Celebração de 40 anos do MST na França tem agenda de debates e oposição ao acordo EU-Mercosul

A celebração dos 40 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na França tem sido marcada por uma agenda intensa de debates e visitas em diversas regiões do país de uma delegação do movimento vinda especial do Brasil. Entre as representantes presentes está Nallyja Fernanda, integrante do Coletivo Nacional de Juventude e do Coletivo Nacional de Cultura do MST. Neste sábado (30), o Comitê dos Amigos na França homenageará a trajetória do movimento em um evento especial em Paris.

O evento de sábado marca não apenas os 40 anos do MST, mas também um reconhecimento pela longa parceria com o Comitê dos Amigos na França. "Essa é uma celebração de nossas conquistas e um compromisso com o futuro, reforçando a solidariedade internacional como instrumento de transformação social", diz Nallyja Fernanda.

A relação entre o MST e o Comitê dos Amigos na França remonta ao massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996. "A solidariedade nasceu em um contexto de repressão gigantesca, quando pessoas ao redor do mundo se sensibilizaram e quiseram apoiar o movimento. Desde então, essa relação se fortaleceu como um intercâmbio político e cultural", explicou Nallyja, que está na França acompanhada de Meriely Oliveira, líder do coletivo "Plano Nacional Plantar Arvores e Produzir Alimentos Saudáveis" no Estado da Bahia.

Durante sua passagem pela França, a delegação do MST visitou regiões que vão do norte ao sul do país, explorando a realidade de pequenos agricultores e práticas locais. "Temos aprendido com experiências de mecanização agrícola, produção coletiva e agricultura bio, que dialogam diretamente com a nossa matriz agroecológica", destacou a líder.

Oposição ao acordo União Europeia-Mercosul

A visita da delegação do MST foi programada durante todo o mês de novembro e coincidiu com uma série de manifestações dos agricultores franceses por todo o país contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, em discussão entre os dois blocos.

Durante o diálogo com os setores agrícolas franceses, as representantes do MST têm exposto o posicionamento do movimento contra o tratado que pode criar a maior área de livre comércio do mundo. Para Nallyja, o acordo favorece grandes multinacionais e o agronegócio, em detrimento dos pequenos agricultores e da soberania alimentar. "Esse tratado potencializa articulações do agronegócio e prejudica diretamente quem produz alimentos para a população, além de impactar negativamente o meio ambiente e reproduzir uma lógica colonialista", aponta a ativista.

Embora o governo brasileiro apoie o acordo, o MST se articula com a Via Campesina e outros movimentos internacionais para combatê-lo. "Entendemos que essa decisão responde a pressões da bancada ruralista, que representa 60% do parlamento brasileiro, mas seguimos firmes na defesa dos direitos conquistados e na luta por um modelo de produção sustentável e justo", defende Nallyja.

Interesse francês pelo MST

Entre os temas mais discutidos pelas representantes do MST com o público francês estão a organização interna do movimento brasileiro e suas estratégias de mobilização. "A capacidade do MST de organizar as massas é um modelo que interessa especialmente à esquerda francesa, em um contexto de avanço da extrema direita na Europa", diz Nallyja, citando a emblemática marcha de 1997, que reuniu 100 mil pessoas em Brasília.

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Outro ponto de destaque tem sido a agroecologia. Desde 2014, segundo a militante, o MST adotou essa matriz como base de sua produção, reforçando o compromisso com a soberania alimentar e a sustentabilidade. Ela lembra que "70% dos alimentos no Brasil vêm da agricultura familiar, enquanto o agronegócio exporta commodities. É fundamental politizar a questão alimentar e reafirmar o papel dos camponeses", defende. 

Diálogo com a juventude e construção de futuro

Além das celebrações, o intercâmbio com coletivos jovens na França tem sido central. "Nosso coletivo de Juventude existe desde 2005 e forma lideranças para as lutas do seu tempo histórico. Aqui, percebemos um desejo genuíno da juventude francesa de se organizar e construir ações concretas", comentou Nallyja.

Para ela, essa troca vai além das fronteiras culturais. "A solidariedade é uma ternura entre os povos. Compartilhar experiências e aprender com a realidade local nos fortalece na construção de um mundo mais justo e sustentável", conclui.

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