Em visita à França, premiê britânico espera reativar relações com a União Europeia
Emmanuel Macron e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, comemoraram, na segunda-feira (11), o 106º aniversário do Armistício de 1918, na avenida dos Champs-Élysées, em Paris. As relações entre o governo trabalhista, no poder há quatro meses, e a França, além da Europa, estão bastante complicadas.
A data marca o fim simbólico do conflito com a assinatura do Armistício de Compiègne entre aliados e o império alemão, uma vez que hostilidades continuaram em outras regiões, especialmente entre o império russo e partes do antigo Império Otomano.
A cerimônia em Paris também celebrou o 120º aniversário da "Entente cordiale", como é chamado o acordo entre a França e o Reino Unido, assinado em 8 de abril de 1904, que teve como objetivo resolver as disputas coloniais entre os dois países, considerados "inimigos hereditários" na época. Mas por trás do cerimonial, o Reino Unido tenta se aproximar da Europa.
Keir Starmer quer adotar uma abordagem construtiva e virar a página das antigas relações com a Europa, relata o correspondente da RFI no Reino Unido, Thomas Harms. O primeiro-ministro britânico deseja uma mudança de tom por parte dos europeus. Mas Bruxelas, por sua vez, aguarda para saber o que Londres quer da União Europeia.
Starmer se reuniu com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mas isso aconteceu três meses após ele ter assumido o cargo de chefe do governo, e dessa reunião não resultou nada de concreto.
Desde julho passado, o primeiro-ministro também não nomeou os trinta deputados britânicos que devem fazer parte do órgão interparlamentar Reino Unido-União Europeia. A parceria está adormecida há quatro meses, embora devesse zelar pelas boas relações e pela cooperação pós-Brexit.
Negociações bloqueadas
Nas negociações, também não há avanços. A União Europeia quer retomar o intercâmbio de estudantes entre a Europa e a Grã-Bretanha, como ocorria com o programa Erasmus antes do Brexit. Para Bruxelas, isso é uma condição prévia para qualquer outra discussão com Londres.
Mas Keir Starmer é contra o retorno da livre circulação de cidadãos europeus no Reino Unido, algo que, segundo ele, é um ponto não negociável. O bloqueio, portanto, é completo. Antes de falar sobre segurança externa, relações econômicas ou ajuda à Ucrânia, a clareza sobre a posição britânica se torna urgente.
Trump é ameaça
Essa urgência é ainda maior com a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o que torna essencial uma frente comum europeia, como lembraram diversos deputados britânicos. Com o retorno do bilionário à Casa Branca, britânicos e franceses têm a mesma opinião: os Estados Unidos não serão mais um parceiro confiável para nenhum país europeu. O objetivo, portanto, é planejar cenários desde já.
Londres e Paris consideram essencial continuar a apoiar a Ucrânia para proteger o continente europeu como um todo. A Europa, há quase três anos, é o principal fornecedor de ajuda à Ucrânia, com €$ 118 bilhões, enquanto os Estados Unidos forneceram € 85 bilhões, conforme o Instituto de Economia Global de Kiel.
Britânicos e franceses temem, portanto, ter de cobrir total ou parcialmente a ajuda americana. Keir Starmer afirmou várias vezes que o compromisso do Reino Unido com a Ucrânia, de uma colaboração de £ 3 bilhões por ano, será mantida, independentemente da abordagem do presidente americano.
No entanto, um recuo dos Estados Unidos, seja financeiro ou militar, será difícil de compensar, dizem os especialistas, especialmente no campo das armas de precisão, como os mísseis táticos. Portanto, é urgente elaborar planos para compartilhar os custos tanto para a Ucrânia quanto para a OTAN, diante de uma Rússia cada vez mais agressiva. O Reino Unido e a União Europeia devem iniciar muito em breve negociações sobre um pacto de segurança pós-Brexit.
Emmanuel Macron e Keir Starmer, por sua vez, reafirmaram "a determinação de apoiar (Kiev) de forma inabalável e pelo tempo necessário". Eles também reiteraram o desejo de "continuar seus esforços junto a todos os parceiros regionais e internacionais" para restaurar a paz no Oriente Médio e manter a cooperação nas "migrações no Canal da Mancha, especialmente no enfrentamento das redes de traficantes de seres humanos", acrescentou o Eliseu.
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