Guerra entre Israel e Hamas pode significar fim da Organização para a Libertação da Palestina?
Mais de um ano se passou desde o início da guerra de Israel na Faixa de Gaza, que se estendeu ao Líbano. Enquanto a violência aumenta na Cisjordânia ocupada, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) parece muda ou, pelo menos, inaudível. O que resta desta organização, 60 anos após a sua criação e 50 depois de ter sido reconhecida como "representante legítima do povo palestino", inclusive por Israel, durante os Acordos de Oslo?
Anne Bernas, da RFI em Paris
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Há 50 anos, em 26 de outubro de 1974, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) foi reconhecida como "o único e legítimo representante do povo palestino" na 7ª Conferência da Cúpula da Liga Árabe, em Rabat, no Marrocos. Nesse mesmo ano, a OLP, que se comprometeu a abandonar a ação militar pela diplomacia e a política, obteve o estatuto de membro observador na ONU.
Dez anos após a criação da organização em Jerusalém, sob a proteção do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, ansioso por supervisionar a resistência palestina no exílio desde 1948, o povo palestino obteve uma plataforma oficial. A partir de então, conseguiu voz própria e se libertou da submissão a outros estados árabes que se revezaram, durante uma década, para usar a causa palestina em seu próprio benefício - o Egito, mas também a Síria e o Iraque, entre outros.
"Esses líderes eram autocratas, por isso não queriam deixar nenhuma liberdade, nenhuma margem de manobra ao povo. O fato de os próprios palestinos terem liderado a luta contra Israel poderia encorajar os povos árabes a lutar também contra os autocratas que os dominavam. Além disso, sempre exploraram a causa palestina em seu próprio interesse, não para libertar a Palestina", analisa o geógrafo francês Fabrice Balanche, especialista em Oriente Médio.
"Não deixe o ramo de oliveira cair da minha mão"
A OLP, composta por diversas organizações palestinas, incluindo a Fatah, a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) e a Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), todas seculares e nacionalistas, demonstrou desde o início o seu objetivo: representar os interesses dos palestinos e lutar pela criação de um Estado independente.
O icônico Yasser Arafat esteve à frente da organização desde 1969. "Hoje, vim carregando um ramo de oliveira e um rifle de combatente da liberdade. Não deixe o ramo de oliveira cair da minha mão. Repito: não deixem cair o ramo de oliveira da minha mão", proclamou "o Velho" - apelido carinhoso dado a Arafat pelos palestinos - durante seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU, em 13 de novembro de 1974.
A OLP tinha a intenção de criar um estado democrático na Palestina onde judeus, cristãos e muçulmanos vivessem juntos. A ONU reconhece o direito dos palestinos à "soberania e à independência nacional".
"A OLP tornou-se o 'território' dentro do qual se expressava a vontade nacional palestina, o consenso entre as numerosas sensibilidades políticas e ideológicas cimentadas pela ideia do Retorno à Palestina e pela necessária 'autonomia de decisão palestina'", escreveu o diplomata, embaixador e escritor palestino Elias Sanbar, em seu livro Dictionnaire amoureux de la Palestine (Dicionário do amor à Palestina, em tradução livre).
A causa palestina, que desapareceu da cena internacional durante décadas, principalmente desde a derrota árabe de 1967, na Guerra dos Seis Dias, estava de volta, e entrou pela porta principal das Nações Unidas, em 1974. O conflito, no final do qual Israel ocupou a Faixa de Gaza, Jerusalém Oriental e a Cisjordânia, levou ao enfraquecimento do nacionalismo árabe, mas também ao renascimento do nacionalismo palestino.
OLP enfraquecida
Mas a OLP foi considerada "moderada demais" por alguns palestinos e árabes e, em dezembro de 1987, a Intifada, a primeira revolta de palestinos do interior, deu origem ao movimento islâmico Hamas. Foi o fim do monopólio da OLP sobre o movimento palestino.
Ao contrário da organização, que pretendia prosseguir uma política de negociação com Israel, o movimento queria usar a violência. O Hamas não confia na via diplomática como alternativa e decide favorecer a resistência armada. Além disso, o apoio da OLP ao líder iraquiano Saddam Hussein durante a invasão do Kuwait desacreditou a organização aos olhos dos Estados que a financiaram.
