Antes da volta de Trump, diplomatas europeus e iranianos reúnem-se na Suíça
Diplomatas europeus e iranianos fizeram poucos progressos na retomada do diálogo nesta sexta-feira (29) em Genebra, sobre a possibilidade de iniciar conversas formais nas próximas semanas para acalmar as tensões na região, em especial a respeito do contestado programa nuclear de Teerã. As reuniões ocorrem menos de dois meses antes da volta de Donald Trump à Casa Branca.
Várias reuniões, as primeiras desde as eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 5 de novembro, aconteceram na cidade suíça e também abordaram as relações de Teerã com a Rússia. Há oito dias, o Conselho de Governadores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) adotou uma resolução aprovada pelos europeus criticando a falta de cooperação do Irã.
O ex-embaixador iraniano na AIEA, Kazem Gharibabadi, falou de uma "nova rodada de discussões francas com diplomatas franceses, alemães e britânicos". Segundo ele, em afirmação na rede social X, "ficou acordado continuar o diálogo diplomático num futuro próximo".
Um diplomata europeu disse que nada de novo resultou das reuniões, mas Teerã estava aberta a explorar caminhos diplomáticos nas próximas semanas. Majid Takhteravanchi, vice-ministro das Relações Exteriores do Irã e principal negociador da questão nuclear, reuniu-se na noite de quinta-feira com o coordenador da União Europeia, Enrique Mora, antes de continuar as reuniões na sexta-feira com os diplomatas dos três países europeus.
Nenhum dos países participantes forneceu detalhes sobre o programa das discussões, nem sobre o local exato onde ocorreram, ou especificaram quanto tempo duraram.
O chefe dos serviços de inteligência britânicos ressaltou a importância do encontro durante uma visita a Paris nesta sexta-feira. As ambições nucleares do Irã representam uma "ameaça para todos", avaliou Richard Moore. Na mesma linha, seu homólogo francês, Nicolas Lerner, considerou que a "possível proliferação nuclear no Irã" é "uma das ameaças, se não a ameaça mais crítica dos próximos meses".
Kazem Gharibabadi pediu para a União Europeia "abandonar seu comportamento egocêntrico e irresponsável diante dos problemas e desafios deste continente e das questões internacionais", afirmou no X o adjunto do chanceler iraniano, Abbas Araqchi.
Trump tirou EUA de acordo nuclear
As reuniões ocorreram sob grande discrição e em um contexto de fortes tensões entre Israel, de um lado, e Irã e seus aliados, do outro, e a menos de dois meses do retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos. Em seu primeiro mandato, o republicano foi muito duro com a República Islâmica e promoveu uma política de "pressão máxima" contra o país.
Foi dele a decisão de retirar os Estados Unidos do acordo alcançado em 2015 entre o Irã e seis potências mundiais, pelo qual a República Islâmica se comprometia a limitar seu programa nuclear em troca do levantamento das sanções.
Desde então, o Irã retomou o desenvolvimento de seu programa nuclear, que, segundo suas autoridades, tem fins pacíficos. No entanto, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) apontou que o Irã é o único país sem bomba nuclear que enriquece urânio a 60%, perto dos 90% necessários para fabricá-la.
Um relatório confidencial dessa agência, ao qual a AFP teve acesso nesta sexta-feira, confirma ainda que o Irã planeja instalar cerca de 6.000 novas centrífugas para enriquecer urânio em baixo nível.
Em uma entrevista publicada na quinta-feira pelo jornal britânico The Guardian, o chanceler Araqchi assegurou que o Irã não tem "intenções de ir além de 60% de enriquecimento de urânio no momento". Mas, "no Irã, está se debatendo, principalmente entre as elites (...) se deveríamos mudar nossa doutrina nuclear", já que até agora tem se mostrado "insuficiente na prática", acrescentou.
Esta insinuação provocou uma reação contundente do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que afirmou que fará "tudo o que for possível para impedir que o Irã se torne uma potência nuclear".
Com Reuters e AFP
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