Após três enchentes em um ano, cidade francesa ilustra o drama de deslocados climáticos
Em menos de um ano, os habitantes de um bairro da cidade francesa de Blendecques, no norte do país, enfrentaram nada menos do que três enchentes, concentradas no período do inverno no hemisfério norte. Diante de fenômenos extremos que se intensificam - uma realidade que não deve melhorar tão cedo, no contexto das mudanças climáticas -, o vilarejo finaliza as últimas etapas da evacuação definitiva da população que vivia às margens do rio Aa.
A revista Le Nouvel Obs desta semana acompanhou essa movimentação, que ilustra como a França auxilia os deslocados climáticos no país. "A natureza nos enviou um sinal claro: salvem-se, saiam daqui. Nós decidimos escutar", disse, resignado, um pai de família à publicação francesa. Com a sequência dramática de inundações, a família perdeu tudo - sobraram apenas a fachada da casa, onde Jean-François vivia desde a infância, e dois pés de oliveiras no quintal.
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Por enquanto, 10 residências serão destruídas e, no local, deve ser construída uma bacia de contenção de águas, "na esperança que este espaço, devolvido à natureza, proteja as casas que restaram", afirma a Nouvel Obs. Um mecanismo adotado há quase 20 anos já previa que o Estado compraria as residências ameaçadas por graves desastres naturais e cujo valor tenha depreciado mais de 50% devido a tragédias climáticas.
"Somos os primeiros deslocados climáticos da região. Infelizmente, acho que não seremos os únicos", testemunhou outro morador, Vincent, que compara o que vive a um luto. Nesta região francesa, seis a cada 10 localidades estão ameaçadas pelo aumento dos fenômenos extremos, ou 2,2 milhões de pessoas, salienta a revista.
Em todo o país, o Alto Conselho para o Clima, que assessora o gabinete do primeiro-ministro, estima que dois terços da população francesa está exposta ou altamente exposta a riscos climáticos. O de enchentes é o mais comum, indica Nouvel Obs: um a cada quatro franceses está sujeito a ser vítima de inundações.