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Qual será o custo da guerra comercial de Donald Trump contra a União Europeia?

07/11/2024 16h30

Uma guerra comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos poderá custar à Alemanha até € 180 bilhões até 2028, o equivalente a cerca de R$ 1,1 trilhão. Após a vitória do republicano Donald Trump nas eleições, a Federação da Indústria Alemã afirmou que "as relações transatlânticas estão à beira de uma mudança de era", no momento em que os Estados Unidos deveriam se tornar, ainda em 2024, o principal parceiro comercial da Alemanha, à frente da China.

O comércio internacional gera cerca da metade de toda a riqueza produzida (PIB) na Alemanha. A maior economia da Europa exporta carros, máquinas industriais e medicamentos para os Estados Unidos, entre outros produtos. 

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Durante a campanha à eleição presidencial, Trump anunciou que aumentaria as tarifas alfandegárias dos produtos importados, para pressionar as empresas a se reinstalar no território americano. Trump citou tarifas diferenciadas para os principais concorrentes. A União Europeia veria suas exportações para os EUA encarecerem de 10% a 20%, enquanto a China seria "punida" com 60% de custo adicional nos produtos chineses.

De acordo com cálculos feitos pelo Instituto de Economia de Colônia, se Trump aplicar um aumento de 10% nas tarifas de importação, e a União Europeia contra-atacar com medidas equivalentes, a Alemanha poderá registrar uma perda de PIB de mais de € 127 bilhões (R$ 778 bilhões) nos próximos quatro anos. Se a sobretaxa americana alcançar 20%, o custo para a economia alemã atingiria € 180 bilhtões (R$ 1,1 trilhão) no final de quatro anos de governo republicano; o PIB alemão encolheria 1,5% em relação ao seu valor atual. Os cálculos do instituto de Colônia se basearam em preços de 2020.

O retorno de Trump à Casa Branca acentuará as dificuldades do país num momento em que o modelo econômico alemão sofre as consequências do acirramento da concorrência internacional e da guerra na Ucrânia. Segundo o Instituto Econômico IfW, em Kiel, a vitória de Trump marca o início do momento econômico mais difícil da história da República Federal da Alemanha, devido à crise estrutural interna, aos desafios econômicos externos e à política de defesa, cenário para o qual o país não estaria preparado.

Além da indústria de máquinas e automobilística, as medidas protecionistas de Trump terão impacto no setor químico e na indústria farmacêutica europeia. Mas no caso dos remédios, com os pacientes impedidos de adiar as compras por muito tempo, o impacto nas vendas poderá ser relativamente pequeno, calculam analistas da UBS entrevistados pelo jornal francês Les Echos.

Crise política

Para agravar o cenário, a Alemanha entrou em uma grave crise política nesta semana por falta de consenso sobre o melhor caminho para superar essas dificuldades. A coalizão governamental formada pelos social-democratas do SPD, partido do chanceler Olaf Scholz, os Verdes e os liberais da sigla FDP desmoronou, devido às profundas divergências entre os social-democratas, partidários da recuperação da economia por meio dos gastos, e os liberais, que defendem os cortes e uma disciplina orçamentária severa. 

Scholz nomeou nesta quinta-feira (7) um novo ministro das Finanças após demitir o liberal Christian Lindner. O novo ministro, Jörg Kukies, 56 anos, é um assessor do chefe de governo e especialista em questões econômicas. Pelo segundo ano consecutivo, a Alemanha encerrará o ano em recessão. Com o fim da coalizão de governo, a oposição cristã-democrata (CDU), de direita, pressiona o governo a convocar eleições legislativas antecipadas. 

França tem más lembranças do primeiro governo Trump

Na França, a preocupação com a política protecionista de Trump versão 2025 é a mesma. Começa um período de incertezas para os setores automobilístico, de bebidas e vinhos, bem como para a indústria do luxo. 

Para dar um exemplo do nível de pressão que Trump exerce sobre os concorrentes, o grupo Stellantis, que reúne as marcas Peugeout, Citroen, DS, Fiat, Alfa Romeo, Jeep, Lancia, Maserati, Dodge e Opel, entre outras, estava inclinado a transferir parte da sua produção americana para o México, a fim de escapar dos aumentos salariais concedidos aos trabalhadores americanos sindicalizados no final de 2023. Trump ameaçou a Stellantis de rever o acordo de livre comércio com o vizinho, ou mesmo de aumentar para 100% os impostos de importação de automóveis importados do México, se o grupo automobilísticos americano-franco-italiano tomasse essa decisão.

O setor do luxo (LVMH, Kering, Hermès ou L'Oréal), que faz sucesso nos EUA, teme ser atingido pela sobretaxa "universal" às importações. Os produtos químicos, perfumes e cosméticos representam o segundo maior item de exportação da França para os Estados Unidos.

A eleição de Trump despertou más lembranças para a indústria de vinhos e bebidas. A sobretaxa de 25% aplicada às exportações francesas no primeiro mandato do republicano, de outubro de 2019 a junho de 2021, em retaliação a um litígio na época entre a Boeing e a Airbus, contribuiu para um déficit de € 450 milhões (R$ 2,7 bilhões) nas exportações francesas. O mercado americano é estratégico para este setor. O excedente da balança comercial agroalimentar francesa se baseia principalmente nas exportações de bebidas alcoólicas, como o conhaque, o rum e a vodka produzidos na França.

'Direito universal'

O principal receio dos industriais europeus é a criação de um "direito tarifário universal", que provavelmente afetará todos os países exportadores e todos os produtos. A União Europeia tem pouca chance de escapar dessa promessa de campanha de Trump. O republicano vê o bloco como "uma mini-China", cujas exportações para o mercado americano deveriam ser limitadas.

Assim como a Alemanha, a segunda economia da Europa atravessa uma crise financeira preocupante. A França acumula uma dívida de mais de € 3 trilhões (R$ 18,4 trilhões) e um déficit público de 6,1% do PIB em 2024. 

Por enquanto, a União Europeia não publicou cálculos precisos sobre o custo potencial de uma nova guerra comercial com os Estados Unidos sob a presidência de Trump. Os europeus se preparam para negociações  difíceis e buscam sublinhar a importância de reforçar a autonomia estratégica do bloco para enfrentar os novos desafios.

Criptomoedas

Além das incertezas sobre a economia real, durante a campanha Trump prometeu transformar os Estados Unidos na "capital mundial do bitcoin e das criptomoedas", com uma estrutura regulatória extremamente flexível. A cotação do bitcoin e de outras criptomoedas populares, como ether, ou a dogecoin", promovida por Elon Musk, proprietário do X, da Tesla e da SpaceX, dispararam com a vitória do republicano.

Embora tenha se apresentado inicialmente como um crítico dessas moedas, que ele mesmo descreveu como uma "fraude", Trump se tornou um de seus defensores e recentemente lançou sua própria plataforma para negociar criptomoedas.

A União Europeia também investe no desenvolvimento de moedas digitais, mas em posição bem mais cautelosa e menos competitiva do que a China e os Estados Unidos. O bloco tem sua própria regulamentação, denominada MiCA (Mercados em Criptoativos, em inglês), que busca garantir a rastreabilidade das transferências, para melhor detectar atividades ilícitas, incluindo lavagem de dinheiro, e proteger os investidores da alta volatilidade dessas moedas.

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