.
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Jean-Pierre foi indiciado por ter violentado a própria mulher ao lado de Dominique Pelicot. Ele adotava o mesmo ritual antes dos estupros e dava ansiolíticos para sedar sua esposa durante os abusos. O caso "Rasmus" foi analisado após a leitura do relatório entregue pelo policial que investigou a denúncia, nesta quarta-feira. Seus dois filhos também testemunharam no tribunal.
"Fui criado por porcos, na floresta", teria explicado Jean-Pierre aos filhos, sem dar mais detalhes sobre sua vida ao lado de seus nove irmãos em uma fazenda. Mas, segundo seu advogado, Patrick Gontard, as crianças eram espancadas e "amarradas nuas em árvores a noite toda". O pai, afirma, "organizava orgias na frente dos filhos".
"Os fatos são muito graves. Acho que ele está ciente disso", disse seu filho de 32 anos. "Mas este julgamento vai ser um alívio, e eu o encorajo a se abrir", continuou ele, que admite ser "difícil de entender" por que sua madrasta, a segunda esposa de seu pai, ainda não tinha prestado queixa.
"Estou convencido de que se ele não tivesse conhecido essa pessoa nunca teria passado por isso", disse, em alusão a Dominique Pelicot. "Pode ter despertado memórias que ignorávamos".
Tribunal aguarda depoimento de marido
Além de Jean-Pierre M., o tribunal também ouviu nesta quarta-feira o depoimento de uma especialista que descreveu as personalidades de Cyrille D., 54, e Jacques C., 72, ambos acusados de ter estuprado Gisèle Pelicot em Mazan.
Os dois homens têm em comum o fato de terem vivenciado infâncias marcadas pela violência doméstica. Mas, adultos, tinham uma vida aparentemente normal. Nos próximos dias, os dois devem ser questionados sobre o que os levou a aceitar as propostas de Dominique Pelicot e não estranhar a falta de reação de sua vítima.
O julgamento dos estupros de Mazan foi retomado nesta quarta-feira com o objetivo de examinar as personalidades dos 51 réus, mas Dominique Pelicot, marido de Gisèle e principal acusado, está doente e foi dispensado da audiência pelo terceiro dia consecutivo.
O acusado não parecia bem na manhã desta quarta-feira no tribunal, segurando a cabeça entre as mãos. "Fisicamente, ele está lá, mas não sei se poderá acompanhar o processo", disse sua advogada Béatrice Zavarro no início da audiência, antes de seu cliente ser autorizado pelo presidente do tribunal criminal de Vaucluse, Roger Arata, a deixar o local.
"É essencial que ele esteja em condições de comparecer", confirmou um dos advogados das partes civis, Stéphane Babonneau, diante da família de Gisèle.
O tribunal ainda aguarda o resultado da perícia, que determinará quais serão as próximas etapas do julgamento. Os 51 réus, acusados de estupro qualificado, podem pegar até 20 anos de prisão. Se estiver em condições físicas, Dominique Pelicot poderá ser ouvido nesta quinta-feira.
Com informações da AFP