"Mas o que permitiu à OLP chegar ao poder na Palestina, com a criação da Autoridade Palestina, foi, em última análise, a intervenção americana no Iraque", observa Fabrice Balanche. "Depois desta intervenção, em que países árabes como o Egito e a Síria participam na guerra contra Saddam Hussein, financiada pelos países do Golfo, a compensação foi encontrar uma solução para o problema palestino. A União Soviética entrou em colapso e os palestinos perderam o seu principal apoio diplomático e financeiro", explica o especialista.
Foi então que os Acordos de Oslo foram assinados em 1993, marcando a volta de Yasser Arafat à Palestina, após 27 anos de exílio. Um governo autônomo, a Autoridade Palestina, foi formado em Gaza e Arafat foi eleito presidente em 1996. A Cisjordânia foi dividida em três zonas, o direito de regresso e o estatuto de Jerusalém não foram mencionados.
"A única solução para que voltem à vanguarda da cena política é negociar com Israel e, portanto, é a partir de uma posição de fraqueza que a OLP assume a liderança da Autoridade Palestina e começa a negociar com Israel", continua o pesquisador. "Isto permitiu aos israelenses neutralizar qualquer crise futura e ter a legitimidade dada por Arafat, pelo menos entre a população palestina, para recriar este Estado remanescente, esta Autoridade Palestina remanescente que governava um quebra-cabeça na Cisjordânia."
O fracasso das discussões de Camp David em 2000 e a segunda Intifada, iniciada no mesmo ano, destruíram toda a esperança de paz e de criação de um Estado palestino.
Um estado palestino?
Setenta anos após a criação da OLP, liderada desde a morte de Yasser Arafat em 2004 por Mahmoud Abbas, o Estado palestino ainda não existe. Em 2007, após a vitória do Hamas nas eleições legislativas de 2006, a OLP foi expulsa da Faixa de Gaza e controlava apenas a Cisjordânia.
Atualmente, a organização - descreditada e acusada de clientelismo e corrupção - é formada apenas por pessoas idosas que não estão mais interessadas na ideia de criar um Estado palestino, mesmo que continuem a reivindicá-lo, além de cooperarem com os serviços de segurança israelenses. Além disso, a OLP não realiza eleições há oito anos.
"A OLP é uma agência que administra a Cisjordânia, mas é mantida à distância pelos israelenses, que precisam de um interlocutor", salienta Fabrice Balanche. "Mahmoud Abbas é totalmente corrupto, assim como todos ao seu redor. Eles sabem que a perspectiva de um Estado palestino está diminuindo, que o Hamas é cada vez mais popular na Cisjordânia. Os jovens aderem à OLP por razões muito clientelistas. É porque a OLP lhes proporciona trabalho, com a Autoridade Palestina."
O pesquisador menciona que Israel contribui para esse enfraquecimento da OLP, ao permitir e manter a corrupção da organização.
A guerra que começou em 7 de outubro será o golpe final para a OLP?
Nos protestos contra a guerra na Faixa de Gaza no ano passado, a bandeira da OLP esteve totalmente ausente. Em junho passado, na Jordânia, figuras da diáspora palestina fizeram um apelo a uma "reforma" da OLP, para dar à organização "um novo impulso".
Apesar de ser dependente do financiamento internacional, a organização "é o único interlocutor palestino, e os israelenses contam com ela para o pós-guerra em Gaza, tal como a comunidade internacional", nota Fabrice Balanche, porque não há "uma força árabe que entrará nesta confusão, nem uma força ocidental que se estabelecerá ali".
No dia seguinte ao anúncio da morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, em 16 de outubro, a OLP fez um apelo à "união" das facções palestinas contra Israel. "Isto é essencial para lutar com uma frente contra o plano israelense de deslocar o nosso povo da sua pátria, seja em Gaza ou na Cisjordânia, recriar os assentamentos em Gaza e expandir o confisco de terras e as demolições de casas em toda a Cisjordânia, especialmente em Jerusalém Oriental", disse.
O órgão também fez um apelo à união contra Israel, a fim de "recuperar todos os [seus] direitos", sobretudo o fim da ocupação e o estabelecimento de um Estado palestino que cubra todos os territórios ocupados, com base nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital eterna. E sem esquecer um dos primeiros objetivos defendidos pela OLP há 70 anos: o direito de regresso dos refugiados palestinos.
Eles são mais de 6 milhões hoje, distribuídos em 59 campos em três países (Líbano, Síria e Jordânia), e mais da metade em Gaza e na Cisjordânia.