Brasileiro revela planos de Napoleão para invadir o Brasil: 'Mudaria a humanidade'
Os planos do imperador dos franceses poderiam ter mudado a história do novo mundo. No livro "O dia em que Napoleão quis invadir o Brasil", publicado pela Editora Vestígio, o historiador brasileiro Marco Morel revela 17 projetos de ataques franceses contra o território brasileiro, ainda colônia de Portugal.
Os planos secretos da França invadir o Brasil dormiam nos arquivos franceses há mais de 200 anos. Marco Morel, doutor em História pela Universidade Paris I (Panthéon-Sorbonne), aproveitou o período de isolamento na pandemia para pesquisar pela internet nas bibliotecas digitais francesas "de muito boa qualidade" e resgatar esses projetos, até então desconhecidos, que "estavam espalhados em diversos fundos".
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O primeiro plano data de 1796, antes da chegada de Napoleão Bonaparte ao poder como Cônsul e o último de 1808. Ao todo foram 12 anos de iniciativas frustradas, que nunca saíram do papel. Todas as propostas visavam de uma maneira ou de outra invadir e conquistar o Brasil, ou apenas regiões ou cidades brasileiras. Mas os objetivos eram diferentes.
O primeiro motivo desses planos é que a França, "expansionista, revolucionária e napoleônica", que disputava com a inimiga e monárquica Inglaterra o domínio mundial, "estava naquele momento definindo os rumos de sua expansão".
O segundo motivo era econômico. "O Brasil, que representava metade da América do Sul, tinha um potencial de riqueza muito grande, riquezas naturais, exploração de minério ou da agricultura", aponta o historiador e jornalista, autor de 14 livros.
Independência e abolição da escravidão
Mas questões políticas e ideológicas, importantes para a época, também embasavam esses projetos, sendo as principais delas a independência de Portugal e a escravidão. Marco Morel revela que "a ideia de querer liberar o Brasil da dominação portuguesa era na perspectiva de fazer o Brasil independente ou o Brasil que fosse colônia da França. Mas, em ambos os casos, tinha essa perspectiva de uma intervenção revolucionária".
A abolição da escravidão no Brasil é citada em pelo menos 4 desses projetos. "É uma coisa incrível, porque foi no período em que a França era abolicionista. Naturalmente, se o Brasil ou uma parte que o Brasil fosse incorporado à França seria também decretado a abolição, quer dizer, quase cem anos antes da Lei Áurea que aboliu a escravidão no Brasil (1888)", contextualiza o autor que também assina "A Revolução do Haiti e o Brasil escravista".
Motivos de insucesso
Alguns desses planos de invasão do Brasil chegaram a ter um parecer favorável ou pedidos de relatórios para explorar as possibilidades de êxito, mas nenhum deles chegou a ser implementado. Segundo o autor, foram vários os motivos desse insucesso.
Em primeiro lugar, as guerras europeias, as guerras de fronteiras (que) gastavam muita energia militar. Em segundo lugar, o temor da Inglaterra, que dominava os mares. O Napoleão se sentia inseguro de invadir o Brasil e com isso abrir o flanco para Inglaterra. Em terceiro lugar, houve a Revolução Haitiana. Napoleão pretendia reconquistar a colônia de São Domingos (ex-Haiti), na América Central, e depois invadir o Brasil, só que foi derrotado no Haiti.
Em 1808, Napoleão Bonaparte acabou decidindo invadir Portugal, forçando a coroa portuguesa a se transferir para o Brasil, fato que acabou acelerando o processo de independência da colônia.
Mas, e se alguns desses planos tivesse dado certo, isso teria mudado o destino do Brasil ou de Napoleão Bonaparte, que perdeu o poder definitivamente em 1815, foi exiliado na Ilha de Santa Helena e morreu em 1821? Na opinião de Marco Morel, a invasão do Brasil pela França napoleônica teria mudado o destino da "humanidade".
"Naquele momento, o eixo de poder mundial iria se transferir para as Américas. Napoleão tinha essa intenção de um projeto de uma Império americano, que ia de uma parte do Canadá, Estados Unidos, México, América Central, passando pelo Brasil, até o Rio da Prata, na Argentina. Se o Napoleão tivesse atravessado o oceano e vindo para o Brasil, isso teria com certeza alterado o rumo da história. Talvez nem houvesse o Brasil como ele existe hoje. Esteve por um triz de acontecer, mas não aconteceu", conclui Marco Morel.