Comunicado do G20 sai antes da hora com defesa da tributação de bilionários e mensagem para Trump sobre clima
O comunicado final de líderes do G20, que esteve a perigo, acabou saindo antes mesmo do previsto. Com o apoio de última hora da Argentina, as 19 maiores economias do mundo, mais União Europeia (UE) e União Africana, apoiaram por consenso parte importante das prioridades da presidência brasileira do bloco. Uma delas foi a tributação de indivíduos com "patrimônio líquido ultra-alto", item comemorado pelo ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad.
Vivian Oswald, correspondente da RFI
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O comunicado final de líderes do G20, que esteve a perigo, acabou saindo antes mesmo do previsto. Com o apoio de última hora da Argentina, as 19 maiores economias do mundo, mais União Europeia (UE) e União Africana apoiaram por consenso parte importante das prioridades da presidência brasileira do bloco. Uma delas foi a tributação de indivíduos com "patrimônio líquido ultra-alto", item comemorado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Não há nada concreto e há a ressalva de que isso será feito de acordo com a legislação de cada país, mas é sinalização importante. O entendimento também fala em uma Coalizão para Produção Local e Regional, Inovação e Acesso Equitativo a vacinas, tratamentos terapêuticos e diagnósticos e outras tecnologias de saúde para doenças negligenciadas e pessoas em situações de vulnerabilidade.
No comunicado, os líderes reconhecem preocupação com o fato de que as perspectivas de crescimento global a médio e longo prazo estejam abaixo das médias históricas, mas veem boas perspectivas de uma aterrissagem suave da economia global, a despeito de múltiplos desafios que permanecem e do aumento de alguns riscos em meio a elevada incerteza.
Falaram no sofrimento humano e os impactos negativos da guerra e afirmaram o direito palestino à autodeterminação, reiterando o compromisso inabalável com a visão da solução de dois Estados, onde Israel e um Estado palestino vivem lado a lado, em paz, dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, consistentes com o direito internacional e resoluções relevantes da ONU. Especificamente em relação à guerra na Ucrânia, destacaram o sofrimento humano e os impactos negativos adicionais da guerra no que diz respeito à segurança alimentar e energética global, cadeias de suprimentos, estabilidade macrofinanceira, inflação e crescimento. Mas não tocaram no nome da Rússia.
Revolução digital
Outra questão cara ao Brasil foi incluída. O texto afirma que a digitalização do campo da informação e a evolução acelerada de novas tecnologias, como a inteligência artificial, impactaram dramaticamente a velocidade, a escala e o alcance da desinformação, o discurso de ódio e outras formas de danos online. Por isso, destacaram a necessidade de transparência e responsabilidade das plataformas digitais.
A dois meses da posse de Donald Trump, o comunicado teve direito a mensagem dirigida ao novo chefe da Casa Branca. Os países manifestaram forte compromisso com o multilateralismo, especialmente à luz do avanço alcançado no âmbito da UNFCCC e do Acordo de Paris e a determinação de que permaneçam unidos nos esforços para atingir os objetivos de longo prazo do Acordo. Fala em compreender e reconhecer não só a urgência como gravidade da mudança do clima. Trump, que já disse que a mudança do clima é uma farsa, ameaçou durante a campanha presidencial deixar novamente o acordo de Paris.
O comunicado foi visto como grande vitória do governo brasileiro, a despeito das condições cada vez mais difíceis da geopolítica.
Nesta terça-feira, será realizada a terceira e última sessão plenária da cúpula. O tema é desenvolvimento sustentável e transição energética. Em seguida, acontece a sessão de encerramento e transferência do comando do bloco à África do Sul. Ainda não está claro como (ou se) haverá foto de família. Ninguém quer sair na mesma imagem que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.