Alemanha faz novo apelo à Comissão Europeia para fechar acordo com o Mercosul
A Alemanha aumenta a pressão pelo fechamento de um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Nesta terça-feira (3), a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, afirmou ser "essencial" que a Comissão Europeia finalize o acordo esta semana. A declaração foi feita às vésperas de um encontro de cúpula do Mercosul no Uruguai.
Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim
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O apelo da ministra das Relações Exteriores alemã foi dirigido à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. A declaração foi feita em Bruxelas durante um encontro da Otan. Ela disse também que considera a cúpula do Mercosul, que acontece nesta quinta e sexta-feira no Uruguai, "do ponto de vista alemão, provavelmente a última oportunidade".
Annalena Baerbock citou nominalmente a presidente da Comissão Europeia, que também é alemã, dizendo que Von der Leyen tem pleno poder para concluir o acordo politicamente e que, na opinião do governo alemão, ela deve usar esse poder.
Mas a participação de Ursula von der Leyen na cúpula no Uruguai não é certa. Segundo uma porta-voz da Comissão Europeia, a agenda da presidente da UE não tem prevista, "no momento", uma ida ao encontro em Montevidéu. E isso colocaria em dúvida a possibilidade do anúncio da conclusão do acordo comercial, que vem sendo negociado já há 25 anos.
Interesse especial na conclusão das negociações
A Alemanha, assim como países como a Espanha e Portugal, está entre os maiores interessados em que o pacto entre EU e Mercosul vire realidade.
A declaração da ministra alemã não é o primeiro apelo vindo de Berlim nesse sentido. O próprio chanceler alemão, Olaf Scholz, ressaltou várias vezes ser a favor de que o acordo seja selado quanto antes. Uma das últimas declarações públicas que o chefe de governo alemão fez quanto a isso foi a algumas semanas, durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro.
E esse interesse não é para menos. A maior economia europeia atravessa um período de crise, não só política como econômica. O país está se preparando para eleições antecipadas em 23 de fevereiro, depois do colapso da coalizão de governo, e atravessa uma época de recessão, com o Produto Interno Bruto (PIB) no negativo desde o ano passado. Depois que o PIB encolheu 0,3% em 2023, a previsão é que feche este ano com retração de 0,1%.
Uma das razões está na queda das exportações, que sempre foram o principal motor da economia alemã. Por isso, a criação do que seria a maior zona de livre comércio do mundo seria muito bem-vinda, possibilitando uma ampliação significativa dos mercados para as vendas alemãs.
Ao contrário da França e da Polônia, que se opõem ao acordo por preocupações do setor agrícola, a Alemanha aposta no pacto com os sul-americanos para alavancar sua indústria.
O país precisa do tratado, especialmente nesse momento em que as suas exportações estão sob pressão da concorrência da China e também com a ameaça de sobretaxações dos Estados Unidos com o início do próximo mandato de Donald Trump à frente da Casa Branca.
Especialistas ressaltam que a indústria transformadora, em segmentos como o automobilístico, o farmacêutico e a maquinaria, estão entre os setores europeus que mais ganharão com o acordo. E esses são pilares da indústria alemã e que, inclusive, estão enfrentando dificuldades atualmente.
A Volkswagen, por exemplo, maior montadora europeia, ameaça fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez em seus 87 anos de história para reduzir custos, diante da fraca demanda, altos custos de produção e da concorrência de rivais chineses.
Já o fabricante alemão de equipamentos Bosch é outro exemplo. A companhia, que produz muito para o setor automotivo, anunciou em novembro passado que prevê cortar mais de 5 mil postos de trabalho no mundo, principalmente na Alemanha.
Os países do Mercosul impõem tarifas entre 25% e 30% sobre os produtos clássicos de exportação alemães, não só carros, mas também sobre produtos de maquinário elétrico e mecânico. Um acordo de livre comércio proporcionaria um alívio grande para a indústria alemã.
Não só as montadoras, como a Volkswagen e a Daimler, mas também grandes empresas químicas alemãs, como a Basf e a Bayer, veem o acordo com o Mercosul como uma grande oportunidade de negócios.