Geórgia: polícia reprime manifestação pró-Europa pela segunda noite consecutiva
Pela segunda noite consecutiva, tropas de choque da polícia georgiana usou gás lacrimogêneo e canhões de água contra milhares de manifestantes pró-europeus reunidos em Tbilis, na sexta-feira (29), em protesto contra a decisão do governo de adiar as negociações de integração com a União Europeia. De acordo com a polícia, 107 manifestantes foram detidos durante a manifestação.
Milhares de pessoas se reuniram em frente ao Parlamento, no centro de Tbilisi, por convocação da oposição pró-europeia, após a prisão de cerca de 40 manifestantes na noite anterior, depois de uma dispersão violenta do protesto.
O medo está presente, mas os manifestantes decidiram superá-lo, como Gvantsa, estudante de medicina, que testemunhou ao correspondente da RFI em Tbilisi, Régis Gente: "O governo está roubando o meu futuro, e por isso estou aqui esta noite. Fico preocupada que meu futuro não seja europeu. Eu acho que isso vai acabar em violência, eu sei, mas quase sempre estou aqui quando há uma manifestação."
Gvantsa estava certa: às 23h de sexta-feira, as forças de segurança começaram a se mover, como na noite anterior. A polícia novamente usou gás lacrimogêneo e canhões de água contra os manifestantes, que, por sua vez, jogavam ovos e lançavam fogos de artifício.
O governo anunciou neste sábado que 107 pessoas foram presas no segundo dia de manifestações. O Ministério do Interior informou que as detenções ocorreram por "desobediência às ordens da polícia" e por "atos de vandalismo".
Uma jornalista hospitalizada
A emissora de televisão independente Pirveli informou que uma de suas jornalistas foi hospitalizada com ferimentos graves após ser agredida pela polícia, junto com seu cinegrafista, de acordo com a AFP. O Ministério do Interior, por sua vez, afirmou que dois de seus agentes foram feridos e que "medidas legais foram tomadas para acalmar a situação".
O governo, acusado de desvio autoritário pró-Rússia, desencadeou essa onda de mobilização ao anunciar, na quinta-feira (28), o adiamento até 2028 de qualquer negociação de integração europeia. A presidente Salomé Zourabichvili, embora com poderes limitados, expressou seu apoio: "Permaneceremos unidos até que a Geórgia alcance seus objetivos: voltar ao caminho europeu."
Na noite de quinta-feira e na manhã de sexta-feira, a polícia disparou balas de borracha e usou gás lacrimogêneo e canhões de água, atingindo manifestantes e jornalistas em frente ao Parlamento. Em resposta, os manifestantes ergueram barricadas e as incendiaram. De acordo com o Ministério do Interior, "43 pessoas foram presas" na noite de quinta-feira para sexta-feira. Segundo o ministério, 32 policiais ficaram feridos "como resultado das ações ilegais e violentas dos manifestantes".
"Repressões brutais"
O Conselho da Europa condenou a "repressão brutal das manifestações" em Tbilisi, também expressando preocupação com a decisão do governo georgiano de suspender suas negociações com a UE. A Anistia Internacional denunciou uma tentativa de "suprimir toda dissidência através do uso ilegal da força policial."
A Ucrânia, que também viveu uma revolução pró-europeia em 2014, depois que as autoridades tentaram, sob pressão de Moscou, suspender o estreitamento com a UE, denunciou o "uso da força" e a "limitação dos processos democráticos", alegando que essas ações foram feitas "para agradar a Moscou".
Na quinta-feira, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução rejeitando os resultados das eleições legislativas georgianas, denunciando "irregularidades significativas". O Parlamento pediu uma nova eleição sob supervisão internacional dentro de um ano e pediu sanções contra altos funcionários, incluindo Irakli Kobakhidze, presidente do partido Sonho Georgiano.
A França pediu o "respeito ao direito de se manifestar pacificamente" e reafirmou seu apoio às "aspirações europeias" da Geórgia, que considera "não devem ser traídas".
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