Imprensa francesa critica visita de Macron à Catedral Notre-Dame antes de reabertura oficial

Após cinco anos de reformas, como havia prometido, o presidente francês, Emmanuel Macron, visitou na manhã desta sexta-feira (29) as obras de restauração da Catedral Notre-Dame de Paris, parcialmente devastada por um incêndio ocorrido em 15 de abril de 2019. O jornal Libération critica o que chamou de "encenação" do chefe de Estado, faltando uma semana para a reinauguração oficial da igreja. 

A edição impressa do Libération chegou às bancas com uma imagem de capa irônica. Em uma montagem fotográfica, Macron aparece vestido de santo, com uma auréola na cabeça, sob a manchete: "Sozinho no palco".

O veículo afirma que o presidente francês quis atrair os holofotes para si mesmo, num momento em que é visado por pedidos de demissão do cargo e perdeu prestígio no país e no exterior. "Ele vê na reabertura da catedral, no início de dezembro, uma oportunidade para dourar a sua imagem e se gabar do sucesso da sua aposta" de reconstruir a igreja em cinco anos. 

Com a popularidade em queda livre, Macron passou mais de duas horas na catedral. As imagens foram transmitidas ao vivo pelo canal 2 da TV francesa. Ele estava acompanhado da primeira-dama, Brigitte Macron, da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, da ministra da Cultura, Rachida Dati, e da presidente da região de Île-de-France, Valérie Pécresse. O arcebispo de Paris, Laurent Ulrich, o presidente do estabelecimento público Reconstruir Notre-Dame de Paris, Philippe Jost, e monsenhor Olivier Ribadeau Dumas recepcionaram o grupo de autoridades.

O Palácio do Eliseu afirma que o objetivo da visita, a sétima que Macron realizou desde o início das obras, foi homenagear os 2 mil artesãos e restauradores que trabalharam na reconstrução da catedral. Mas para o Libération, as imagens da catedral gótica magnificamente restaurada foram instrumentalizadas por um presidente no ostracismo. 

Bilionários franceses lideram as doações

O Libération recorda que os principais empresários franceses fizeram doações robustas para viabilizar o projeto. "A maior parte dos € 846 milhões arrecadados (cerca de R$ 5,4 bilhões) provém de grandes fortunas", aponta o veículo. 

Ao todo, mais de 338.000 pessoas fizeram doações depois do incêndio, mas dois bilionários lideram a lista de "campeões do cheque", sublinha o jornal: o empresário Bernard Arnault e seu grupo de luxo LVMH (das marcas Louis Vuitton, Dior e Sephora), bem como a família Bettencourt Meyers, da L'Oréal. "Cada um contribuiu com € 200 milhões, quase a metade dos recursos arrecadados", destaca o Libération

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Outros doadores de peso mencionados pelo jornal são a família Pinault, que detém o segundo maior conglomerado de luxo do país, o grupo petrolífero Total - "com € 100 milhões cada um" - e outras dez empresas das áreas de construção civil, telecomunicações e publicidade.

Le Figaro antecipou uma parte das homenagens que Macron faria aos artesãos e restauradores que trabalharam no local. O diário conservador foi mais condescendente com o presidente da República e exaltou a mobilização de profissionais especializados na proteção do patrimônio, "um orgulho para o país". 

Durante a visita a cada área da catedral, Macron ouviu explicações dos envolvidos nas obras. Assim, na estrutura do telhado, que havia queimado e foi reconstituída com vigas de madeira provenientes de 1.260 árvores de várias regiões francesas, Macron ouviu relatos de arquitetos e carpinteiros sobre as técnicas medievais que utilizaram. O presidente também foi informado sobre o novo sistema de combate a incêndios instalado na igreja. 

Na capela de Saint-Marcel, uma restauradora de decoração, acompanhada por outros 12 profissionais, mostrou como as cores das paredes foram refeitas. No auge da visita, o arcebispo de Paris apresentou o relicário contemporâneo, que abriga a coroa de espinhos de Jesus Cristo.

A Catedral Notre-Dame de Paris será oficialmente reinaugurada no fim de semana de 7 e 8 de dezembro pelo arcebispo da capital. A programação inclui uma série de eventos litúrgicos, entre eles uma missa, no domingo, para 2.000 convidados.

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