Defensor do acordo Mercosul-UE, ex-premiê português António Costa assume o Conselho Europeu
O ex-primeiro-ministro de Portugal António Costa assume oficialmente neste domingo (1º) a presidência do Conselho Europeu, que reúne os chefes de Estado e de Governo dos 27 países da União Europeia. Costa é um antigo defensor do acordo comercial entre o bloco e o Mercosul, que pode ter o procedimento de ratificação acelerado por iniciativa da Comissão Europeia.
Nesta sexta (29), o ex-primeiro-ministro socialista português sucedeu no cargo o belga Charles Michel, cuja saída é vista com alívio em Bruxelas. Michel não escondia as desavenças com a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, outra entusiasta do acordo e com quem Costa têm uma boa relação.
Relacionadas
Aos 63 anos, o ex-premiê é um político experiente, conhecido por ser um bom negociador e pragmático, mas sem querer buscar os holofotes. O ex-primeiro-ministro já provou ser capaz de conduzir negociações delicadas e de transformar os seus reveses em oportunidades, após pedir demissão há pouco mais de um ano, depois de ter seu nome citado em um caso de corrupção em Portugal. Ouvido pela Justiça no final de maio, a seu pedido, Costa não foi acusado.
Os próximos Conselhos Europeus sob o seu comando já terão temas espinhosos pela frente: a volta de Donald Trump à Casa Branca, nos Estados Unidos, as recentes eleições sob influência russa na Romênia e na Geórgia, e o futuro da guerra na Ucrânia, além do próprio acordo comercial com o Mercosul. Van der Leyen busca acelerar a aprovação do tratado, mas a França mantém oposição ferrenha ao texto, por temer a entrada de produtos agropecuários mais competitivos no bloco europeu.
Quando estava no poder em Portugal, Costa declarou que seu país era "o melhor advogado do acordo entre o Mercosul e a União Europeia". No ano passado, ao receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Lisboa, ele disse que "se empenharia" para que o tratado fosse ratificado.
À frente do Conselho Europeu, sua função será mediar posições conflitantes entre os países sobre as mais diversas temáticas, em busca de consensos. "Ele vê o seu papel como de construtor de união entre os líderes", explicam as pessoas ao seu redor. "Ele quer ser menos um showman e mais um facilitador", garante um diplomata europeu.
Presidente da delegação parlamentar para o Brasil defende acordo
No Legislativo do bloco, também é um português que preside a delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Brasil. O eurodeputado do Partido Social Democrata Hélder Sousa Silva tem atuado para promover o acordo entre o bloco e o Mercosul.
"Nós temos neste momento uma grande oportunidade: com o fechamento de fronteiras e o presidente eleito nos Estados Unidos, Donald Trump, a dizer que vai impor maiores restrições e taxas alfandegárias a produtos da União Europeia, temos que encontrar novos parceiros. Esses novos parceiros, entre outras localizações geográficas do mundo, estão claramente na área do Mercosul", argumentou Sousa Silva, em entrevista à redação lusófona da RFI. "Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai são um potencial em termos econômicos que não podemos ignorar. E, por isso, este é o caminho", frisou.
O parlamentar explicou que, apesar da rejeição dos agricultores da França e outros países, como Itália, Áustria e Irlanda, o acordo segue vantajoso para o bloco europeu em outras áreas. "Eu direi as novas tecnologias, ligadas à cibersegurança, à segurança, aos transportes, às variadas indústrias. Só quem não conhece o Brasil, e muitos europeus não o conhecem, pensa que o Brasil é pouco avançado, para não dizer outra palavra. O Brasil está na ponta e no topo dos melhores desenvolvimentos que se fazem a nível internacional", mencionou o eurodeputado, ao citar o exemplo dos aviões da Embraer produzidos em Portugal.
Leia tambémGoverno francês obtém vitória parcial com oposição de deputados e da Polônia ao acordo Mercosul-UE
Costa quer tornar o conselho mais dinâmico
O novo presidente do Conselho Europeu, António Costa, surge com novas ideias para tornar as reuniões dos 27 líderes da União Europeia mais eficazes: segundo o site Politico, ele quer, por exemplo, que o conselho se concentre primeiro nas discussões estratégicas e que as cúpulas não durem mais de 24 horas. Na sua nova função de moderador de líderes tão diversos, ele deve poder contar com a sua paciência: montar quebra-cabeças é o seu passatempo preferido.
Aquele que prometeu "se tornar o presidente de todos os membros do Conselho Europeu" já percorreu quase todas as capitais da UE para conversar com os chefes de Estado e de Governo e aperfeiçoar o seu método. Apenas Bucareste e Sófia, em processo eleitoral, ainda não foram consultadas.
Nascido em 17 de julho de 1961 em Lisboa, António Costa é formado em Direito e Ciência Política e foi ministro da Justiça de António Guterres, atual secretário-geral da ONU. Seu pragmatismo permitiu-lhe estender sua influência para além da esquerda, como em 2020, quando visitou o primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orbán, e ajudou a convencê-lo a não bloquear o plano de recuperação europeu pós-Covid, crucial para a economia de Portugal.
RFI com informações da AFP