Moçambique apura votos de eleição presidencial sob tensão por possibilidade de violência política
Depois das eleições gerais na quarta-feira (9), Moçambique segue a apuração de votos nesta quinta-feira (10), à espera de resultados que poderão ser divulgados em até duas semanas. As eleições transcorreram em clima tenso, mas calmo. O líder da oposição, Venâncio Mondlane, já está reivindicando a vitória, assim como o partido governista Frelimo.
Com informações da enviada especial da RFI a Maputo, Carina Branco, e AFP
Na Escola Secundária Josina Machel, em Maputo, a mesa de votação onde o presidente Filipe Nyusi foi o primeiro a votar foi também pontual na hora prevista para o encerramento, às 18h locais (13h em Brasília) da quarta-feira, quando começou a apuração. No entanto, os eleitores ainda faziam fila na hora oficial de fechamento das seções e receberam senhas para votar caso tivessem chegado antes do horário limite.
No início da noite de quarta-feira, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique indicava, em comunicado, que a votação decorreu sem incidentes relevantes, depois de um dia de críticas dos partidos e candidatos da oposição sobre alegadas irregularidades, como impedimento de acesso às seções por parte de membros dos partidos e trocas de posição dos partidos nas cédulas de voto.
Iniciada a contagem, a publicação dos resultados da eleição presidencial pela CNE, caso não haja segundo turno, pode demorar até 15 dias. Depois, eles têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Nestas eleições gerais, os eleitores foram às urnas para escolher o presidente, os 250 deputados da Assembleia Nacional e os membros das assembleias provinciais e governadores de província.
Reivindicando vitória antecipada
"Esta manhã, devemos declarar nossa vitória em âmbito nacional", declarou no Facebook o carismático opositor Venâncio Mondlane, de 50 anos, que se destacou durante a campanha, convocando seus apoiadores a "ir às ruas" para "reivindicar e defender esta pátria".
Por outro lado, um observatório que se declara independente, mas que foi criado por partidários da Frelimo, circulou resultados parciais com menos de 5% dos votos apurados, nas quais o partido no poder aparece em primeiro lugar.
Essas eleições estão ocorrendo em um cenário econômico sombrio, enquanto os ataques jihadistas no norte continuam a frustrar as esperanças de exploração de depósitos de gás natural no Oceano Índico.
O projeto liderado pelo grupo TotalEnergies, inicialmente estimado em um investimento de US$ 20 bilhões (mais de R$ 110 bilhões), está paralisado desde 2021 em Moçambique, que continua sendo um dos países mais pobres do mundo.
A CNE, considerada pela oposição e por muitos observadores muito próxima do governo, havia alertado que a contagem dos votos poderia levar até 15 dias para ser finalizada. Mas resultados parciais já estão vazando e circulando nas redes sociais, com cada lado destacando resultados promissores.
Em várias seções eleitorais desse imenso país com 2.500 km de litoral no Oceano Índico, "Venancio", como é conhecido nas ruas o candidato de oposição, está à frente. O ex-apresentador de rádio e televisão continuou a campanha sozinho, após deixar o principal partido de oposição, Renamo, que ele não conseguiu liderar.
"As tendências iniciais mostram um confronto entre a Frelimo e Venâncio", confirma o pesquisador Borges Nhamirre. "Mas o que conta é o que a comissão eleitoral vai anunciar", com os resultados consolidados.
Possibilidade de violência política preocupa Moçambique
Em um país ainda assombrado por uma guerra civil (1975-1992), que custou um milhão de vidas e só foi resolvida em 2019 por um acordo de paz final, a possibilidade de violência política preocupa muitos moçambicanos.
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Quero receberNo dia da votação, foram relatadas irregularidades: eleitores vistos com duas cédulas, outras pré-preenchidas a favor de Frelimo foram interceptadas, assessores da oposição na porta das seções eleitorais e seções eleitorais que fecharam apesar de as pessoas na fila insistirem que haviam chegado a tempo. Mas não houve registro de violência ou incidentes graves, de acordo com a CNE ou com os observadores.
"É principalmente agora que a fraude vai começar, com a divulgação gradual dos resultados", enfatizou um analista que insistiu em permanecer anônimo. "Se Venâncio mostrar uma liderança sólida, a situação se tornará tensa muito rapidamente", acrescentou.
Durante as eleições municipais do ano passado, a oposição denunciou "fraude". O presidente ainda no cargo, Filipe Nyusi, pediu na quarta-feira uma eleição "calma", solicitando a todos que evitem "anunciar os resultados antecipadamente".
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